Com cerca de 430 mil habitantes, Montes Claros elegeu para os próximos quatro anos Guilherme Guimarães (União Brasil). Com discurso de continuidade na gestão, o prefeito eleito afirma que o momento é de preparar a “Montes Claros do Futuro”. Em entrevista ao EM Minas, programa da TV Alterosa em parceria com o Estado de Minas e o Portal UAI, o atual vice e sucessor de Humberto Souto (sem partido), destacou o crescimento da maior cidade do Norte de Minas.
O prefeito eleito elogiou o programa de asfaltamento dos últimos anos, além das mudanças na legislação urbanística. Segundo Guilherme Guimarães, cerca de 600 quilômetros de vias urbanas já foram modernizadas e o projeto agora chega às zonas rurais, mas o objetivo dos próximos anos é aproximar a população dos locais de trabalho.
“Essa é a Montes Claros existente, ao mesmo tempo em que preparamos a Montes Claros do futuro. Os novos loteamentos já têm uma característica diferente: ruas mais largas, adaptadas para receber ciclovias, ruas com canteiro central. À medida que as ruas ficam mais largas, elas já possuem uma vocação comercial. Nós entendemos que reduzir os deslocamentos é a vocação da cidade moderna”, disse Guilherme Guimarães ao EM Minas.
Como o senhor avalia o crescimento de Montes Claros nos últimos anos?
Montes Claros passou por vários processos, desde a sua origem como um grande entreposto comercial de trocas de animais, passando pela construção da estrada de ferro na década de 1920, pela Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste), que trouxe grandes indústrias, e, depois, pela era da educação com a Unimontes (Universidade Estadual de Montes Claros) e outras universidades.
Agora, passa por uma nova fase: uma cidade cada vez mais forte, sobretudo por ser um polo farmacêutico. Montes Claros está se transformando no principal polo farmacêutico da América Latina. E, sem dúvidas, continua sendo um grande ponto logístico, com seu aeroporto, com as rodovias que chegam e com a BR-135, que será duplicada. Vamos prepará-la para ser o principal polo logístico do país, porque ela articula as regiões Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste. Estamos em uma ótima posição.
A cidade se desenvolveu muito nos últimos oito anos. O prefeito Humberto Souto (sem partido) recebeu uma cidade totalmente destruída por gestões que não cuidaram dela. Nesses oito anos, eu, junto do prefeito, que garantiu a correta utilização dos recursos públicos, conseguimos transformar Montes Claros em uma cidade cada vez mais progressista.
Conseguimos pegar um orçamento de R$ 700 milhões por ano e transformá-lo em R$ 2,5 bilhões por ano, sem aumentar um imposto, apenas dando credibilidade à prefeitura, com as pessoas pagando o imposto de forma correta, pois sabem que o dinheiro que chega na prefeitura retorna em serviços e obras, mas, principalmente, na melhoria da qualidade de vida.
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Apesar de todas essas características positivas, como toda grande cidade tem suas mazelas, e uma delas é a saúde. O Hospital Municipal vai ser concluído?
Sem dúvidas. Nós percebemos que, por Montes Claros ser um polo regional, a maior cidade entre Belo Horizonte e Salvador (BA), hoje recebemos com muita satisfação pessoas que vêm de todos os lugares da região, do Norte de Minas até o Sul da Bahia. Nós recebemos e acolhemos todas as pessoas com muito prazer. A saúde é um ponto importante. Temos várias faculdades de medicina, inclusive na nossa Unimontes, onde o curso já é consagrado e estabilizado, e temos técnicos em enfermagem. Ou seja, é uma área da saúde muito bem estruturada.
Mas sabemos que, hoje, nós não temos um hospital municipal. Todos os grandes hospitais são privados e vivem de acordo com a sua vocação, seja na baixa complexidade ou na atenção primária, área na qual estamos muito estruturados. Nosso projeto, nos últimos 12 meses, foi fazer um estudo para ver qual a característica desse novo hospital. Será de 150 a 200 leitos, com 10 blocos cirúrgicos, mais especializados nas cirurgias eletivas. Não será um hospital porta aberta, ou seja, aquele que recebe urgências e emergências, porque isso os hospitais privados já atendem. Será, principalmente, para atender aquilo que a população mais precisa, que são as cirurgias eletivas.
Montes Claros hoje tem cerca de 430 mil habitantes. Como o senhor pretende lidar com essa questão do planejamento urbano e organizar o crescimento da cidade?
Como a maior parte das cidades do país, Montes Claros cresceu de acordo com a informalidade, ou seja, ruas sendo abertas sem um planejamento ou integração. Nos últimos oito anos, mudamos a legislação urbanística de Montes Claros e estamos corrigindo os passivos urbanísticos. Asfaltamos cerca de 600 quilômetros de vias, o que totaliza mais de 2.300 ruas e avenidas asfaltadas. Essas ruas eram de terra e sem drenagem, e a prefeitura se estruturou para corrigir o passivo, que está praticamente pronto. Com mais 200 ou 300 ruas, resolveremos a falta de pavimentação asfáltica na área urbana. Estamos avançando também para as comunidades rurais. Em cada distrito e lugarejo, estamos asfaltando cerca de 80 ruas, sempre ao redor da igreja e da escola.
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Nós entendemos que reduzir os deslocamentos é a vocação da cidade moderna. Antigamente, tinha-se a ideia de cidades setoriais, ou seja, separavam-se áreas residenciais, industriais e comerciais, o que obrigava as pessoas a fazerem grandes deslocamentos. O mundo mudou. Essa ideia de novos loteamentos com toda a infraestrutura de água, drenagem, rede de esgoto, iluminação inteligente e eficiente, mas, sobretudo, interagindo entre a atividade comercial e a atividade residencial, garante uma cidade mais moderna e com menor necessidade de deslocamento.
Montes Claros é uma cidade de altas temperaturas, até por sua localização. Como está a questão ambiental, os parques, as árvores nas ruas, vocês estão cuidando disso?
Quando assumimos, a cidade contava com três parques municipais, sendo que um estava praticamente fechado, o Parque Sapucaia, e outro, o Parque Municipal, estava bastante abandonado. Nesse período, além de recuperar esses dois parques, com iluminação, pista de caminhada e melhor infraestrutura, incluindo academias, já construímos 11 novos parques por toda a cidade. São parques com muitas árvores, pistas de caminhada e esculturas, de tal forma que melhoramos a condição climática e já estamos convivendo com esse novo aspecto das mudanças climáticas.
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Montes Claros está na porta do semiárido, com uma média de chuva razoável de 1.000mm por ano, mas, devido à sua localização, enfrenta altas temperaturas. Melhoramos muito a questão do bem-estar quando, junto com o governo do estado, foi construída a adutora do São Francisco. Antes de assumirmos, havia um grande racionamento de água. A adutora do São Francisco, que custou cerca de R$ 400 milhões, garantiu não só uma melhoria no bem-estar da população, mas também uma cidade com maior disponibilidade hídrica. Com isso, as pessoas podem ter uma vida melhor, e as indústrias voltaram a investir em Montes Claros. Portanto, os aspectos climáticos estão diretamente ligados à disponibilidade hídrica da nossa cidade.
Hoje, Montes Claros se tornou um polo farmacêutico gigante, mas como essa história começou e para onde ela vai?
A história em Montes Claros começou com a própria Novo Nordisk, com a antiga Biobras, produtora de insulina. Depois, ela foi adquirida pela Novo Nordisk, uma empresa dinamarquesa, a maior produtora de insulina do mundo que se instalou em Montes Claros. Já tínhamos uma empresa veterinária, que também pertence à área farmacêutica, e temos a Hipolabor, uma grande indústria farmacêutica mineira. Posteriormente, surgiu a oportunidade da Eurofarma, que hoje é a maior planta industrial em construção na América Latina, com cerca de R$ 2,5 bilhões sendo investidos em Montes Claros. Estamos prospectando mais indústrias farmacêuticas, com duas plantas prontas para se instalar na cidade. No entanto, precisamos nos preparar do ponto de vista da urbanização. Uma planta industrial exige um local amplo, uma área já urbanizada e com os insumos necessários, como energia e água. A própria Eurofarma está concluindo agora uma adutora que garantirá o fornecimento de água para a empresa.
Temos a fábrica de cimento que está sendo modernizada e foi recentemente adquirida pela CSN, a maior fábrica de cimentos do país. Temos também a fábrica de cafés em cápsulas Três Corações. Ou seja, temos um polo industrial diversificado, mas hoje percebemos que a vocação e o potencial de Montes Claros são, cada vez mais, voltados para a indústria farmacêutica. Com todas essas plantas funcionando, a cidade empregará cerca de 6 mil pessoas, sendo que aproximadamente 2.300 dessas vagas são de novos empregos. E aí está a nossa preocupação: investir na educação para que as pessoas que moram em Montes Claros possam se beneficiar desse investimento.
Montes Claros sofreu durante muito tempo com o estado das rodovias. A BR-135 foi duplicada, mas e as outras estradas? Como está a situação hoje?
Muito importante falar sobre isso. A BR-135 está sendo melhorada, e isso tem se mostrado efetivo, mas precisamos muito da duplicação da BR-251. Precisamos estar incluídos na concessão, para fazer com a 251 o que foi feito com a 135, porque Montes Claros, por ser o grande polo articulador, precisa disso – especialmente agora que a cidade vai ligar Brasília ao Norte de Minas. Sabemos que chegar ao Nordeste passando por Montes Claros é muito mais rápido do que pela BR-116 e a BR-101. Portanto, precisamos de uma ação eficaz tanto do governo do estado quanto do governo federal para duplicar a BR-251.
Tem faltado vontade política e decisão. Hoje, essa é a estrada que mais provoca mortes semanais, e é um absurdo termos que falar sobre isso. Este é o momento de lembrar que não é importante apenas para Minas Gerais, mas também para o Nordeste.
Como ficará a dedução dos gastos com saúde após as mudanças no IR?
Algum pensamento para o transporte ferroviário? A linha lá está ameaçada, não é verdade?
Agora teremos a renovação da concessão da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA). Ela sai de Belo Horizonte, passa por Corinto, Montes Claros e chega na Bahia. Sabemos que a concessão envolve questões de rentabilidade e potencialidade. O governo federal quer uma outorga maior, ou seja, o pagamento para uma concessão de longo prazo, enquanto a concessionária entende que, se for pagar uma outorga maior, precisará fazer menos investimentos.
A ferrovia é o futuro de qualquer lugar. Na China, eles constroem uma ferrovia por mês, enquanto o Brasil está indo na direção contrária. Lutamos não só pela renovação completa da concessão, mas também pela construção do terceiro trilho e pelo aumento da velocidade. A bitola larga, de cerca de 1,80m, aumenta a velocidade da locomotiva, proporciona mais eficiência ao sistema e traz maior rentabilidade. Entendemos que é necessário investir no transporte ferroviário, e as pessoas precisam participar dessa discussão. No final, o governo tem que ouvir a população, e a atividade econômica precisa compreender isso.
Sabemos que há alternativas. Por exemplo, podemos ter um sistema de transporte ferroviário que coloque os caminhões no transporte ferroviário até um ponto, e, a partir desse ponto, o transporte continua no sistema rodoviário. O futuro do mundo é o transporte ferroviário. Montes Claros e a região só se desenvolveram devido ao sistema ferroviário, que gerou movimentação. É uma pena que a indústria automobilística, muitas vezes, tenha provocado um atraso nos investimentos no sistema ferroviário.
“Nosso projeto, nos últimos 12 meses, foi fazer um estudo para ver qual a característica desse novo hospital. Será de 150 a 200 leitos, com 10 blocos cirúrgicos, mais especializados nas cirurgias eletivas. Não será um hospital porta aberta, ou seja, aquele que recebe urgências e emergências, porque isso os hospitais privados já atendem”
“A BR-135 está sendo melhorada, e isso tem se mostrado efetivo, mas precisamos muito da duplicação da BR-251. Precisamos estar incluídos na concessão, para fazer com a 251
o que foi feito com a 135, porque Montes Claros, por ser o grande polo articulador, precisa disso”
“Montes Claros está se transformando no principal polo farmacêutico da América Latina.
E, sem dúvidas, continua sendo um grande ponto logístico, com seu aeroporto, com as rodovias que chegam e coma BR-135, que será duplicada”