Renan Filho e Mateus Simões trocam afagos em evento sobre obras da BR-262
Em meio a sucessivas trocas de farpas entre governo federal e gestão de Zema, vice-governador e ministro de Lula discursaram em tom amigável e elogioso
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Siga noO evento de início das obras na BR-262, realizado pelo Ministério dos Transportes em Uberaba, no Triângulo Mineiro, marcou uma aproximação inédita entre o governo federal, na figura do ministro da pasta, Renan Filho (MDB-AL), e o Executivo Estadual, representado pelo vice-governador Mateus Simões (Novo). Em meio ao momento mais tenso entre as partes e sucessivas trocas de farpas envolvendo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o governador Romeu Zema (Novo), a aliança entre o estado e Brasília foi celebrada na cerimônia desta quinta-feira (20/3).
Privatizada no fim do ano passado, a chamada “Rota do Zebu” compreende quase 440 quilômetros entre Uberaba e Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A concessionária Way 262 ficará responsável pelas obras na estrada e por sua administração pelos próximos 30 anos. O evento desta quinta marca o início das intervenções na pista.
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Mateus Simões, que morou em Uberaba durante a juventude, discursou no palco do evento e contou com detalhes a forma como ficou sabendo de dois acidentes na BR-262 que culminaram, primeiro na morte de seu irmão, e depois na de seus pais. A partir da lembrança trágica, o vice-governador exaltou a concessão da rodovia e pediu atenção a um trecho que não está incluído no cronograma de duplicações do edital de concessão preparado pelo governo federal.
“Queria registrar que este momento é também o início de um pagamento de uma dívida histórica do Poder Público com os mineiros, com as famílias que foram despedaçadas pela falta de segurança de circulação nesta via. Tenho a esperança de que a gente consiga, na contagem de tráfego, perceber que há equilíbrio econômico para a gente duplicar o restante dos trechos. Fico me perguntando quantas vidas nós ainda perderemos, porque a contagem de tráfego feita no período que foi feita não percebeu a importância da duplicação do trecho da Serra da Saudade, ali entre Campos Altos e Luz, e o trecho entre Uberaba e Araxá”, destacou Simões.
O edital vencido pela gestora de investimentos Kinea e o Grupo Way em outubro do ano passado prevê a duplicação de 44,3 quilômetros de estrada no trecho entre Bom Despacho e Nova Serrana. A cobrança de Simões, em tom ameno, pelas obras em outros locais da via foi o único momento do pronunciamento em que houve qualquer forma de demanda do estado ao governo federal.
Ao contrário do que tem sido os últimos meses da relação entre Minas e o Planalto, Simões repetiu sua apreciação pela parceria entre os governos. O vice-governador mineiro destacou o que ele considera como ineditismo dos investimentos realizados no estado pela atual gestão no ministério.
“Minas Gerais tem muito a comemorar pela parceria que tem hoje com o governo federal no que diz respeito à nossa infraestrutura rodoviária. O senhor (Renan Filho) cumpriu todos os compromissos em termos de prazo que assumiu conosco desde o primeiro dia, com os leilões e com os inícios de obra. É muito importante essa responsabilidade, ministro. Eu sei reconhecer em nome do senhor e do Guilherme (Theo Sampaio, diretor da Agência Nacional de Transportes Terrestres -ANTT) esse esforço que tem sido feito para suprir esse déficit histórico de investimentos em Minas Gerais”, agradeceu o vice-governador.
Renan responde
Renan Filho discursou mantendo o tom de Simões. Na abertura de sua fala, o ministro enviou um abraço ao governador Romeu Zema e, ao longo do pronunciamento, destacou números da própria gestão como a realização de 24 leilões de concessão contra apenas seis durante os últimos oito anos que compreendem um período com Dilma Rousseff (PT), Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL) no Palácio do Planalto.
Com ar contemporizador, Renan afirmou que, “independentemente, de como pensa um cidadão, se é mais à direita ou mais à esquerda, uma coisa une a todos: a necessidade de investimento em infraestrutura”. O ministro também fez um longo elogio ao pronunciamento de Simões.
“As palavras que você proferiu há pouco são da mais profunda capacidade de emocionar a todos nós. são histórias que certamente aconteceram várias vezes, e eu não tinha tido a oportunidade de te ouvir falar. Você é daquelas pessoas que falam com sinceridade e que solta as palavras com facilidade, e isso dá muita segurança para as pessoas. Quem ouve, sabe que o tom sóbrio e sereno não é o tom mais fácil e não busca o aplauso fácil ou o elogio vazio, mas é de quem quer percorrer o caminho correto”, declarou Renan sobre Simões.
Mudança de direção
O comportamento de Simões e Renan marca uma completa mudança de postura nas relações entre Minas Gerais e o Planalto. Há cerca de dois meses, durante evento de assinatura do contrato de concessão da BR-381 entre Belo Horizonte e Governador Valadares, o ministro dos Transportes não poupou Zema por ter faltado ao evento, por exemplo.
“Eu fui governador (de Alagoas) e gostaria muito de receber esses investimentos. E mais, vi o governo de Minas muitas vezes cobrando investimentos no governo passado e nesse agora, mas não o vejo nesse momento. Parece que a cobrança é mais política e menos pela obra. Isso apequena o gestor público. O gestor público pode ser agente político ou não, pode ter caráter mais técnico; pode ser operário ou empresário. Ele só não pode priorizar a política contra o interesse do cidadão e é isso que o governo de Minas faz ao não estar presente quando se dá uma solução ampla, geral e irrestrita ao problema da Rodovia da Morte”, disse à época.
Zema e os ministros de Lula têm trocado farpas há meses e por diversos motivos, como a dívida do estado com a União e até mesmo sobre investimentos em rodovias. A última passagem do presidente por Minas foi marcada pelos dois dividindo o mesmo palco e proferindo discursos carregados de indiretas entre os governantes.
Mesmo na véspera do evento amigável em Uberaba, o próprio Mateus Simões chegou a comparar os juros cobrados de Minas sobre a dívida com a União com agiotagem. Zema, por sua vez, disse que o aumento da taxa Selic ocorreu por culpa do governo ‘gastão’ comandado pelo petista. A cerimônia no Triângulo Mineiro, focada na parceria entre as partes, vai na contramão dos movimentos recentes.
Cobrança de pedágios
A partir desta sexta-feira (21/3), os pedágios da Rota do Zebu passarão a ser cobrados com novos preços. As praças de Perdizes, Campos Altoss, Luz e Florestal terão tarifas básicas variando entre R$ 10 e R$ 10,40, um aumento médio de cerca de 37% no preço cobrado pela concessionária que administrava o trecho anteriormente. Ainda serão construídos pontos de pagamento em Araxá e Nova Serrana.
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Além da duplicação de 44,3 quilômetros, o contrato de concessão determina a implantação de 169 quilômetros de faixas adicionais e 3,6 quilômetros de vias marginais. A previsão de investimento total na área é de R$ 8,54 bilhões, sendo R$ 4,39 bilhões em obras e R$ 4,14 bilhões na manutenção e operação da pista ao longo das três décadas de concessão.