Como fez Bolsonaro, Zema versão influencer deixa governo de lado
Governador está em franca empreitada eleitoral por reconhecimento nacional. Com isso, seu vice assume agenda institucional
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Siga noO novo capítulo da empreitada influencer de Romeu Zema (Novo) o leva em alta velocidade para o bolsonarismo. Claro, o governador mineiro já é um apoiador inequívoco de Jair Bolsonaro (PL). Mas o aceno a pautas caras a ele se intensificou nos últimos dias, desde que embarcou na campanha de anistia aos presos do 8 de janeiro simbolizados pela cabeleireira pichadora Débora Rodrigues. E, depois, manifestou sua indignação quando o ex-presidente se tornou réu no Supremo Tribunal Federal por tentativa de golpe de Estado.
O ponto é que, a esta altura do campeonato, não nos é mais permitido duvidar do impacto da comunicação digital no cenário eleitoral, mas a relação entre Zema e Bolsonaro, que agora salta aos olhos, vai além das redes sociais. Assim como seu guru digital, o governador mineiro se lançou em uma campanha antecipada e deixou a administração em segundo plano com mais de um ano de mandato por cumprir.
Em 2021, Bolsonaro só conseguia pensar no próximo pleito. Todas suas entrevistas visavam as urnas no ano seguinte (seja para conseguir votos ou apenas difamá-las sem qualquer prova), trouxe Ciro Nogueira (PP-PI) para comandar sua articulação política e entregou de vez o orçamento nas mãos do então presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).
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Sem o caráter de sabotagem ao sistema de votação, Zema trilha um caminho parecido em Minas Gerais. Também como parte de uma estratégia eleitoral, o chefe do Executivo mineiro intensificou as agendas do vice-governador Mateus Simões (Novo), sucessor natural da gestão. O suplente também tem atuado mais junto aos deputados estaduais.
No contato com a Assembleia Legislativa, aliás, o último movimento do governo foi trocar o deputado Gustavo Valadares (PMN) por Marcelo Aro (PP) na Secretaria de Governo. Com a mudança, o secretário ampliou sua área de atuação na articulação política de Zema e é agora responsável pelo contato com o Legislativo em Brasília e em Belo Horizonte.
Há quase dois meses na chefia da pasta, Aro ainda não conseguiu avanços no Legislativo, que vive em uma perene obstrução das pautas governistas diante da organização do bloco de oposição. Independentemente do sucesso da dança das cadeiras, o resultado é mais poder nas mãos do secretário, menos uma função para o governador.
Enquanto isso, assim como Bolsonaro no pré-2022, o Zema que antecede 2026 dedica seu tempo virtual e presencial a agendas eleitorais e ideológicas. Enquanto esta coluna é escrita, por exemplo, o governador mineiro está em Porto Alegre para palestrar no Fórum da Liberdade, um evento particular cujo ingresso VIP custa a bagatela de R$ 990. O evento não consta na agenda oficial do governador.
Na capital gaúcha, Zema integra um time de palestrantes cujo nome mais moderado, provavelmente, é o do governador local, Eduardo Leite (PSDB-RS).
A programação conta com os deputados federais Nikolas Ferreira (PL-MG) e Marcel van Hattem (Novo-RS), os comentaristas Samy Dana e Caio Coppolla e o ex-ministro de Minas e Energia de Bolsonaro Adolfo Sachsida.
Enquanto Zema excursionava nos pampas gaúchas, Simões representou Minas Gerais em uma cerimônia de parceria de Minas Gerais com o Google para o lançamento de uma ferramenta educativa. Mais cedo, na Cidade Administrativa, o vice nada decorativo anunciou medidas de desburocratização para o ambiente de negócios, conforme consta em agenda oficial.
Os próximos capítulos definirão se a presença institucional cada vez mais constante de Simões resultará em uma campanha independente e bem-sucedida para ganhar reconhecimento do eleitor, inclusive como uma figura mais equilibrada.
Os acontecimentos vindouros também demonstrarão se Romeu Zema, cada vez mais distante da Cidade Administrativa, conseguirá se candidatar, ainda que como vice, ao Palácio do Planalto.
Silêncio
Romeu Zema, como fez Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e outros governadores bolsonaristas pelo país, saudaram a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos como um sinal direcionado muito mais a seus pares internos do que aos americanos. Com o tarifaço trumpista afetando a economia brasileira, o silêncio reina entre os republicanos tupiniquins.
Agenda ampliada
Na cerimônia de posse de Álvaro Damião (União Brasil) como prefeito de Belo Horizonte, o governador Romeu Zema aproveitou o ato solene para entregar, em um pedaço de papel, seu número de telefone para o novo chefe do Executivo Municipal. Como os comandantes do estado e da capital ainda não constavam mutuamente na agenda um do outro após quatro meses de mandato é um mistério. Antes tarde que mais tarde.
Semana decisiva
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Na última quarta-feira (2/4), o líder da oposição na Assembleia Legislativa, Ulysses Gomes (PT), subiu o tom contra o secretário de Governo de Zema, Marcelo Aro (PP). Disse que a bancada da situação está incomodada com a postura ríspida do novo articulador do Executivo mineiro. A crítica foi recebida como desproporcional pelos governistas, que terão, na próxima semana, a chance de analisar os vetos do governador em plenário e destravar a pauta na Casa.