O núcleo do governo Lula evitou reagir ao vídeo institucional em que a Marinha compara a vida dos brasileiros civis com a dos militares e questiona o discurso de que os fardados gozam de privilégios.
Em tempos normais, até por se chocar com o discurso público do governo e desafiar uma das vertentes do pacote de medidas anunciado pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda) para cortar gastos, seria natural haver uma reprimenda pública à iniciativa – na prática, um desaforo.
Mas, em meio à estressada relação com a caserna desde a transição e a posse de Lula, com evidências de que militares de alta patente estavam dispostos a aplicar um golpe de Estado, optou-se por, ao menos publicamente, não transformar a peça publicitária em uma nova frente de batalha.
Silêncio eloquente
No mesmo fim de semana em que o vídeo foi divulgado, o presidente Lula recebeu, fora de agenda, os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Um dos assuntos da conversa foi justamente o pacote fiscal.
Ao chegarmos em dezembro, homenageamos os Marinheiros e Fuzileiros, que abdicam de suas famílias e dos momentos de lazer para proteger as riquezas do Brasil no mar. #DiaDoMarinheiro #VemPraMarinha pic.twitter.com/ItibdCLh3j
— Marinha do Brasil (@marmilbr) December 1, 2024
O PlatôBR indagou tanto a Presidência da República quanto o Ministério da Defesa sobre eventuais pedidos de explicação à Marinha, mas extraoficialmente recebeu como resposta a sinalização de que não haveria manifestação oficial sobre o assunto.
Tiro no pé
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Sob reserva, integrantes do governo disseram que o vídeo foi uma espécie de tiro no pé, que não surtiu o efeito que, aparentemente, os autores da ideia desejavam. Pelo contrário, quem assistiu ficou contra a Marinha, observou um deles.
A reação pública mais eloquente de um personagem graduado ligado ao governo veio de fora – da presidente do PT, Gleisi Hoffmann. Nas redes sociais, ela classificou o vídeo como um "grave erro" e relacionou a peça às investigações sobre a tentativa de golpe.
"Grave que o vídeo ofensivo seja divulgado no momento em que um ex-comandante da Marinha é indiciado por participar do plano de golpe de Jair Bolsonaro", escreveu.
No rastro do pacote
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A peça de propaganda em comemoração ao Dia do Marinheiro foi divulgada no fim de semana, três dias depois do anúncio do pacote fiscal, que incluiu restrições a benefícios – entendidos como privilégios dentro e fora do governo – que hoje são concedidos à carreira militar.
O vídeo mostra civis se divertindo na praia, em festas, surfando, fazendo turismo e até jogando videogame em contraposição a imagens de militares em ação – e termina com uma marinheira fardada lançando o desafio: "Privilégio? Vem pra Marinha".