Dois governadores da direita brasileira celebraram a conquista do Globo de Ouro por Fernanda Torres, premiada pela atuação no filme Ainda Estou Aqui. A obra aborda o desaparecimento do deputado federal Rubens Paiva durante a ditadura militar no Brasil.

 



Ratinho Júnior (PSD), governador do Paraná, usou o Instagram para enaltecer o talento da atriz. "A genialidade de uma atriz que interpreta e esbanja talento, humildade e inicia 2025 colhendo um prêmio inédito para a dramaturgia brasileira. À Fernanda Torres, a nossa gratidão por estampar o nome e a arte do nosso país nas manchetes do mundo todo. Orgulho", escreveu.

 

 

Cláudio Castro (PL), governador do Rio de Janeiro, também parabenizou a artista. Em uma publicação, destacou que a premiação "emociona e reafirma o poder transformador de nossa cultura brasileira". Ele ainda exaltou a carreira de Fernanda: "Com sua brilhante trajetória e versatilidade, ela sempre nos emocionou com interpretações marcantes que transcendem fronteiras."

 

A postura de ambos contrasta com a de outros representantes da direita, que têm criticado o filme. Bolsonaristas alegam que a obra não reflete a realidade vivida durante o regime militar.

 


Enquanto isso, os governadores Romeu Zema (Minas), Tarcísio de Freitas (São Paulo) e Ronaldo Caiado (Goiás), optaram por não comentar o feito de Fernanda Torres.

 

Entenda

 

A atriz Fernanda Torres fez história ao receber, em Los Angeles, nos Estados Unidos, o Globo de Ouro de Melhor Atriz na categoria Drama. Fernanda foi a primeira brasileira a conquistar o prestigiado prêmio. Na produção, ela interpreta Eunice Paiva, advogada e viúva do deputado federal Rubens Paiva, assassinado pela ditadura militar em 1971.

 

 

Sem participação direta na luta armada, Rubens Paiva foi preso após cartas de exilados políticos endereçadas a ele serem capturadas junto a pessoas que retornavam do Chile. Os agentes suspeitaram que Paiva tivesse contato com “Adriano”, codinome de Carlos Alberto Muniz, e acreditavam que, por meio dele, poderiam chegar a Carlos Lamarca, o homem mais procurado do país na época.

 

 

Sua prisão, contudo, foi mais próxima de um sequestro: seis homens armados, identificados como membros da Aeronáutica, invadiram sua casa sem apresentar mandado. Armados com metralhadoras, levaram-no sem resistência, usando o próprio carro da família. No dia seguinte, sua esposa, Eunice, e a filha Eliana, de 15 anos, também foram presas. Eliana foi solta no dia seguinte, e Eunice, após 12 dias, mas Rubens Paiva nunca mais voltou para casa.

 

Segundo o relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV), Paiva foi torturado no DOI e morreu no dia seguinte à prisão em decorrência dos ferimentos. A versão oficial, criada pelo Exército, afirmava que ele teria sido sequestrado por militantes durante uma transferência, sendo dado como desaparecido. Essa narrativa começou a ruir em 2014, quando o coronel reformado Raimundo Ronaldo Campos admitiu à CNV que ele e dois colegas montaram a farsa a pedido do subcomandante do DOI.

 

Testemunhas relataram que ouviram Paiva ser torturado, clamando por água antes de seu corpo desfalecido ser retirado da cela. O corpo do ex-deputado nunca foi encontrado.

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