Enquanto Roberto Campos Neto iniciava a sua última reunião como presidente do Banco Central para definir a trajetória dos juros no país, o Senado aprovava o nome de três novos diretores da instituição: Nilton José Schneider David (Política Monetária), Gilneu Francisco Astolfi Vivan (Regulação) e Izabel Moreira Corrêa (Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta).

 

Com isso, a partir de janeiro de 2025, quando os três tomarem posse nos respectivos cargos ao lado de Gabriel Galípolo, que assumirá presidência da autoridade monetária, o presidente Lula terá indicado sete dos nove diretores da instituição.

 

 

Com isso, conforme destacou o PlatôBR, 2025 será o ano do grande teste da independência do Banco Central, três anos após a autonomia ser aprovada formalmente. Isso acontece porque, apesar dos mandatos intercalados dos diretores, o modelo de autonomia do BC permite que, a partir da metade do mandato, o presidente eleito tenha a maioria. No último ano da sua gestão, Lula terá indicado 100% dos integrantes do Copom, o comitê que define a trajetória dos juros no país.

 



 

A autonomia do BC foi aprovada em 2021, após anos de polêmica sobre o tema, e a diretoria colegiada passou a ter mandato fixo. A ideia era justamente garantir liberdade para os diretores tomarem decisão blindados de pressão política do presidente da República e demais integrantes do governo. Na primeira metade do seu mandato, Lula não poupou críticas ao atual presidente, Roberto Campos Neto, por quem nutre grande antipatia.

 

O principal ponto de atrito foi a taxa de juros, principal instrumento do BC para cumprir sua missão: controlar a inflação, tendo como referência o IPCA. Os ataques recorrentes chegaram a criar volatilidade no mercado financeiro diante do temor que Campos Neto pedisse demissão. Esse foi considerado um dos primeiros testes da autonomia do BC.

 

Inflação


Agora, com a inflação estourando o teto da meta, há dúvidas sobre o comportamento do BC, diante das pressões do governo por reduções nos juros. O IPCA de novembro ficou em 0,39%, acima das expectativas do mercado e, no acumulado em 12 meses, o índice chega a 4,87%, acima do teto da meta de 4,5%.

 

A alta no preço de produtos de alimentação tem puxado a inflação para cima e, também, o setor de serviços. Por isso, a expectativa é que nessa quarta-feira, 11, o BC anuncie nova alta da taxa de juros, atualmente em 11,25% ao ano.

 

Analistas já projetam que a Selic irá para 12% ao ano e ficará num patamar elevado por mais tempo, podendo chegar a 14% ao ano em 2025. A deterioração das expectativas diante do pacote para controlar os gastos públicos anunciado pelo governo contribui para uma política monetária mais apertada.

 

 

Os novos diretores


Os novos diretores do BC foram aprovados com folga no plenário do Senado, após uma rápida sabatina dos senadores. Dos três nomes, apenas Nilton José Schneider David (Política Monetária) é oriundo do mercado financeiro. Ele assumirá o cargo, até então, ocupado por Gabriel Galípolo.

 

Nilton era, até recentemente, chefe da Tesouraria do banco Bradesco, uma das maiores instituições privadas do Brasil. Formado em engenharia de Produção pela USP, acredita-se que ele ajudará no diálogo do BC com o mercado financeiro. Seu nome foi aprovado por 50 votos. Houve três votos contrários e uma abstenção.

 

Já Gilneu Francisco Astolfi Vivan trabalha há quase 30 anos no BC, onde chefiava o Departamento de Regulação do Sistema Financeiro (Denor). Ele é formado em Economia pela UnB e tem grande experiência na área, responsável, entre outras coisas, pelo monitoramento de riscos sistêmicos. O placar da sua aprovação foi de 53 votos favoráveis e três contrários.

 

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Izabela Moreira Correa, também sabatinada na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos do Senado Federal) nesta terça-feira, teve 48 votos pela aprovação do seu nome e três pela rejeição. Ela é funcionária pública de carreira desde 2006. Por último, ocupava o cargo de Secretária de Integridade Pública na CGU (Controladoria Geral da União).

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