Pilhas de rejeitos de mineração pautam ação de oposição na Assembleia
Medidas para fiscalizar e evitar a redução de multas ambientais em episódios envolvendo pilhas de rejeitos foram discutidas na Casa nesta quinta-feira (12/12)
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Siga noA possibilidade de acidentes com pilhas de rejeito de mineração foi discutida em Minas Gerais nesta semana, não apenas nos noticiários, mas também na Assembleia Legislativa (ALMG), onde gerou repercussão entre a oposição ao governador Romeu Zema (Novo). No último sábado (7/12), o deslizamento do estéril da exploração de ouro no Centro-Oeste do estado deixou centenas de pessoas desabrigadas e ainda causa angústia e apreensão em Conceição do Pará. Nesta quinta-feira (12/12), duas deputadas apresentaram medidas relacionadas ao evento.
O Projeto de Lei 2534/2024 foi aprovado em segundo turno, com a adição de uma emenda da deputada Bella Gonçalves (PSOL), que exclui da medida que concedia até 50% de desconto para empresas com multas ambientais os casos de rompimento e extravasamento de barragem de rejeito, assim como deslizamento de pilha de estéril da mineração.
A medida que poderia reduzir em até 50% o valor das punições ambientais foi anexada ao projeto na Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária (FFO) antes da apreciação do PL em plenário. Bella Gonçalves classificou a emenda como um “jabuti”, termo utilizado para designar acréscimos não relacionados ao texto original da proposta.
“Já tentaram aprovar esse projeto várias vezes aqui na Assembleia, mas a tramitação sempre foi obstruída. Desta vez, incluíram à noite na FFO. O que conseguimos fazer foi retirar o desconto para barragens de rejeitos e pilhas de estéril. Estamos falando de multas muito altas que não poderiam ser atenuadas e que valeria para toda a dívida ativa. Hoje, existem cerca de R$ 6 bilhões em multas ambientais para o estado. Algumas delas são de pequenos empreendedores e até de prefeituras, multas de pequeno porte. Mas outras são multas de grande porte, como as de mineração. O que a minha emenda fez foi retirar o benefício para crimes”, afirmou a parlamentar à reportagem.
A deputada Beatriz Cerqueira (PT) avaliou a aprovação da emenda da colega de oposição como uma forma de evitar que a Assembleia tivesse uma imagem conivente com incidentes relacionados à mineração.
“Sem a emenda da deputada Bella, o parlamento ia passar vergonha. Como você explica à sociedade que o parlamento está apaziguando a situação para crimes da magnitude dos que foram cometidos?”, analisou.
Novo projeto
Também nesta quinta-feira, foi analisado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Assembleia o PL 2519/2024. O projeto, apresentado por Beatriz Cerqueira, prevê a obrigatoriedade da adoção de responsabilidade técnica, medidas de segurança, fiscalização e informação sobre as pilhas de rejeitos de mineração no estado.
O projeto foi apresentado em julho, mas só agora chegou à comissão. A tramitação deve seguir em ritmo lento, pois a CCJ solicitou diligências à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) e à Agência Nacional de Mineração (ANM).
Em entrevista à reportagem, Cerqueira lamentou a medida da CCJ e explicou que o PL começou a ser construído em julho, como repercussão de outro episódio envolvendo rejeitos de mineração, desta vez em Santa Rita Durão, distrito de Mariana.
“Nós passamos a acompanhar a situação absurda de Santa Rita Durão, onde os moradores souberam pela imprensa que uma pilha de rejeitos estava instável e a empresa não divulgou. Eu realizei uma audiência pública ouvindo a comunidade, a ANM e todos os envolvidos. Esse é o contexto da criação desse projeto”, explicou.
Para Cerqueira, se o projeto fosse aprovado na CCJ, poderia ser votado em plenário ainda este ano como uma resposta à sociedade pelos eventos recentes envolvendo os rejeitos de mineração. Na avaliação da parlamentar, a lentidão na tramitação se deve à ação do lobby de mineradoras na Casa.
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