Movimentos sociais, meio ambiente, mulheres e trabalhadores são as principais pautas da vereadora eleita Luiza Dulci (PT), que compartilhou suas prioridades em entrevista ao Estado de Minas na manhã desta terça-feira (19/11). Para a nova parlamentar, é essencial resgatar a essência do Partido dos Trabalhadores (PT), com ênfase na renovação e na adaptação aos desafios atuais.

 

 

Luiza é sobrinha de Luiz Dulci, ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência durante o governo Lula, e filha de Otávio Dulci (1948-2018), professor da UFMG e um dos fundadores do PT.

 

Idealizadora do movimento "Bem Viver", voltado à sustentabilidade na capital, Dulci tem na sua trajetória passagens pela administração pública federal, onde recentemente esteve na Secretaria-Geral da Presidência da República no governo Lula 3.

 



 

Em entrevista, a vereadora eleita relatou que sua militância política começou ainda no movimento estudantil. Ela explicou que sua decisão de se candidatar foi resultado de um processo de reflexão conjunta com outros militantes do partido. "Acho que é uma questão muito visceral que me toca profundamente. Em determinado momento, eu e um grupo de pessoas militantes do PT chegamos à conclusão de que iríamos lançar uma candidatura para dar continuidade aos projetos que acreditamos ou seguiríamos cada um pelo seu caminho no mercado de trabalho", contou Luiza.

 

Siga nosso canal no WhatsApp e receba em primeira mão notícias relevantes para o seu dia

 

A gente tem visto dentro do Partido dos Trabalhadores uma movimentação de renovação, com uma participação maior da juventude. Para você, sua eleição pode representar isso? 


Foi mais ou menos isso, sim. Estamos falando de um partido com mais de 40 anos, que foi fundado por uma geração jovem de militantes sociais e sindicais de várias origens. Mas, com o passar dos anos, houve uma certa cristalização, sobretudo nas direções partidárias. Circulando muito pelo país e conhecendo o PT como eu conheço, vejo que o partido tem muitos jovens, mas não vemos a possibilidade de candidaturas jovens que realmente tenham apoio e condições de se eleger.


Acredito que o PT precisa passar por uma renovação, assim como todos os partidos, todas as organizações e entidades. Podemos falar da própria universidade, das empresas. Acho que esse é um movimento necessário, mas eu penso na renovação com a ideia da renovação raiz. Renovação é uma palavra que pode ter muitos sentidos. Pode ser, inclusive, renovar jogando fora tudo o que tínhamos antes. Para mim, tenho muito respeito pela luta social e pelo PT como parte desse processo. Estou renovando, mas também tenho muito compromisso com nossos valores e nossas raízes.


Essa não foi sua primeira eleição. Em 2022, a senhora concorreu a deputada estadual. Agora, foi eleita com mais de 10 mil votos. O que atribuiu esse resultado?


Foi uma votação expressiva. Atribuo isso ao trabalho que já vínhamos fazendo há algum tempo e ao compromisso com a cidade. Foi um projeto com o qual muitas pessoas se identificaram e que viram a importância de ter uma pessoa como eu na Câmara, representando esse conjunto de ideias, com o conhecimento e a bagagem que trago agora. Também é fruto do compromisso de pessoas que queriam ver alguém como eu ocupando a Câmara dos Vereadores. Muitas vezes, vemos políticos que estão na Câmara, mas já mirando outros espaços, o que não quer dizer que outros espaços não sejam importantes. Mas a Câmara decide muito sobre a cidade e nossas vidas. Esse compromisso que apresentamos teve um reflexo. Muita gente quis aderir a esse projeto.

 

Para você, hoje, quais são os principais desafios de uma capital como Belo Horizonte? Quais você considera serem os principais problemas e como pretende abordá-los na Câmara Municipal?

Acho que os principais problemas passam pela desigualdade. Belo Horizonte é uma cidade rica e próspera, que poderia ser ainda mais, mas que, nos últimos anos, tem faltado um projeto político. Isso prejudica a população mais pobre, que fica subempregada, sem condições de circular pela cidade. Temos um dos transportes públicos mais caros entre as capitais, e você trouxe a questão da conurbação, que não afeta só o perímetro de Belo Horizonte, mas também a Região Metropolitana. Penso que BH deveria exercer um papel mais firme na liderança dessa região.

A prefeita de Contagem, Marília Campos, sempre traz esse debate, porque muitos dos problemas que vivemos aqui são compartilhados com outros municípios. Belo Horizonte, por ser uma cidade mais rica e próspera, tem o papel de ajudar. Por exemplo, uma pessoa que mora em Ribeirão das Neves paga muito mais por transporte para vir trabalhar em BH do que quem mora aqui. Quem mora mais distante deveria ter mais apoio para poder se locomover e exercer suas atividades.

BH, nesse sentido, é uma cidade com muita desigualdade em vários aspectos: entre quem tem condições de estudar e quem não tem; entre quem pode desfrutar de lazer e quem não pode; entre quem pode aproveitar os parques e a cultura e quem não pode. Falamos muito sobre a questão do corte de árvores em BH, mas se olharmos o mapa, veremos que a região mais arborizada é a Centro-Sul, enquanto as periferias não têm parques nem arborização. A qualidade de vida e a relação das pessoas com a natureza são muito precárias. Vejo que BH deveria ter um olhar mais amplo, mas priorizando as periferias e as pessoas mais pobres, talvez resgatando a ideia da inversão de prioridades que tivemos no início dos anos 90. É uma cidade que está aí, mas não tem um projeto que faça com que as pessoas se sintam parte dela, não tem uma identidade de Belo Horizonte, como tivemos no passado. Acho que esse é um problema grave. Muitas das iniciativas inovadoras e positivas que vemos em BH vêm da sociedade civil, mas acredito que não estão sendo acolhidas pelo poder público e pela prefeitura.

 

A senhora está falando sobre a ausência de projeto político, mas apoiou o prefeito Fuad Noman agora no segundo turno. Chegou a dialogar com ele sobre esse assunto? 


Eu apoiei com muita convicção, mas no contexto da eleição de segundo turno, onde precisávamos fazer uma escolha, e para mim, não foi uma escolha difícil de forma alguma. Inclusive, fizemos uma campanha para Belo Horizonte votar no Fuad, com o objetivo de manter algum tipo de diálogo, inclusive com a Câmara dos Vereadores, que acreditamos que seria mais respeitoso com o Fuad do que com o outro candidato, o Bruno Engler. Porém, essa crítica é algo que já fiz publicamente.

Ainda não tive a oportunidade de conversar com o prefeito sobre isso, mas o que vemos nos últimos anos são secretarias que têm projetos, mas não um projeto claro da prefeitura, que seja capaz de liderar e motivar a cidade. Estou falando também do setor privado e da sociedade civil como um todo. Acho que falta isso.

 

A senhora já pensou no primeiro projeto de lei que quer apresentar na Câmara?

 

Sim, estamos fazendo algumas discussões. Uma das ideias que gostaria de resgatar, e que foi muito forte no PT historicamente, é construir projetos coletivamente. Com certeza, teremos um projeto relacionado ao Bem Viver, mas ele não será o primeiro. Estamos analisando a possibilidade de colocar o direito à água e ao saneamento na Lei Orgânica de Belo Horizonte, em diálogo com trabalhadores da Copasa e militantes ambientais que trouxeram essa questão para a gente.

Temos alguns projetos que estamos construindo coletivamente e vamos analisar qual será o mais relevante para apresentar no primeiro dia.

 

compartilhe