x
MUSEU

Câmara desmonta sala com peças históricas de BH

Galeria de arte tinha exposição permanente com documentos históricos da cidade. Materiais foram retirados da sala

Publicidade
Carregando...

Em fevereiro, a Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH) voltará à ativa significativamente alterada em relação à última reunião da antiga legislatura, há menos de um mês. Além de 18 dos 41 vereadores assumindo o posto pela primeira vez e uma mesa diretora completamente renovada, a própria estrutura do Palácio Francisco Bicalho passa por alterações. Tanto em discursos oficiais como nos bastidores, a ideia de quem assumiu o comando da Casa no primeiro dia do ano é eliminar do espaço qualquer referência à gestão anterior.

Quem passou pela Câmara nesta segunda semana do ano já percebe diferenças logo na entrada principal. Na primeira sala à direita do saguão principal, o novo presidente Juliano Lopes (Podemos) despacha direto do Salão Nobre. Ao lado, funcionários desmontam a estrutura de uma sala que antes abrigava uma galeria de arte com documentos e fotos históricas da cidade e do Legislativo.

A sala foi instituída em meados de 2023 no escopo da criação do programa Câmara Cultural. O espaço contava com exposições itinerantes, mas parte do material integrava uma coleção permanente. Além disso, conforme determinado no Diário Oficial do Município (DOM), a inauguração da galeria pressupunha a contratação de servidores para trabalhar especificamente no ambiente e a destinação de, ao menos, 0,3% do orçamento anual da Casa para a manutenção do projeto.

Nesta quinta-feira (9/1), as paredes da galeria voltaram a estampar apenas a pintura branca original, ainda com a marca das inscrições sobre eventos históricos da capital mineira, recentemente retirados. O material removido foi amassado e juntado no centro da sala. No espaço contíguo, estão reunidas peças de mobília antiga, incluindo a famigerada cadeira utilizada por Afonso Pena (1847-1909) em seu período no Legislativo da capital mineira.

A cadeira de Afonso Pena tornou-se um elemento inusitado de disputa na transição de poder da Câmara. Resgatada pelo presidente anterior, Gabriel Azevedo (MDB), a mobília passou o último biênio no centro da mesa diretora, no plenário da Casa. Desafeto do mandatário que o precedeu, Juliano Lopes disse formalmente que uma das suas primeiras ações na presidência seria utilizar cadeiras idênticas às dos demais vereadores.

Já no dia 1º de janeiro, quando Lopes foi eleito presidente, seus aliados fizeram questão de incluir em uma longa lista de críticas a Azevedo, o fato de utilizar a cadeira antiga, chamada ironicamente de "trono". Flávia Borja (DC), eleita 2ª vice-presidente da Casa, chegou a dizer que o emedebista poderia ser caracterizado como “um reizinho que se dizia democrata, mas era um ditador”.

Cadeira de Afonso Pena foi escanteada após ser motivo de críticas ao antigo presidente da Câmara

Cadeira de Afonso Pena foi escanteada após ser motivo de críticas ao antigo presidente da Câmara

Bernardo Estillac/EM/D.A. Press

Perguntado sobre as mudanças na galeria, Juliano Lopes disse que se tratava de uma mudança de uma exposição itinerante. Em um segundo momento, a reportagem tentou confirmar a informação com o presidente e perguntou sobre como o espaço será utilizado no futuro. Não houve resposta até a última atualização desta matéria.

A comunicação institucional da Câmara Municipal também não se manifestou sobre as mudanças empreendidas na galeria de arte da Casa.

Nos bastidores, servidores da Casa afirmam que a nova gestão trabalha para eliminar alterações feitas no espaço durante o período de presidência de Gabriel Azevedo. O antigo presidente assumiu em 2023 diante da promessa de dividir o comando com Juliano Lopes, renunciando ao fim do primeiro ano de mandato e deixando o cargo ao então aliado.

Azevedo manteve-se no poder e alimentou uma indisposição com Lopes e os vereadores aliados ao secretário-chefe da Casa Civil do governo estadual, Marcelo Aro (PP). O grupo, conhecido como Família Aro, voltou à carga para a eleição da mesa diretora nesta legislatura, venceu o candidato apoiado pela prefeitura e não escondeu um tom de ressentimento contra os inimigos políticos.

Gabriel Azevedo concorreu à Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) no pleito do ano passado e terminou a campanha como o quarto nome mais votado. Sem mandato, ele afirma que é prerrogativa da atual gestão definir como utilizar os espaços da sede do Legislativo. Ainda assim, em nota enviada à reportagem, o ex-presidente da Câmara elencou medidas realizadas durante seu período à frente da Casa.

“A Câmara Municipal de Belo Horizonte é presidencialista. Cada presidente confere seu tom à sua gestão. O atual presidente, idem. Ele pode, caso queira, fechar as portas do restaurante popular que eu abri. Muita gente ficaria sem refeições ao custo de três reais. Ele pode, caso queira, fechar a Praça da Constituinte que inaugurei e recolocar as grades que existiam lá antes. Muita gente não veria o Parlamento aberto ao povo. Ele pode, caso queira, impedir a imprensa de entrar no plenário. Muita gente não teria tanta informação de qualidade", afirmou.

Siga nosso canal no WhatsApp e receba em primeira mão notícias relevantes para o seu dia

E completou: "Todas essas marcas da nossa gestão, assim como o Espaço de Memória e a Galeria Cultural Alberto da Veiga Guignard, foram pensados para a cidade. É do meu estilo construir e valorizar Belo Horizonte. Tudo que eu pude fazer para elevar nosso município na cadeira de presidente, eu fiz. A propósito, escolhi presidir sentado na cadeira que pertencia ao antigo Conselho Deliberativo, que possuía o brasão belo-horizontino talhado na madeira, para exaltar nossa Capital. E eu próprio devolvi o móvel ao acervo no último dia. Tudo uma questão de estilo de quem conhece e valoriza a mais incrível cidade que existe. Quem ama Belo Horizonte faz tudo pensando na cidade sem focar em nada mais”.

Acesse sua conta

Se você já possui cadastro no Estado de Minas, informe e-mail/matrícula e senha. Se ainda não tem,

Informe seus dados para criar uma conta:

Digite seu e-mail da conta para enviarmos os passos para a recuperação de senha:

Faça a sua assinatura

Estado de Minas

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Aproveite o melhor do Estado de Minas: conteúdos exclusivos, colunistas renomados e muitos benefícios para você

Assine agora
overflay