"A criminalidade organizada é uma chaga que não encontra barreiras. Temos que tentar sufocar essas organizações criminosas no que diz respeito ao aspecto financeiro." A avaliação é do novo procurador-geral de Justiça de Minas Gerais, Paulo de Tarso Morais Filho, que comandará o Ministério Público estadual no biênio 2025-2026. Sua eleição traz como peculiaridade o fato de que, pela primeira vez em Minas Gerais, um promotor foi o escolhido para a função, e não um procurador. Em entrevista ao EM Minas, entre outros assuntos, Morais Filho falou sobre o combate ao crime organizado.
O senhor chefiou o Gaeco, que é o grupo especializado no combate ao crime organizado, ainda na condição de promotor. Este é um assunto que preocupa o senhor?
Preocupa a todo cidadão. Hoje, a criminalidade organizada é uma chaga que não está encontrando barreiras. Se a gente não se potencializar no combate à criminalidade organizada, vamos viver em um estado paralelo. Daqui a pouco, os serviços que o estado nos presta vão ser prestados por um estado paralelo, que são as facções criminosas, como já é em alguns estados de uma forma mais evidente. Tenho certeza absoluta de que as forças de segurança de Minas Gerais são das melhores do país. O estado tem uma preocupação muito grande, mas não é à toa que o crime se chama organizado. Então, temos que a cada dia nos organizar também.
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Como isso acontece? O que falha no processo?
A identificação dos processos das organizações criminosas é complexa porque as coisas estão nas entrelinhas, não está escrito em algum lugar. É um trabalho de muita inteligência, tem que identificar qual estrutura está em jogo em determinado setor social. A gente tem que tentar sufocar essas organizações criminosas no que tange ao aspecto financeiro.
O famoso “follow the money” (“segue o dinheiro”)…
Segue o dinheiro! E aí nós vamos, de certa forma, deixar combalido o sistema de criminalidade organizada para que a gente possa prender essas pessoas mesmo.
Comparando com Rio de Janeiro e São Paulo, como está a situação em Minas Gerais?
Nós ainda temos uma distância em relação a eles, mas o problema é a gente acreditar que não vai acontecer aqui. Temos que tomar medidas cotidianas para estancar o processo, porque, quando você aperta muito o cerco de uma organização criminosa em um determinado espaço geográfico, ela tende a migrar para outro.
Isso está sempre em torno do tráfico de drogas ou há outros crimes relacionados que fazem parte do rol das organizações criminosas?
A base financeira é o tráfico de drogas, mas temos outras especialidades, como as milícias. A milícia oferece ao cidadão os serviços públicos que este, às vezes, não recebe com a mesma efetividade do próprio poder público oficial. As milícias funcionam dessa forma, ocupam o espaço e passam a exigir do cidadão “impostos”, vamos dizer assim, além daqueles que você já paga para o Estado. É um modelo empresarial. É uma coisa bem avançada e a cada dia mais estruturada, por isso precisamos agir com inteligência para combatê-la.
Quais são as regiões mais críticas de Minas Gerais hoje?
De uma forma mais fraca ela se espalha pelo estado inteiro. Mas, de uma forma mais contundente, nas divisas. No Sul de Minas, o PCC. Na Zona da Mata, o Comando Vermelho. Há uma delimitação territorial entre essas facções.
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