Influenciadores ligados à direita enfrentaram críticas após elogiarem Fernanda Torres, vencedora do Globo de Ouro pelo filme Ainda Estou Aqui. A obra retrata o desaparecimento do deputado federal Rubens Paiva durante a ditadura militar no Brasil, tema sensível no debate político.


Zanfa, influenciador com 328 mil seguidores, escreveu: "Quem não ficou feliz pela Fernanda por picuinha ideológica já está com a alma corroída por essa polaridade artificial que criaram no nosso país. Sinto é pena."

 

 

O comentário gerou reações, incluindo críticas de seus próprios seguidores. Um deles rebateu:
"Zanfa, sua posição sobre o Globo de Ouro da Fernanda foi perfeita, mas te deixou 'isentão'. Isso seria ok se você não lucrasse com o perfil. Como seu público é majoritariamente bolsonarista, que você irritou, e os isentos não geram lucro, financeiramente não foi uma boa escolha."

 



 

Outro influenciador, Peter Jordan, com mais de 1 milhão de seguidores, também foi alvo de ataques após criticar a politização da premiação: "Só aqui no Twitter que, ao invés de comemorarem uma vitória do Brasil, ficam nessa de 'em quem ela votou?', 'ain, mas Lei Rouanet', 'ain, mas ela fez o L'."

 

 

O comentário provocou tanto apoio quanto indignação. Uma seguidora defendeu Peter:"E novamente o Peter Jordan sendo cancelado por falar algo absolutamente lúcido, dessa vez sobre a Fernanda Torres. Essa bolha nerdola parece que teve o cérebro derretido com essa história de lacração e cultura woke."

 

Peter, que recebeu uma enxurrada de xingamentos, também reagiu: "Vocês precisam de terapia! Saiam dessas bolhas tóxicas enquanto ainda não tiveram o cérebro consumido."


Governadores

 

Dois governadores da direita brasileira celebraram a conquista do Globo de Ouro por Fernanda Torres. Ratinho Júnior (PSD), governador do Paraná, usou o Instagram para enaltecer o talento da atriz. "A genialidade de uma atriz que interpreta e esbanja talento, humildade e inicia 2025 colhendo um prêmio inédito para a dramaturgia brasileira. À Fernanda Torres, a nossa gratidão por estampar o nome e a arte do nosso país nas manchetes do mundo todo. Orgulho", escreveu.

 

Cláudio Castro (PL), governador do Rio de Janeiro, também parabenizou a artista. Em uma publicação, destacou que a premiação "emociona e reafirma o poder transformador de nossa cultura brasileira". Ele ainda exaltou a carreira de Fernanda: "Com sua brilhante trajetória e versatilidade, ela sempre nos emocionou com interpretações marcantes que transcendem fronteiras."

 

A postura de ambos contrasta com a de outros representantes da direita, que têm criticado o filme. Bolsonaristas alegam que a obra não reflete a realidade vivida durante o regime militar.

 

 

Enquanto isso, os governadores Romeu Zema (Minas), Tarcísio de Freitas (São Paulo) e Ronaldo Caiado (Goiás), optaram por não comentar o feito de Fernanda Torres.

 

 

Entenda

 

A atriz Fernanda Torres fez história ao receber, em Los Angeles, nos Estados Unidos, o Globo de Ouro de Melhor Atriz na categoria Drama. Fernanda foi a primeira brasileira a conquistar o prestigiado prêmio. Na produção, ela interpreta Eunice Paiva, advogada e viúva do deputado federal Rubens Paiva, assassinado pela ditadura militar em 1971.

 

 

Sem participação direta na luta armada, Rubens Paiva foi preso após cartas de exilados políticos endereçadas a ele serem capturadas junto a pessoas que retornavam do Chile. Os agentes suspeitaram que Paiva tivesse contato com “Adriano”, codinome de Carlos Alberto Muniz, e acreditavam que, por meio dele, poderiam chegar a Carlos Lamarca, o homem mais procurado do país na época.

 

 

Sua prisão, contudo, foi mais próxima de um sequestro: seis homens armados, identificados como membros da Aeronáutica, invadiram sua casa sem apresentar mandado. Armados com metralhadoras, levaram-no sem resistência, usando o próprio carro da família. No dia seguinte, sua esposa, Eunice, e a filha Eliana, de 15 anos, também foram presas. Eliana foi solta no dia seguinte, e Eunice, após 12 dias, mas Rubens Paiva nunca mais voltou para casa.

 

Segundo o relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV), Paiva foi torturado no DOI e morreu no dia seguinte à prisão em decorrência dos ferimentos. A versão oficial, criada pelo Exército, afirmava que ele teria sido sequestrado por militantes durante uma transferência, sendo dado como desaparecido. Essa narrativa começou a ruir em 2014, quando o coronel reformado Raimundo Ronaldo Campos admitiu à CNV que ele e dois colegas montaram a farsa a pedido do subcomandante do DOI.

 

Testemunhas relataram que ouviram Paiva ser torturado, clamando por água antes de seu corpo desfalecido ser retirado da cela. O corpo do ex-deputado nunca foi encontrado.

compartilhe