Eleito no primeiro turno em Uberlândia, o atual vice-prefeito Paulo Sérgio (PP) vai assumir o posto deixado por Odelmo Leão (PP) e se tornar o administrador da segunda mais populosa cidade de Minas Gerais pelos próximos quatro anos. Nome forte da prefeitura durante os quatro mandatos de Leão, o agora prefeito prega a continuidade dos projetos, cobra investimentos dos governos federal e estadual e celebra o crescimento da cidade polo do Triângulo Mineiro.
Em entrevista ao EM Minas, programa da TV Alterosa, Estado de Minas e Portal Uai, Paulo Sérgio afirma estar comprometido com a dinâmica da economia local e garante término de todas as obras em andamento.
Apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e pelo governador Romeu Zema (Novo), o prefeito eleito prega ainda relacionamento pragmático com o governo do presidente Lula (PT). “Eu vou procurar o governo federal, sim. Uberlândia é a segunda maior cidade de Minas Gerais, nós merecemos e o governo federal tem obrigação de investir em nossa cidade”, disse Paulo Sérgio, que ainda falou sobre a ligação com Belo Horizonte, além de educação e infraestrutura em Uberlândia.
O senhor foi eleito com 52,16% dos votos, disputando com a candidata do PT e um candidato do PSDB. A margem foi apertada. O senhor perdeu muita noite de sono?
Olha, foi uma eleição difícil. Aliás, toda eleição é muito difícil. Eu participo de eleições já há alguns anos. Foi muito trabalhoso, mas fomos em um crescente; a população foi entendendo a nossa proposta de continuar um trabalho que está sendo feito em Uberlândia e de avançar. Conseguimos evoluir, graças a Deus e à compreensão do nosso eleitor, e fomos vencedores no primeiro turno.
O senhor fala em continuidade por ser o vice do prefeito Odelmo Leão...
Exatamente. Estou na administração municipal com o prefeito Odelmo há quatro mandatos, desde o primeiro dia do primeiro mandato. Fui secretário de Trânsito e Transportes, secretário de Desenvolvimento Econômico, depois fui diretor-geral do Departamento Municipal de Água e Esgoto, que inclusive é o melhor saneamento de Minas Gerais, e também nos últimos dois mandatos fui eleito vice-prefeito. Ajudei o prefeito Odelmo a administrar a cidade, então a população já está acostumada com o jeito e o governo Odelmo/Paulo Sérgio. Nossa mensagem foi levar as vantagens de ter continuidade no governo e poder ter avanços. Não vamos paralisar nenhuma obra, nenhum projeto, nós vamos dar continuidade a todos porque eu participei da elaboração de todos. Não temos que repensar nenhum projeto em desenvolvimento, não vamos perder tempo. Por exemplo, estamos construindo sete escolas na cidade e vamos colocar para funcionar no ano que vem. Começamos agora uma unidade de atendimento da saúde em um grande bairro da cidade, que é o Morumbi, e que vai ser a maior unidade de Uberlândia. E logicamente temos outras propostas para melhorar a qualidade de vida do nosso cidadão.
Além da continuidade de projetos, o senhor pretende deixar sua marca pessoal, uma identidade própria na nova gestão?
Com certeza. Uberlândia vive um novo momento, é a segunda maior cidade do estado de Minas Gerais, e nós acabamos de ser eleitos entre as quatro melhores cidades para se viver. Logicamente que, por termos participado dos quatro mandatos, temos uma marca do prefeito Odelmo, mas agora vamos estabelecer um novo momento do governo Paulo Sérgio. Estamos muito comprometidos com a dinâmica da cidade. Para se ter uma ideia, crescemos nos últimos 14 anos em 150 mil habitantes. Uberlândia foi a cidade em Minas Gerais que mais cresceu no período em população: hoje são 754 mil habitantes.
A que o senhor atribui esse crescimento?
A parte econômica da cidade é muito desenvolvida, e não é uma economia centralizada em uma só atividade. Temos, por exemplo, o agronegócio muito forte, temos a área de tecnologia muito desenvolvida com startups, temos um setor de logística, com atacados distribuidores, muito forte. Temos um setor de educação, uma universidade federal com 30 mil alunos e mais 15 faculdades particulares. E temos também a área de saúde que despontou. Hoje as pessoas não precisam sair de Uberlândia para fazer cirurgia em São Paulo ou Belo Horizonte. Uberlândia tem alta complexidade de cirurgias cardíacas, transplante de coração, de fígado, rim, tudo é feito na cidade mesmo. Temos o hospital municipal, que é o melhor hospital público do estado de Minas Gerais. Temos investido 35% do nosso orçamento na saúde, é muito expressivo e é a nossa maior preocupação.
E qual deve ser a marca principal da gestão? Qual é o primeiro projeto?
Em Uberlândia é tudo prioridade, mas eu pretendo investir muito em formação profissional, principalmente na questão de formar o jovem para essa nova economia. Nós queremos que Uberlândia cresça com qualidade de vida, e não adianta atrairmos negócios, empresas e indústrias que gerem emprego de salário mínimo. Muitas vezes, essa empresa que vai para a região gerar emprego de salário mínimo é melhor que fique nas cidades do entorno. Nós queremos empresas de alta tecnologia, o que exige profissionais com uma experiência maior; queremos empresas tecnologicamente avançadas. É por isso que investimos nas nossas escolas fundamentais, em robótica e programação. Eu pretendo ampliar muito o número de crianças atendidas nos cursos básicos de robótica, de informática, programação, e também oferecer cursos profissionalizantes nessa área, para criar um banco de pessoas bem qualificadas que vão trabalhar não só nas nossas empresas, mas vão poder também prestar serviço para o mundo todo.
Estamos falando de uma cidade com mais de 700 mil habitantes. Como é que se faz para garantir qualidade de vida para uma população tão grande?
Estamos entre as 27 maiores cidades do Brasil, a quarta melhor para se viver. Como se faz isso? Investimento pensando no médio e longo prazo. Logicamente, a educação é fundamental; no nosso ensino público, temos uma atuação muito rigorosa. Na parte do saneamento público, por exemplo, temos 100% de água tratada. Uberlândia talvez seja uma das únicas cidades no planeta que pode falar que tem água tratada e de boa qualidade para poder dobrar a sua população. Investimos em uma estação de tratamento de água, concluída há pouco – inclusive eu fui o responsável pela construção –, e agora temos água garantida até 2060.Temos 98% de esgoto tratado na cidade, e agora vamos dar muita ênfase ao tratamento de esgoto, porque já está chegando no gargalo. O segredo é investir em saneamento, investir em saúde pública. Investir em educação, mas educação que vai oferecer cursos para essa nova economia.
O transporte público é um problema em Uberlândia? Tem muita pressão, por exemplo, para tarifa zero?
O transporte público é um problema no Brasil, mas Uberlândia tem uma vantagem. Desde 1990, fizemos nosso plano diretor e implantamos o sistema tronco-alimentador, e temos o terminal central em que a pessoa paga só uma passagem. Uberlândia sempre foi modelo no transporte. Pelo menos nos nossos governos Odelmo e Paulo Sérgio, nós investimos muito em corredores exclusivos. Na América Latina, sempre visitavam Bogotá (Colômbia), Curitiba e Uberlândia como modelos de transporte.
E há novos projetos para a área?
Uma novidade que propusemos na campanha foi a tarifa zero para todos os estudantes. No nosso governo, estudantes da rede pública e da rede privada terão gratuidade. Hoje, os estudantes pagam R$ 900 mil por mês de tarifa, e nós vamos isentar. A prefeitura vai assumir, serão em torno de R$ 10 milhões por ano e já temos como remanejar na Secretaria de trânsito e Transportes esse recurso. Em janeiro, um dos primeiros atos será mandar para Câmara Municipal o projeto de lei para isentar os estudantes. Temos 71 mil alunos na rede pública municipal, e praticamente 100 mil alunos na rede estadual e nas universidades. São milhares de alunos, nem todos utilizam o transporte público, mas quem precisa e for estudante não pagará mais passagem. É um incentivo para o estudante, e também um incentivo para as famílias, que terão redução nos custos.
O senhor acha que a conexão com Belo Horizonte é boa? Temos, por exemplo, estrada duplicada para São Paulo, mas não tem para a capital.
Nossa ligação não é boa, infelizmente. Uberlândia é a segunda cidade de Minas em população e economia, e nós temos uma estrada horrorosa para Belo Horizonte. Uma estrada perigosa e cheia de acidentes, então, precisamos da duplicação para melhorar essa integração. Temos o segundo aeroporto mais movimentado no estado, com cerca de 1,2 milhão de passageiros por ano. Agora o aeroporto foi privatizado e a empresa que ganhou a licitação vai começar um grande investimento; vamos ter lá um terminal de cargas, um novo terminal de passageiros. Antes da pandemia, tínhamos 10 voos todos os dias de aviões de grande porte, 150 passageiros indo para São Paulo e voltando para Uberlândia, 10 voos todos lotados. Hoje ainda devemos ter de 8 a 10 voos. O nosso fluxo é muito grande, mas precisa ser ampliado. Precisamos integrar mais Uberlândia com Belo Horizonte, que é a nossa capital. Às vezes, estamos em Uberlândia e no Triângulo, falando que a região é rica, que não precisa do estado. Mas precisamos do investimento do estado de Minas Gerais, por isso buscamos essa parceria com o governador Romeu Zema (Novo), com o vice-governador Mateus Simões (Novo). Estamos propondo ter uma integração cada vez maior.
Recentemente Uberlândia teve problemas graves com a chuva. Algum projeto pensado para a área?
Sim. Temos um problema que não é de hoje, é de muitos anos. Quando chove muito acima do normal, a água transborda na Avenida Rondon Pacheco. É um córrego grande que passa ali e que foi canalizado. Infelizmente, o crescimento da cidade provoca isso, impermeabiliza o solo, a água corre na superfície e as redes não comportam. Fizemos um grande investimento agora, com projetos de quatro represas acima da avenida, que vão reter a água para postergar o escoamento. Acabamos em setembro uma grande represa dentro do Camaru, um centro de exposições em Uberlândia, e já está ajudando nessas chuvas. Temos três represas ainda para fazer, e nos comprometemos a dar continuidade a esse projeto, a médio e longo prazos. São grandes obras estruturantes para poder reduzir e até resolver o problema das inundações que afetam a Avenida Rondon Pacheco. O investimento na represa teve o recurso da própria prefeitura, mas são obras de mais de R$ 100 milhões as três, e precisamos de recursos do governo federal. Vamos trabalhar fortemente para que boa parte dessas obras sejam construídas nos próximos quatro anos.
O PL abriu mão de candidatura lá em Uberlândia. Como foi feita essa articulação?
Inicialmente, o PL tinha colocado o nome do deputado estadual (Cristiano) Caporezzo também como candidato a prefeito de Uberlândia. A pré-campanha começou e uma articulação entre o ex-presidente Bolsonaro (PL) e o prefeito Odelmo Leão possibilitou convencimento do deputado a abrir mão da candidatura e indicar o vice-prefeito na minha chapa. Foi uma aliança muito importante, e que nos ajudou a vencer as eleições no primeiro turno. Além do PL, tivemos o meu partido, liderado pelo prefeito Odelmo, tivemos o apoio do partido Novo, o governador Zema declarou apoio e nos comprometemos a trabalhar juntos durante os próximos quatro anos. Também tivemos apoio muito forte do deputado Arnaldo Silva, que lidera o União Brasil, apoio do Podemos e do DC (Democracia Cristã). Então, foi uma grande aliança com o objetivo de melhor estruturar as nossas propostas.
O senhor citou a necessidade de buscar recursos no governo federal. Como vai ser essa relação com o presidente Lula?
Vou procurar o governo federal, sim. Uberlândia é a segunda maior cidade de Minas Gerais, nós merecemos e o governo federal tem obrigação de investir em nossa cidade. Temos que ter projetos, e vamos procurar todos os nossos deputados federais para fazer esse trabalho, nos ajudar a trazer emendas para Uberlândia, independentemente de ser do partido A, B ou C. A eleição passou, agora vamos trabalhar para trazer verbas para educação, saúde, infraestrutura e desenvolvimento social. Vamos atrás também do governo do estado. O governador Zema nos apoiou e se comprometeu a fazer investimentos em Uberlândia. Precisamos de investimentos principalmente na segurança pública, aumentar nosso efetivo de policiais para ter postos policiais nos bairros. Vamos investir muito em tecnologia, temos investido muito na Polícia Militar, na Polícia Civil e na Polícia Federal, temos sempre uma parceria com as forças que já existem para cumprir esse papel.
Como se dá essa parceria?
Para se ter ideia, nos últimos sete anos e meio investimos R$ 85 milhões na segurança pública, por meio da Polícia Militar e da Polícia Civil, comprando equipamentos. Temos a proposta de construir na cidade um Centro Integrado de Inteligência e Segurança. Já temos um anel de segurança na cidade, mas vamos investir em câmeras nas entradas dos bairros e por toda a cidade, em todas as regiões comerciais. Câmeras inteligentes, que façam o reconhecimento facial para poder oferecer melhor segurança ao cidadão. O estado tem que cumprir a sua função, nós recolhemos impostos, o cidadão paga, e a Polícia Militar tem que aumentar o efetivo. Somos a segunda cidade de Minas e não temos policiais suficientes para poder fazer a nossa segurança.