BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A investigação da Polícia Federal aponta que o plano golpista preparado pelo general da reserva Mário Fernandes, que previa até a morte de Lula (PT) e do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes, foi colocado em prática após um encontro no Palácio do Planalto em 6 de dezembro de 2022, no fim do mandato de Jair Bolsonaro (PL).

 

A preparação durou nove dias e envolveu a compra de celulares descartáveis e monitoramento da localização de Moraes, segundo o relatório da PF.

 



 

A prisão do ministro do STF chegou a ser organizada para 15 de dezembro de 2022. A execução do plano acabou abortada na noite daquele dia, com militares do 1º Batalhão de Ações de Comandos do Exército, de Goiânia (GO), a postos para a execução do ataque em Brasília.

 

Segundo a PF, o planejamento operacional do golpe de Estado foi elaborado por Mário Fernandes poucos dias após o segundo turno das eleições presidenciais, nas quais Lula derrotou Bolsonaro. Um documento com os detalhes do plano foi impresso pelo general em uma impressora do Palácio do Planalto pela primeira vez em 9 de novembro de 2022.

 

 

O mesmo plano voltou a ser impresso pelo general às 18h09 de 6 de dezembro. No mesmo dia e hora, o major Rafael de Oliveira havia chegado ao Planalto após viagem de Goiânia, em encontro marcado com o tenente-coronel Mauro Cid.

 

A PF afirma que a coincidência do horário e do local permite criar indícios de que o plano do golpe de Mário Fernandes, chamado de "Punhal verde e amarelo", foi apresentado aos militares.

 

 

A suspeita é justificada pelos atos praticados por Rafael e outros militares nos dias seguintes. Isso porque o plano do general previa a participação de seis oficiais, e seu início envolveria a compra de celulares descartáveis para todos os envolvidos.

 

Já de volta a Goiânia, Rafael compra no dia seguinte à reunião um iPhone 12 novo, pago em dinheiro. Ele vinculou o telefone ao codinome Japão e, antes de usá-lo, fez uma formatação completa do telefone.

 

No mesmo dia 7 de dezembro, Mauro Cid começa a conversar com o coronel da reserva Marcelo Câmara, assessor de Bolsonaro, para monitorar a localização de Alexandre de Moraes.

 

"Ele vai ficar em Brasília hoje. Amanhã provavelmente [vai] para São Paulo final da tarde", escreveu Câmara em uma das mensagens.

 

 

No dia 8, os militares alvos da operação desta terça-feira (19) criaram um grupo no aplicativo de mensagens Signal chamado "Copa 2022". Cada pessoa no grupo usava um codinome em referência a países (Alemanha, Argentina, Áustria, Brasil, Gana e Japão).

 

"Denominado "Copa 2022", o grupo revela uma ousada sequência de ações realizadas por militares, nitidamente realizadas a partir de um planejamento minuciosamente elaborado", diz a PF no relatório.

 

No mesmo dia, às 17h, o general Mário Fernandes se reuniu com Bolsonaro no Palácio da Alvorada, segundo a PF. O encontro foi confirmado com a análise de registros da portaria, que comprovam que o general entrou na residência oficial da Presidência da República às 17h e deixou o local 40 minutos depois.

 

 

No dia seguinte, Bolsonaro rompeu semanas de silêncio e conversou com apoiadores que o esperavam em frente ao Palácio da Alvorada. Em fala dúbia, o então presidente disse que "tudo dará certo" em um "momento oportuno".

 

"Conheço o temor de um monte de vocês. Não é diferente do meu temor", disse Bolsonaro. "Todos nós aqui temos família, filhos, sobrinho, neto, e não podemos esperar chegar lá na frente e olhar pra trás e dizer ?o que eu não fiz lá atrás para chegarmos a essa situação de hoje em dia?."

 

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Em áudio enviado a Cid, Mário Fernandes comemorou a fala de Bolsonaro. "Meu amigo, muito bacana o presidente ter ido lá à frente ali do Alvorada e ter se pronunciado, cara. Que bacana que ele aceitou aí o nosso assessoramento. Porra, deu a cara pro público dele, pra galera que confia, acredita nele até a morte", disse.

 

Em 10 de dezembro, Mauro Cid e Marcelo Câmara trocaram novas mensagens sobre a localização de Alexandre de Moraes.

 

 

Três dias depois, o telefone de um dos militares do batalhão de Goiânia envolvido na trama golpista é flagrado por antenas de telecomunicações na Asa Sul, em Brasília, em região próxima à casa de Moraes.

 

Os demais militares envolvidos nos planos golpistas de Mário Fernandes chegaram em 15 de dezembro a Brasília. Nas conversas do grupo "Copa 2022", os militares dizem estar "na posição" e à espera de orientações sobre a hora de entrar em ação.

 

Segundo a PF, os militares planejavam o ataque contra Moraes nesse momento. Naquele dia, o ministro estava na sede do Supremo em julgamento sobre as emendas parlamentares - dias depois, o STF concluiu o caso e derrubou as emendas de relator.

 

 

As mensagens em que os militares diziam estar a postos foram enviadas às 20h33 do dia 15 de dezembro. Pouco mais de 15 minutos depois, o contato intitulado Áustria pergunta qual era a posição de Gana e pergunta: "Tô perto da posição, vai cancelar o jogo?" Um dos contatos, então, responde: "Abortar? Áustria.. volta para local de desembarque? estamos aqui ainda?"

 

Os militares seguem o diálogo com orientações para o cancelamento do plano. Eles chamaram esse momento de "tempo de exfiltração" - técnica militar realizada de modo sigiloso para retirar forças e material do interior de território inimigo.

 

A PF diz no relatório da investigação que o ápice da organização golpista em torno do plano ocorreu em 15 de dezembro, quando "possivelmente seria realizada a prisão/execução" de Moraes.

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