Cancelamento de ato ‘Fora Lula’ em BH gera discussão na direita mineira
Núcleo duro dos movimentos de rua direitistas divergiram sobre cancelamento de ato em 16 de março após orientação de Jair Bolsonaro
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Siga noUm dos mais emblemáticos pontos da capital mineira também no sentido político, a Praça da Liberdade, Centro-Sul de Belo Horizonte, é o palco projetado de uma disputa dentro da direita em Minas e com ecos nacionais. Ponto de encontro recorrente de apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) desde seu período no Palácio do Planalto, para o local estava marcada uma manifestação contra o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 16 de março. O evento foi cancelado por orientação do ex-presidente, que quer concentrar esforços em um grande ato no Rio de Janeiro. A decisão foi acatada pela organização da perna belo-horizontina do protesto, mas não agradou lideranças locais menos atreladas ao bolsonarismo e que tentam manter o ato em BH, já antecipando possíveis movimentos das eleições de 2026.
Nas últimas semanas, o ex-presidente Bolsonaro convocou seus apoiadores para um ato em protesto contra Lula que abarcava também pautas como a anistia aos presos pelos atos na Praça dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023. O ato central, com a presença do próprio Jair, do pastor Silas Malafaias e as principais lideranças nacionais, está marcado para Copacabana, Zona Sul Carioca. Belo Horizonte teria sua própria versão do ato, que vinha sendo divulgada pela linha de frente do bolsonarismo mineiro, encabeçada pelo deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG).
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No sábado (22/2), porém, o ato em Belo Horizonte foi cancelado por orientação de Bolsonaro. Segundo o próprio ex-presidente, em reunião com seus nomes mais próximos, ele decidiu concentrar as ações no ato do Rio de Janeiro, onde espera reunir mais de um milhão de apoiadores.
Nikolas Ferreira foi às redes para comunicar que não participava da organização do evento e apenas atuava em sua divulgação, mas endossou o cancelamento e a concentração no Rio. O movimento foi seguido por outros nomes como o vereador mais votado de BH, Pablo Almeida (PL). Neste domingo (23/2), o deputado estadual Bruno Engler (PL) divulgou um vídeo em que Bolsonaro fala sobre o foco no protesto carioca durante uma fala no Primeiro Seminário de Comunicação do Partido Liberal (PL). O vídeo foi publicado com antecedência pelo Estado de Minas.
A decisão estratégica de concentrar esforços em apenas uma praça surpreendeu bolsonaristas e movimentos da direita em BH. O recado foi compartilhado pelas lideranças políticas mais próximas ao ex-presidente e caravanas já começaram a ser organizadas para levar pessoas rumo ao Rio. No entanto, grupos menos associados a Bolsonaro já manifestam interesse em manter o movimento na Praça da Liberdade, mesmo sem a presença dos políticos mais populares.
Discussão à direita
Em grupos online que reúnem organizadores de manifestações da direita mineira, o cancelamento provocou discussões. Em mensagens disponibilizadas à reportagem, membros de diferentes grupos trocaram desavenças que culminaram em decisões, ao menos até aqui, de manutenção do ato na Praça da Liberdade, ainda que de sem a chancela dos bolsonaristas mais influentes.
Fontes que participam da organização dos movimentos contra Lula e pela anistia dos presos do 8 de janeiro afirmam que a briga pela manutenção do ato em BH ressoa discussões de cunho eleitoral, já que parte dos grupos conta com nomes mais afeitos ao apoio de nomes indicados pelo governador Romeu Zema (Novo).
As três semanas até 16 de março prometem ser um embate entre movimentos de direita em Minas Gerais pela realização do protesto na Praça da Liberdade em um primeiro ensaio para as eleições de 2026. A situação é também um reflexo dos movimentos eleitorais no Brasil com a inelegibilidade e possível prisão de Jair Bolsonaro por tentativa de Golpe de Estado.
O posto de principal nome da direita e grande oposição a Lula é disputada em Minas por nomes alinhados a Romeu Zema, sendo eles o próprio governador que tem aspirações federais, e seu vice, Mateus Simões (Novo) que deve ser candidato ao Executivo Estadual; e os bolsonaristas, que tem no senador Cleitinho Azevedo (Republicanos) e em Nikolas Ferreira nomes fortes para disputar o comando do estado.
Em um cenário com nenhum nome forte da centro-esquerda e esquerda já definido, os desdobramentos do embate sobre os protestos no próximo mês já podem ser um indicativo de como a fragmentação da direita pós-Bolsonaro se manifestará no jogo eleitoral.
Candidato a vereador na capital mineira nas últimas eleições e líder do Movimento Direita BH, Cristiano Reis, garante que não haverá protestos além do Rio. “Copacabana precisa de lotar, e não podemos dar imagens de manifestação esvaziada para mídia em outras cidades. O foco dos movimentos de direita é levar máximo possível de apoiadores para Copacabana”, disse à reportagem. A coordenação de outros grupos que participam de atos recorrentes contra o presidente Lula, como o Movimento Pró-Brasil, asseguram que haverá o ato na Praça da Liberdade.
Vereador por Belo Horizonte e nome próximo a Jair Bolsonaro, Vile dos Santos (PL) disse à reportagem que a orientação é para que os apoiadores compareçam ao ato do Rio de Janeiro, caso viável. Por outro lado, segundo o parlamentar, não há uma proibição a atos em outras cidades.