Líder comunitária da região do Barreiro, Helton Júnior (PSD), de 25 anos, é um dos mais jovens vereadores eleitos para a próxima legislatura da Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH). É também um dos poucos parlamentares negros – são apenas seis entre as 41 cadeiras a partir de 2025. Para ele, sua presença em um parlamento predominantemente branco é importante para mostrar que pessoas pretas podem ocupar espaço de poder.
Com forte presença nas redes sociais, Helton diz não se importar em ser chamado de “vereador tiktoker”, em referência à rede social onde predominam vídeos curtos e com cunho humorístico. Segundo ele, o político tem que estar onde o povo está. “E se ele está nas redes, é lá que a gente tem que estar”, disse ele em entrevista ao Estado de Minas.
O vereador eleito afirmou ainda que uma das tarefas às quais pretende se dedicar é o novo contrato de concessão do transporte público, que terá que ser revisto na próxima legislatura. Para ele, o documento deve ser debatido com os usuários e movimentos sociais e prever todas as possibilidades de problemas e avanços para que sua execução não seja engessada. Ele também é favorável à tarifa zero, mas afirma que ainda não há campo para sua aprovação geral, por isso defende que ela seja implantada de forma gradual.
Se autointitulando um “progressista de centro”, Helton ressaltou ter “total consciência” de que a sociedade precisa avançar em muitas pautas importantes para a sociedade, mas essas mudanças, avalia, têm que estar acompanhadas de viabilidade e não somente de discurso. “Não adianta nada fazer um discurso bonito se não consigo emplacar aquilo que eu estou defendendo”, declarou o parlamentar eleito, que promete ser um “vereador de resultados”.
O senhor é um dos seis vereadores negros eleitos entre os 41 integrantes da Câmara. Como vê essa baixa representação da população negra nos espaços de poder?
Acredito que o racismo é uma questão visual. As pessoas precisam ver pessoas pretas em posições de destaque, em posições de excelência, para compreender que elas podem ocupar qualquer posição. Então, o simples fato de termos uma pessoa preta ocupando a posição de vereador é muito importante. Acho que essa representatividade política de ter uma pessoa preta numa posição de destaque é muito relevante para que a gente desconstrua na cabeça das pessoas que as pessoas pretas são inferiores.
O senhor é militante do transporte público de qualidade e também usuário. Como pretende atuar para garantir mais qualidade nesse quesito?
O transporte público dialoga muito com minha história de vida, porque, desde muito novo, precisei sair de onde eu morava para poder estudar . E o transporte público não funcionava bem. (...) Há uma expectativa muito grande sobre o novo contrato de ônibus que vai ser firmado na próxima legislatura e como os vereadores têm a função constitucional de fiscalizar. O que pretendemos é ter uma fiscalização muito próxima em sua elaboração e também uma pesquisa sobre o transporte no geral, não só em Belo Horizonte como também no transporte metropolitano, para ver o que é possível melhorar. Pretendo fazer um trabalho de fiscalização atento e firme, não só no transporte de BH, como também no metropolitano.
Mas como fazer essa fiscalização sendo da base do prefeito reeleito Fuad Noman (PSD)?
A questão partidária não é um empecilho. O PSD foi onde encontrei terra fértil para construir o meu projeto. Quando falo terra fértil, falo de autonomia e liberdade. Quando me filiei, todo mundo sabia que a minha pauta principal era transporte. Eu já tinha me destacado na cidade várias vezes por falar de transporte. Então, não vamos amenizar as coisas por estar na base do prefeito. A gente está aqui para ser parceiro da prefeitura e ajudar a viabilizar as melhorias que a cidade precisa e isso implica uma fiscalização eficiente para mostrar para o Executivo o que não está funcionando para melhorar.
O senhor já pensou no que precisa melhorar no contrato de concessão do transporte público?
Um contrato público precisa prever o máximo de situações possíveis para que, quando acontecer alguma coisa inesperada, a gente não fique refém da discricionariedade do gestor. (...) Se não há previsão contratual, você não tem um ambiente de segurança jurídica. Então, queremos chamar os movimentos sociais e os usuários do transporte coletivo para ver o que eles querem, qual o caminho para ter uma previsão no contrato e a coisa poder avançar.
O senhor ficou muito conhecido pela sua atuação nas redes sociais, em vídeos que se tornaram virais. Incomoda quando as pessoas falam que o senhor é um vereador influenciador digital, um vereador “tiktoker”?
O político tem que estar onde o povo está. Se o povo está na rede social, é lá que a gente tem que estar também fazendo uma comunicação que funciona e que não precisa necessariamente ser séria, institucional. Ela tem que chegar nas pessoas. Pode ser através de vídeo curto bem-humorado. Se é assim que a gente vai conseguir chegar na população, é lá que vou estar, por isso não me incomoda de jeito nenhum ser chamado de influenciador, blogueirinho. Fico super de boa.
E a disputa pelo comando da Câmara Municipal. Como estão as articulações do PSD?
O prefeito Fuad já declarou que não vai intervir na presidência da Mesa, até porque são entidades diferentes. Prefeitura é uma coisa, Câmara Municipal é outra, Os vereadores têm que ter autonomia para poder trabalhar e definir quem vai ser o comandante do trabalhos. O que o PSD definiu é que vai resolver em bloco. Ainda não sabemos em quem vamos votar porque, normalmente, essas articulações acontecem no finalzinho do mês de dezembro, quando acredito que vai ter uma definição maior. Obviamente, o Juliano Lopes (vereador reeleito e até agora único candidato lançado) mostrou força, mas não tem nada definido. Eleição só acaba quando termina.
Qual o primeiro projeto que o senhor quer emplacar na Câmara Municipal?
Vai depender muito do contexto encontrado, porque se a gente apresenta um projeto e não é aprovado, é arquivado e não pode ser apresentado de novo na mesma legislatura. Teremos que avaliar. (...) Uma coisa que a gente apresentou e que pode ser que agrade todos os tipos de político que teremos ali é um projeto de proteção ao denunciante de corrupção, que vai também no âmbito da proteção da gestão pública. Não dá para você falar em ter um gestor público técnico sendo valorizado, se ele denuncia um processo de corrupção e não é protegido. Então, acho que esse é um dos projetos que tem talvez o perfil para transitar bem entre os dois lados, direita e centro.
Como o senhor pretende fazer essa composição com a extrema direita sendo uma pessoa progressista?
Eu pretendo trazer para a Câmara a discussão sobre o que a cidade precisa, sobre resultados. Ninguém lucra com um só discurso ideológico. O que for interessante para Belo Horizonte vai contar com meu apoio. Agora, o que for cortina de fumaça, o que for show para base ideológica, não me cabe. (Ana Mendonça)
ENTREVISTA/HELTON JÚNIOR
"Não vamos amenizar as coisas por estar na base do prefeito", diz vereador
Um dos mais jovens parlamentares eleitos em BH, Helton Júnior (PSD), líder comunitário do Barreiro, diz que uma das prioridades do seu mandato será o transporte