Reeleito pelo Partido Novo, Braulio Lara começará seu segundo mandato na Câmara Municipal de Belo Horizonte a partir do próximo janeiro. Em sua primeira passagem como vereador, o corretor imobiliário se notabilizou participando de Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) e como opositor da prefeitura, seja contra Alexandre Kalil ou Fuad Noman (PSD).

Em conversa no podcast EM Entrevista, Lara falou sobre as perspectivas para seu novo mandato, criticou a tramitação acelerada de projetos do Executivo na Câmara após as eleições e reiterou suas posições como relator da CPI da Lagoa da Pampulha.

 

 

O Novo conseguiu reeleger seus três vereadores, mas havia uma expectativa de conseguirem mais uma cadeira. O que faltou para eleger mais um colega?

Faltou voto. A gente tinha a visão de que manter os três vereadores atuais era muito importante para preservar a posição. Mas, de fato, para expandir e conquistar mais um representante, a gente precisava realmente alcançar um crescimento expressivo, com aumento de votos em toda a legenda. Nós três, que já estamos fechando este primeiro mandato, tivemos crescimento, mas era necessário um avanço também com outros nomes dentro da nominata do Partido Novo. O Novo vem, paulatinamente, crescendo, mostrando, de fato, a que veio, e tenho certeza de que isso ainda pode se traduzir em resultados positivos no futuro.

 

 

O senhor acionou a Justiça para barrar a aprovação de um empréstimo à PBH que gira em torno de R$ 1 bilhão para obras definidas no Plano Plurianual de Ação Governamental (PPAG). Por que o senhor acredita que o projeto fere o regimento interno da Câmara?

A prefeitura ficou sem limites e as articulações que aconteceram na Câmara após a reeleição do prefeito Fuad elas realmente criaram um cenário onde em menos de 15 dias quase R$ 2,5 bilhões em empréstimos foram aprovados sem contar a suplementação orçamentária de mais R$ 2 bilhões que estava como jabuti dentro da reforma administrativa da prefeitura. A Câmara virou banco da prefeitura agora? Nós questionamos porque as manobras regimentais que foram feitas atropelaram os parlamentares, me atropelaram e agora vamos aguardar o poder judiciário se manifestar para realmente verificar a perspectiva do direito.

 

O senhor esperava mais resistência da direção da Câmara nesses projetos e na tramitação?

Eu esperava mais coerência. Vejo que, infelizmente, tudo aquilo que se lutava e se falava sobre a importância de cuidar realmente da cidade, principalmente na questão da contratação desses empréstimos vultuosos, foi deixado de lado. Quem vai pagar a conta? Quem vai arcar com a dívida, no final das contas, é o cidadão. E o que estamos vendo é o seguinte: a prefeitura só está conseguindo andar rapidamente porque a presidência, de fato, dá condições para que isso tramite na velocidade em que tramitou.

 

Por que o senhor acha que esses projetos teriam tramitado tão rápido?

A prefeitura está morrendo de medo dos vereadores que foram eleitos. Por que ela não quer deixar que aqueles que, de fato, vão conduzir os próximos quatro anos decidam sobre matérias tão importantes como essas dos empréstimos? Eu acho que é um desespero para evitar o questionamento dos novos integrantes da Câmara, que assumirão no dia 1º de janeiro. Nos próximos quatro anos, no mínimo, a prefeitura vai ter que compreender o posicionamento de cada um dos vereadores e de cada bloco.

Você pega, por exemplo, o vereador Pablo Almeida, que foi recordista de votos; ele está fora da discussão. Todas essas decisões, que estão sendo tomadas agora, vão impactar os próximos quatro anos em termos de debates legislativos, e provavelmente também as próximas décadas da cidade. Por que a tramitação não poderia ser feita conforme manda o regimento, de forma natural, passando pelas comissões, tendo os devidos debates e vindo a ser votada em 2025?

 

O senhor foi relator da CPI da Lagoa da Pampulha, inclusive defendeu o cancelamento do contrato de limpeza do cartão postal da cidade. Como o senhor pretende seguir atuando nessa questão no novo mandato?

A CPI, de fato, teve dois capítulos. O primeiro foi marcado por uma manobra orquestrada pela base de governo, que puxou meu tapete no último instante. Comemoraram muito o fato de a CPI ter sido encerrada sem que sequer um relatório fosse apreciado. Essa “pizza” foi assada pela prefeitura, deixando muita gente achando que nada aconteceria e que aquele caso seria abafado na história de Belo Horizonte. Mas não foi. Conseguimos, novamente, reunir as assinaturas e reabrimos a CPI da Lagoa da Pampulha 2.

Pasmem: a prefeitura, com esse sentimento de impunidade, cometeu irregularidades novamente na contratação do famoso contrato de tratamento das águas. O contrato, que custava cerca de R$ 15 milhões por ano, foi substituído por uma contratação sem licitação, sem concorrência, e o valor subiu de R$ 15 milhões para R$ 22,5 milhões. Além disso, a prefeitura retirou as exigências de entrega de qualidade da água.

 

 

O senhor foi um dos grandes defensores da manutenção do Aeroporto Carlos Prates para o uso da aviação. Agora, como o senhor pretende atuar na questão?

Fiscalizando cada passo da prefeitura. Encontramos incoerências e inconsistências que criam um verdadeiro mundo de fantasia. Como pode, em um ambiente sério, chegar às suas mãos três projetos diferentes, sem explicação alguma, enquanto a prefeitura inicia a construção de um posto de saúde que sequer estava locado no mapa? Vou continuar questionando isso veementemente. Mas é óbvio que, com a reeleição do prefeito Fuad, ele vai continuar fazendo o que já estava em andamento.

É diferente do que seria, por exemplo, se o Bruno Engler (PL) tivesse vencido no segundo turno. Nesse caso, talvez essa página fosse escrita de forma diferente. Ainda assim, continuo observando movimentos orquestrados de militância na área de habitação. As pessoas que participam desses eventos estão sendo iludidas, mentiras estão sendo contadas, e, pior, a população do Padre Eustáquio não está sendo ouvida.

Todo mundo sabe que o bairro é um gargalo viário. Todos sabem que a Rua Padre Eustáquio, a Rua Pará de Minas e a própria Avenida Pedro II já estão saturadas. E agora querem colocar 20 mil pessoas para morar ali? Como isso será feito sem nenhum estudo de impacto? Vamos acompanhar como a prefeitura vai conduzir esse processo. A narrativa está bonita, a maquete é maravilhosa, mas é preciso parar com isso. Nós, do lado de cá, continuaremos fazendo uma fiscalização séria. Ainda assim, lamento muito que Belo Horizonte tenha aberto mão de um aeroporto consolidado de 80 anos.

As 4.500 moradias prometidas para aquela localidade, com certeza, poderiam ser distribuídas em vários outros pontos da cidade, como, por exemplo, na Granja Werneck. Existem regiões próximas a corredores de transporte já estabelecidos que seriam mais adequadas. A habitação popular não deveria ser concentrada em um único ponto; quanto mais distribuída ela for, melhor, porque isso promove a integração da cidade.

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