Contrariando Bolsonaro, BH pode ter protesto no domingo
Com a direita dividida, a disputa interna pode esvaziar ato contra Lula na Praça da Liberdade neste fim de semana. Bolsonaro convocou manifestação no Rio
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Siga noConfusão de datas, acusações de boicote e disputas internas marcaram a convocação da direita mineira para as manifestações pelo impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), lideradas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Em Belo Horizonte, a fragmentação entre grupos como Direita Minas, Fórum das Artes Livres, Nação Conservadora, Mulheres Avante Brasil e Confraria Libertária, além de influenciadores e lideranças juvenis de partidos, tem enfraquecido a mobilização.
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Enquanto parlamentares seguem a orientação de Bolsonaro para concentrar o protesto do próximo domingo (16/3) em Copacabana, no Rio de Janeiro, parte das lideranças que não se alinham integralmente ao ex-presidente defende um ato "Fora Lula" na Praça da Liberdade, no mesmo dia.
A disputa acirrou os ânimos dentro da direita mineira. "Alguns defendem a remarcação, outros a manutenção. Virou uma guerra, uma questão de honra. Cada lado está firme em sua posição, e a discussão ficou sanguinária", disse à reportagem um integrante do PL de Minas.
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O protesto em Belo Horizonte foi oficialmente cancelado pelo PL, que justificou a decisão como estratégica para reforçar a manifestação no Rio de Janeiro, onde Bolsonaro estará presente. No entanto, lideranças do Novo e do Podemos alegam que houve um boicote por parte dos bolsonaristas. “Está em debate nos grupos de liderança. Estou articulando para manter a manifestação, mas há muita resistência", afirmou uma fonte ligada à organização.
A divisão na direita também tem reflexos eleitorais. O Novo e o PL devem polarizar em 2026. O governador Romeu Zema (Novo) aposta em Mateus Simões (Novo) como seu sucessor, enquanto o grupo de Bolsonaro deve lançar o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos) ao Palácio Tiradentes.
A fragmentação nas manifestações anti-Lula pode ser o primeiro sinal da cisão mais ampla na direita mineira. O próprio Zema tem se distanciado gradualmente de Bolsonaro, de quem foi aliado no passado.
Como tentativa de conciliação, setores da direita organizam uma nova manifestação, batizada de "Tchau, querido", prevista para 6 de abril. No entanto, a tendência é que o ato ocorra sem a presença de parlamentares bolsonaristas. Segundo apuração do Estado de Minas, o evento não conta nem mesmo com o apoio dos grupos inicialmente associados a ele. A Nação Conservadora, por exemplo, enviou uma nota rejeitando a manifestação e alegando uso indevido de sua identidade visual. “O uso da nossa logomarca foi feito indevidamente. Alertamos para desconsiderá-la”, afirmou.
Ato mantido
À reportagem, os organizadores do ato na Praça da Liberdade confirmaram a realização do protesto em 16 de março. A lista dos grupos que participarão do evento é composta por: Movimento Pró Brasil; Marcha da Família ; Foro Conservador; Movimentos Minas Conservador; Patriotas; QG Liberdade; brOS; Mulheres Avante Brasil; Movimento Direita Cristã; Nação Verde e Amarela; Juventude Livre; União da Juventude e Liberdade; e Apostolado Beato Padre Vitor.
Segundo a organização, não há uma cisão entre os grupos de direita ou uma ala de movimentos paralelos ao bolsonarismo. A decisão de manter o ato em BH se deu pelo entendimento que há uma orientação do ex-presidente Jair Bolsonaro pela preferência da concentração no Rio de Janeiro, mas não uma proibição da realização de atos em outras cidades.
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“Todos são movimentos de direita e a maioria dos integrantes é bolsonarista. Mas nem todo mundo consegue ir ao Rio de Janeiro, por isso haverá o ato em BH e em todo o Brasil. Não é um desacordo com o ato no Rio, mas um complemento”, afirma Ricardo Scheid, líder do Movimento Pró-Brasil e porta-voz do protesto do dia 16.
A organização ainda salienta que, embora o mote do ato seja o “Fora, Lula”, não há um endosso ao impeachment do presidente, mas uma mobilização por retorno da direita à presidência em 2026.
Nikolas Ferreira e a repercussão nas redes
Na semana passada, o Estado de Minas mostrou que o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), um dos principais nomes do bolsonarismo em Minas, confirmou o cancelamento do protesto em Belo Horizonte.
Ele alegou que apenas apoiava a mobilização, sem envolvimento direto na organização. A declaração gerou insatisfação entre seus seguidores e aumentou a incerteza sobre a estratégia bolsonarista. O vereador Pablo Almeida (PL), seu afilhado, reforçou a orientação de priorizar o ato no Rio de Janeiro.
Nikolas chegou a afirmar que desconhecia a recomendação de seu próprio líder, Jair Bolsonaro, e que soube da decisão pelas redes sociais. O episódio ocorre no momento em que o deputado também é cotado como um dos possíveis nomes para disputar o governo de Minas em 2026.
Aposta em Copacabana
Bolsonaro convocou apoiadores para o ato no Rio de Janeiro, marcado para 16 de março, e afirmou esperar reunir um milhão de pessoas em Copacabana. Entre as principais pautas, estão a deposição de Lula, a anistia aos presos pelos atos de 8 de janeiro e críticas à economia e à segurança pública.
Lideranças bolsonaristas, como o pastor Silas Malafaia, já confirmaram presença no evento, que acontece em meio ao embate entre Bolsonaro e o Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro Alexandre de Moraes deve decidir se o ex-presidente se tornará réu por tentativa de golpe de Estado – um desfecho que pode redefinir os rumos da direita no país.
2026 no radar
Todo o imbróglio envolvendo as datas do ato contra Lula em BH também leva em consideração as eleições de 2026 cada vez mais nítidas no horizonte. Um ato com grande público na capital mineira seria um importante palco para as pretensões de nomes ligados ao bolsonarismo que ainda estão se consolidando entre os eleitores e que no Rio de Janeiro não terão o mesmo destaque.
Os recém-eleitos vereadores de BH, Pablo Almeida (PL) e Vile dos Santos (PL), o primeiro como o mais votado da história da cidade, têm aspirações mais altas no Legislativo estadual e até mesmo em Brasília no próximo pleito, por exemplo.
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Outro ponto é definir quem a direita antipetista abraçará na disputa pelo Governo de Minas, páreo que não terá mais Zema como competidor. Em 27 de fevereiro, pesquisa Genial/Quaest mostrou que a corrida de intenção de votos é liderada por Cleitinho Azevedo, com 33% das menções. Ele é seguido por Alexandre Kalil, com 16%; Rodrigo Pacheco, com 8%; e só então o vice-governador Mateus Simões, com 4%.