EM ENTREVISTA

Tadeuzinho: 'Temos obrigação de encontrar soluções para Minas'

Em entrevista ao Estado de Minas, deputado estadual pelo MDB diz que é favorável à privatização da Cemig e da Copasa

Publicidade

No seu quarto mandato como deputado estadual, Tadeu Leite (MDB), o Tadeuzinho, chega ao segundo biênio como presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) com respaldo da unanimidade dos parlamentares. Aos 38 anos, o emedebista é crítico da polarização, que, segundo ele, “atrapalha” o processo legislativo e não pode estar à frente dos problemas do estado. “Bate-boca não vai adiantar”, disse.


Em entrevista ao EM Minas, programa da TV Alterosa em parceria com o Estado de Minas e o Portal Uai, o parlamentar fez defesa enfática da construção de consensos. "A gente tem que entender que o presidente da República, o governador, o Congresso Nacional e a Assembleia podem pensar diferente, mas temos obrigação de sentar na mesma mesa e tentar construir um caminho melhor para nosso estado”, disse.


Na entrevista ao apresentador Benny Cohen, Tadeuzinho ainda falou sobre parceria com o governador Romeu Zema (Novo) e o papel do parlamento na renegociação da dívida do estado com a União: “Tudo que a Assembleia pôde fazer para ajudar o governo do estado foi feito”.

O parlamentar também explicou sua posição sobre a privatização da Cemig e da Copasa. "Não sou contra. (...) O mais importante, sinceramente falando, é fazer o serviço chegar com qualidade para as pessoas e com preço justo."


O senhor assumiu agora o segundo mandato como presidente da Assembleia Legislativa, que vinha de uma gestão que tinha muita rixa com o governo do estado. Como foi essa transição?
No início da construção da nossa candidatura a presidente, exatamente pela questão das dificuldades entre governo do estado e Assembleia – e não vou entrar no mérito de quem estava certo ou errado –, houve erros de ambos os lados. Na minha opinião, até mais por causa do governo. Quando coloquei meu nome para candidatura, o governo tinha outra sugestão para presidir o Parlamento. Tivemos longas discussões, conversas para tentar construir um consenso, e, ao final, graças aos 76 colegas deputados e deputadas, conseguimos construir, depois de um acordo com outro candidato, base e oposição, uma candidatura de consenso. Tivemos muito trabalho nesse primeiro biênio, muita entrega, muitos desafios. Tenho muita fé em Deus e aprendi na vida que tenho que tentar fazer meu trabalho bem-feito. Errar, a gente erra a todo momento, mas, ouvindo a todos, a gente erra menos. É o que tento fazer na Assembleia. Estamos vivendo em um país polarizado, ou seja, muitos não sentam na mesma mesa para conversar se você pensar diferente deles. Mas aprendi no Parlamento a sentar na mesma mesa e tentar construir um caminho de consenso. É dessa forma que tento me pautar à frente da Assembleia, ouvindo a todos, mas, no fim das contas, tendo que tomar decisão para colocar os importantes projetos na pauta.


Mas para ajeitar as coisas com o governador Romeu Zema, qual foi a estratégia?
Desde o início, sempre prezo pela verdade e transparência. Quando fui candidato pela primeira vez à presidência da Casa, qual era a minha posição? Era, e continua sendo, reforçar a independência do parlamento. Entendo que os poderes têm de ser harmônicos, mas independentes. Então, foi uma conversa muito aberta. Nós sentamos e falei: “o que a gente puder contribuir com o estado de Minas Gerais, a Assembleia vai fazer”. Nós fizemos muita coisa neste primeiro biênio, inclusive, ajudando muito o estado. Todos os projetos que chegaram à Assembleia saíram muito melhores. Posso dar aqui um exemplo cristalino, que foi a questão da dívida do estado, na minha opinião o principal problema que temos em Minas Gerais. É uma dívida que se arrasta desde 1998. Começou com R$ 14 bilhões – o estado já gastou do dinheiro do contribuinte – [chegou a] R$ 100 bilhões e ainda hoje nós devemos R$ 170 bilhões. Aí, a pessoa pergunta: “Deputado, mas como isso é possível?”. Por conta dos juros, Minas paga IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) mais 4% de juros ao ano. Quando nos aprofundamos no Regime de Recuperação Fiscal (RRF), entendemos três coisas muito importantes: primeiro que o regime traria imposição complexa para os servidores do estado, obrigatoriedade de privatizações, mas o mais importante, na minha opinião, é esse esforço que nós estamos falando dentro do RRF para fazer o pagamento da dívida, nos próximos 10 anos, que era o prazo que durava o regime, a dívida ia subir para R$ 210 bilhões. Se a Assembleia fosse contra o governo, o que teríamos feito? Pautado o projeto e ele seria derrotado no plenário. Nós identificamos que era um projeto ruim, peguei os líderes, fomos até Brasília e tivemos a sorte de, naquele momento, ter um mineiro presidindo o Congresso Nacional, que foi o senador Rodrigo Pacheco (PSD). De pronto, ele entendeu o anseio de Minas, que se arrasta há mais de 25 anos, encampou essa batalha e hoje o resultado todos conhecemos, que foi a solução definitiva que é o Propag (Programa de Pleno Pagamento da Dívida).


O senhor acha que o governador Romeu Zema está satisfeito com o Propag?
Temos uma divergência, e nessa estou com ele 100% e vou ajudá-lo, inclusive, no Congresso Nacional, que é sobre os vetos. O Congresso aprovou o Propag, o governo Lula sancionou, mas vetou três ou quatro partes. Um dos vetos pega muito para Minas Gerais, que é sobre as dívidas que o estado tem com terceiros, com bancos internacionais, com bancos privados, que estavam renegociadas no RRF e foram excluídas do texto do Propag. Estamos falando de R$ 20 bilhões. Se mantiverem o veto, a parcela que Minas tem de pagar dentro do Propag no ano aumenta, porque tem que ser paga em poucas vezes. Se cair, a gente tem uma parcela mais suave para o estado. Então, nessa estou com Zema, inclusive já estou fazendo meus contatos para que a gente possa conseguir derrubar esse veto, importante para o estado.

O governador manifestou publicamente o interesse em avançar com as privatizações de Cemig e Copasa, mas esses projetos ainda não foram pautados. Qual sua opinião particular sobre esse tema?
Eu nunca fui contra discutir qualquer tipo de projeto. A Assembleia tem que discutir os projetos, até porque eles melhoram muito o trabalho e a construção de todos os deputados que agregam no processo legislativo. Não tenho veto a nenhum tema. Sobre privatizações, pessoalmente, não sou contra. Temos que nos preocupar com a modelagem. Nós conhecemos no Brasil afora modelos de privatizações que deram supercerto e outros que deram supererrado. Falamos agora sobre o Propag. Enxergo que vamos ter que fazer uma discussão quase conjunta, porque a vantagem do Propag é ficar livre dos juros. Mas como é que fica livre desses juros? Tem que dar entrada de 20% dos R$ 170 bilhões para o governo federal, para que tenha essa vantagem. O estado tem dinheiro para pagar? Não tem. E qual foi a grande inovação que o Propag trouxe? A possibilidade de fazer federalização, de entregar ativos para a União em pagamento dessa dívida. Ainda estamos aguardando a regulamentação de uma parte do Propag, e depois o encaminhamento dos projetos do governo do estado para a Assembleia. Mas vamos fazer uma discussão em conjunto de federalização, privatização ou não das empresas, para que a gente consiga dar essa entrada ao governo federal e ficar livre dos juros. Se a gente não resolver o problema dos juros, nunca vamos ter tranquilidade para ter um estado mais eficiente para as pessoas. O mais importante, sinceramente falando, é fazer o serviço chegar com qualidade para as pessoas e com preço justo.


Mas a eletricidade e a água devem ser privadas? Ou tem que ser por serviço público?
É caso a caso. Não sou contra a privatização, mas quero entender qual é a modelagem, qual é a proposta para a Copasa? Qual é a proposta para a Cemig? Essa é uma discussão que vamos fazer no bojo do Propag. A Codemig [Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais], por exemplo, é uma discussão avançada na possibilidade de federalização, porque é uma empresa que vale mais e que poderia amortizar uma parte maior da dívida. Vamos precisar da Cemig e da Copasa para completar? Essa é uma discussão mais técnica do que política. A privatização que foi feita na energia de São Paulo, por exemplo, deu problema. Da mesma forma, a privatização da Sabesp, que é a Copasa deles, parece já ter avaliação mais positiva das pessoas. O mais importante é tentar pensar num todo com a responsabilidade que temos de ter à frente da Assembleia, de ouvir os deputados da direita, os deputados da esquerda, os 76 colegas. Ouvir o governo, porque é fundamental que se escute o governo também, para que a gente tente entregar para a população o melhor serviço e principalmente mais investimentos.


O governador fez mudanças na pasta de articulação com a Assembleia. A principal é a troca de Gustavo Valadares por Marcelo Aro. Como está essa relação?
Sempre foi boa, continua sendo muito boa. Minha relação com o Valadares era muito boa, minha relação com o Aro continuou sendo muito boa. É claro que esse dia a dia de articulação da Secretaria de Governo com a Assembleia é mais entre os parlamentares. Eu tenho um diálogo com o secretário de Governo, mas também com o governador e vice-governador. Tudo que a Assembleia pôde fazer para ajudar o governo do estado nesse primeiro biênio, foi feito. Eu acho que essa é a função do parlamento, melhorar as ideias dos parlamentares e entregar projetos melhores. Nunca tivemos a intenção de fazer um trabalho contrário ao governo. Agora, com muita independência, tendo a liberdade de criticar os projetos, mas também buscar soluções. É dessa forma que aprendi a trabalhar, sem ficar entrando muito em “brigazinha”. Nessas últimas semanas, acompanhei um evento privado de investimentos aqui em Minas. E saiu na imprensa o bate-boca do governador com o presidente da República. Eu até fiz uma crítica no sentido de que isso não leva a nada. Nós precisamos pensar e trabalhar para resolver o problema das pessoas. Se precisar sentar na mesa todo mundo, temos que sentar e conversar. Não precisamos concordar, mas temos que tentar achar a solução. Tem muita gente preocupada com 2026 e esquecendo que nós temos muito a fazer por Minas.


Dizem que o governador decidiu trocar os secretários porque o senhor conseguiu emplacar aliados em comissões estratégicas. Esses rumores têm fundamento?
Eu brinquei de certa forma, mas foi uma brincadeira com fundo de verdade, quando me perguntaram sobre isso. Falei que o único cargo que o governo tem formalmente dentro da Assembleia é a liderança de governo. Ele indica um deputado para ser seu líder dentro da Casa. Hoje, é o deputado João Magalhães (MDB), um querido amigo. Agora, as comissões da Casa, independentemente de quais sejam, são uma construção dos deputados. Aconteceram movimentos na Assembleia, que sempre aconteceram de um biênio para o outro, mas nada contra. Pelo contrário, os deputados que estão nas comissões que falaram nas reportagens são deputados, de uma certa forma, ligados também ao governo. Não vejo problema quanto a isso. Agora, se for uma resposta a mim, a questão da troca na Secretaria de Governo foi uma boa resposta. O secretário Marcelo Aro e eu temos uma relação ótima de amizade. O que preciso é que ele, como secretário de Governo, melhore cada vez mais a interlocução, o relacionamento com os deputados para que a gente possa aprimorar os projetos.

Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia

A questão da polarização política ainda está influenciando os debates e as decisões na Assembleia Legislativa?
Essa foi uma das maiores preocupações que tive quando assumi a Assembleia. Em um país polarizado, não acho que seja o caminho correto, mas é o que acontece hoje, isso exausta os parlamentos. É legítimo e faz parte da democracia o deputado da esquerda subir à tribuna e defender as suas ideias, o deputado da direita subir na tribuna e também defender as suas ideias e ter esse embate. O que a gente não pode deixar acontecer, e de uma certa forma estou conseguindo fazer na Assembleia de Minas, é deixar que o embate ideológico esteja à frente dos temas mais importantes de Minas Gerais. Podem debater o que quiserem, e nós não temos obrigação de pensar igual, mas quando o tema é importante para Minas Gerais, quando os grandes temas estão na pauta, a Assembleia está unida para a gente tentar construir soluções. A polarização atrapalha. A gente tem que entender que o presidente da República, o governador, o Congresso Nacional, a Assembleia, podem pensar diferente, mas nós temos obrigação de sentar na mesma mesa e tentar construir um caminho melhor para o nosso estado. Bate-boca não vai adiantar. Nós também temos deputadas e deputados extremamente ponderados, quando o assunto é maior para o estado.

Tópicos relacionados:

almg cemig copasa tadeu-leite

Acesse sua conta

Se você já possui cadastro no Estado de Minas, informe e-mail/matrícula e senha. Se ainda não tem,

Informe seus dados para criar uma conta:

Digite seu e-mail da conta para enviarmos os passos para a recuperação de senha:

Faça a sua assinatura

Estado de Minas

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Aproveite o melhor do Estado de Minas: conteúdos exclusivos, colunistas renomados e muitos benefícios para você

Assine agora
overflay