Cleitinho postula o governo como candidato "incategorizável"
Senador desafia as convenções políticas ao adotar posturas independentes, populistas e contraditórias, transitando entre a esquerda e a direita
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Siga noEm artigo publicado na edição de fevereiro da revista Piauí, a jornalista e colunista do Washington Post, Anne Applebaum discute a necessidade de novos termos para definir o posicionamento dos atores políticos em um mundo onde o palanque digital está sempre armado e onipresente. A discussão proposta é fugir do maniqueísmo entre esquerda e direita na análise de fenômenos contemporâneos nos parlamentos mundo afora, conceitos que se desenvolveram desde a Revolução Francesa e podem não ser mais tão precisos.
Ainda que não se enquadre exatamente no perfil pesquisado por Applebaum, o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos) vem desafiando a capacidade de categorização dos analistas políticos. Cria das redes sociais, o parlamentar teve uma ascensão meteórica desde a Câmara Municipal de Divinópolis, passando pela Assembleia Legislativa (ALMG) e desembarcando no Senado Federal. Os elementos comuns neste período inferior a uma década são a presença massiva nas redes sociais, o conservadorismo moral, as camisas de times de futebol e uma postura histriônica e verborrágica.
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O último movimento de Cleitinho com impacto no cenário eleitoral, que deve ter no senador um concorrente ao governo estadual, foi a aliança com o deputado estadual Sargento Rodrigues (PL) na convocação de um protesto das forças de segurança contra Romeu Zema (Novo). A medida reforça a aproximação do senador com o partido do ex-presidente Jair Bolsonaro e o coloca em rota de colisão com o governador de Minas e, por conseguinte, com seu vice e sucessor natural, Mateus Simões (Novo).
Cleitinho tem um salvo conduto para se movimentar dentro do Republicanos. A filiação ao PL, que parecia óbvia após ter dividido o palanque com Bruno Engler (PL) pela Prefeitura de Belo Horizonte, ainda não veio. E pode, estrategicamente, não vir. Ao preferir o deputado estadual em detrimento do correligionário Mauro Tramonte, o senador chegou a bradar: “que se exploda a infidelidade partidária” e anunciou que seguiria seu caminho independente da legenda.
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Estar no Republicanos, partido que compõe a Esplanada dos Ministérios do governo federal, também permite que o senador apoiasse medidas como o fim da escala 6x1, a isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil mensais e o auxílio-gás para a população. Este último contou com o endosso do parlamentar citando nominalmente o presidente da República: “Qualquer político que for ficar contra esse projeto do Lula, eu quero lembrar que esse auxílio-gás é pouco ainda. Nós, os Três Poderes, temos direito a auxílio-moradia, auxílio-saúde, auxílio-mudança, auxílio-alimentação, tem que ter muito mais. Vou ser justo! Traga, Lula, que eu vou apoiar!", afirmou em suas redes sociais.
Populista antes de tudo, Cleitinho consegue trafegar em pautas econômicas populares, ainda que abraçadas apenas pela esquerda, elogia Lula e até mesmo o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino no caso das emendas Pix. É improvável que ele tivesse a mesma liberdade sob a marca do PL, que exige de seus integrantes uma fidelidade canina a Bolsonaro e, no caso de Minas, ainda exigiria um tráfego à sombra de Nikolas Ferreira.
É impossível saber se Cleitinho manterá o fôlego como líder nas pesquisas até outubro de 2026 e é difícil que passe todo esse tempo agindo de forma independente, sem se comprometer politicamente. Mas, por ora, ele vai trilhando seu caminho como um defensor mais estrondoso de pautas do governo federal que o preferido de Lula, Rodrigo Pacheco (PSD); e como um bolsonarista mais barulhento e eficiente que Romeu Zema, que tenta levar Simões a tiracolo.
Acordo com bolsonarista
Eliane Miranda Coelho, manifestante bolsonarista que tentou agredir a deputada estadual Lohanna França (PV) em 2022, firmou um acordo para evitar responder judicialmente pelo crime. Como parte do acerto, ela fez um pedido público de desculpa à parlamentar em sua conta no Instagram. O episódio aconteceu após a eleição presidencial de 2024, quando Lohanna deixava o plenário da Câmara Municipal de Divinópolis e foi cercada por apoiadores de Jair Bolsonaro (PL).
Silêncio por Fuad
A cantata Carmina Burana, composta pelo alemão Carl Orff, teve sua apresentação ligeiramente atrasada por um nobre motivo no Palácio das Artes, Centro de BH, na última quarta-feira (26/3). A maestra titular da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais (OSMG), Ligia Amadio, pediu um minuto de silêncio antes de iniciar a peça para homenagear o prefeito Fuad Noman (PSD), falecido no dia. A plateia, em reverência ao pessedista, respondeu com uma longa salva de palmas. (Alessandra Mello)
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Agradecimento
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) agradeceu o apoio do governador Romeu Zema (Novo), que havia publicado uma mensagem o classificando como “maior líder da oposição ao governo do PT” após o STF tornar o antigo mandatário réu pela trama golpista. “Governador, muito obrigado pelas palavras, consideração e deixo aqui também minha consideração e grande carinho por Vossa Excelência!”, disse Bolsonaro. (Bruno Nogueira)