Passados quase dois meses desde que os belo-horizontinos foram às urnas para escolher seus representantes municipais, é natural que muitos eleitores já tenham deixado para trás a paisagem da capital mineira durante a campanha.
Entre agosto e outubro, a cidade foi inundada por anúncios, santinhos, banners e toda a série de propagandas de candidatos. Mesmo nas telas dos smartphones e computadores, bastava acessar uma rede social para se deparar com algum anúncio pago pelos postulantes ao poder.
Tudo isso, é claro, movimentou centenas de milhões de reais em transações que se provaram vantajosas apenas para uma pequena parte dos que tentaram conquistar uma das 41 cadeiras da Câmara de Vereadores.
Com as cifras já movimentadas e os cargos definidos, o Estado de Minas calculou "quanto custou" cada voto dos vereadores eleitos em Belo Horizonte, o valor desembolsado por partido para eleger seus parlamentares e também o quanto as campanhas malogradas gastaram pelos votos que não foram suficientes para eleger os candidatos. A partir dos dados disponibilizados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a reportagem dividiu a receita total obtida por postulante pelo número de votos obtidos.
Entre os 41 vereadores eleitos, a média é de R$ 28,11 arrecadados pelas campanhas para cada voto obtido. O voto "mais caro", ou seja, o maior resultado a partir da divisão da receita total pelo número de eleitores foi o de Marilda Portela, reeleita pelo PL à Câmara Municipal da capital.
Marilda Portela recebeu R$ 860 mil em sua empreitada pela recondução, sendo R$ 830 mil dos cofres do Partido Liberal, e obteve 6.279 votos. A relação, portanto, mostra que cada eleitor conquistado pela vereadora custou R$ 136,96.
Na sequência, aparece a novata Dra. Michelly Siqueira (PRD), com cada voto custando R$ 69,44 para a campanha. A lista dos 10 votos mais caros é completada por:
- Cláudio do Mundo Novo (PL), R$ 69,12;
- Janaina Cardoso (União Brasil), R$ 64,29;
- Edmar Branco (PCdoB), R$ 63,87;
- Professor Juliano Lopes (Podemos), R$ 58,86;
- Wanderley Porto (PRD), R$ 56,59;
- Pedro Patrus (PT), R$ 56,05;
- Juhlia Santos (PSOL), R$ 54,94;
- e Bruno Pedralva (PT), R$ 45,53.
Do outro lado da lista, entre os votos mais baratos, Arruda, novato eleito pelo Republicanos, tem a menor relação entre receita e eleitores, com cada escolha custando R$ 4,87 à campanha. A lista das 10 campanhas bem sucedidas menos dispendiosas segue com:
- Tileléo (PP), R$ 5,26;
- Neném da Farmácia (Mobiliza), R$ 7,55;
- Pablo Almeida (PL), R$ 7,56;
- Rudson Paixão (Solidariedade), R$ 7,88;
- Osvaldo Lopes (Republicanos), R$ 9,45;
- Cleiton Xavier (MDB), R$ 10,19;
- Uner Augusto (PL), R$ 10,36;
- Loíde Gonçalves (MDB), R$ 11,96;
- e Lucas Ganem (Podemos), R$ 13,98.
Siga nosso canal no WhatsApp e receba em primeira mão notícias relevantes para o seu dia
A lista dos "10 votos mais baratos" tem como integrante o vereador mais votado da história da cidade. Pablo Almeida foi escolhido por 39.960 eleitores com uma receita de R$ 302.080, sendo R$ 290 mil dos cofres do PL. Sob o rótulo de "candidato do Nikolas Ferreira", o bolsonarista surfou no sucesso do deputado federal e gastou R$ 64 mil, cerca de um quarto do orçamento total, em impulsionamento de conteúdos nas redes sociais.
Novatos e veteranos
A Câmara Municipal de Belo Horizonte em 2025 passará pela menor renovação das últimas quatro eleições, com 23 veteranos e 18 novatos. Para voltar ao parlamento da capital mineira, os vereadores precisaram gastar mais, com uma média de R$ 32,87 arrecadados pelas campanhas para cada eleitor conquistado, enquanto os eleitos pela primeira vez utilizaram, em média, R$ 21,62.
A discrepância se dá porque a média de votos dos dois grupos é próxima, com os reeleitos conseguindo 11.425 eleitores ante 10.694 dos novatos, mas os veteranos arrecadaram muito mais dinheiro, com as campanhas tendo R$ 375,4 mil de custo médio contra R$ 231,2 mil dos marinheiros de primeira viagem.
Enquanto o voto médio dos eleitos custa R$ 28,11, os suplentes quase dobram o valor, chegando a R$ 52,42 para cada eleitor conquistado. As campanhas frustradas também tiveram grandes investimentos e, obviamente, menos votos, o que aumenta a relação. Já os que sequer chegaram à lista da suplência têm o menor preço na relação entre verba arrecadada e resultado nas urnas, com cada escolha do eleitorado valendo R$ 21,77.
O baixo número de votos acaba por criar, entre os suplentes, algumas situações inusitadas como a de Dantas, candidato a vereador em BH pelo Republicanos que teve uma receita modesta de cerca de R$ 27 mil. No entanto, ele obteve apenas 11 votos que resultaram em uma conta salgada: R$ 2,4 mil para cada um dos eleitores conquistados.
Além de Dantas, outros seis nomes gastaram mais de mil reais por voto e ficaram na lista de suplentes. São eles:
- Olivia Campos (PCdoB), R$ 1.738,01;
- Pastor Rodrigo Soares (PSOL), R$ 1.621,60;
- Dan Carvalho (REDE), R$ 1.311,40;
- Sara Safira (PRD), R$ 1.237,08;
- Juliana Gallindo (PL), R$ 1.115,38;
- e Luiz Eduardo Dudu (PRD), R$ 1.073,36.
Na média, cada candidato que terminou a eleição como suplente teve 922 votos e as campanhas arrecadaram R$ 48,3 mil.
Partidos
O levantamento feito pelo Estado de Minas também filtrou os gastos médios dos partidos por voto para eleger vereadores na capital mineira. O União Brasil puxa a lista com R$ 64,29 por voto que fez a única parlamentar da legenda, Janaina Cardoso. Na segunda posição está o PCdoB, que também só teve um vereador eleito, Edmar Branco, com R$ 63,87 gastos por voto.
A lista segue com o PRD, que gastou R$ 61,89 por voto na eleição de seus dois vereadores. O PT vem na sequência gastando R$ 38,61 para cada eleitor que lhe rendeu quatro assentos na Câmara. A maior bancada partidária do Legislativo belo-horizontino, feita pelo PL, aparece na oitava posição da lista, com R$ 26,40 gastos em cada voto que elegeu os seis representantes da legenda do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Quando os custos por voto dos vereadores eleitos são somados aos gastos de campanha dos candidatos que terminaram o pleito na suplência, o PT assume a liderança com R$ 75,24 depositados para cada eleitor conquistado. Além dos quatro eleitos, o Partido dos Trabalhadores fez 25 suplentes. Na soma, todas as campanhas custaram R$ 6,2 milhões e renderam 82.850 votos. Estas cifras contabilizam o dinheiro oriundo do partido e as doações de terceiros.
PCdoB e PSDB completam o pódio do voto mais caro considerando eleitos e suplentes, com R$ 72,65 e R$ 65,59, respectivamente. Os tucanos não elegeram nenhum nome para a Câmara de BH neste ano.