No caminho dos likes, Zema sobe o tom nas redes
Levantamento do EM mostra como governador aumentou as críticas ao PT, abraçou o bolsonarismo e colhe os frutos com o engajamento em alta
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Siga noEleito governador de Minas Gerais em 2018 e reconduzido ao cargo em 2022, Romeu Zema (Novo) jamais escondeu uma profunda aversão ao Partido dos Trabalhadores (PT) e seu apreço pela política econômica neoliberal. Nos últimos meses, porém, o tom de sua comunicação está mais explícito, o alvo petista migrou de seu antecessor Fernando Pimentel para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o abraço às pautas bolsonaristas ficou mais apertado. Tudo isso é perceptível em uma análise do impacto das postagens mais recentes nas redes sociais do governador mineiro.
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Levantamento feito pelo Estado de Minas
Desde o primeiro dia do ano até 10 de abril, Zema fez 134 posts no Instagram. O conteúdo de cada um deles foi classificado positiva ou negativamente para os critérios de conter crítica aberta ou velada ao PT, ataque à esquerda de uma forma geral, aceno a alguma pauta bolsonarista ou se a publicação versava sobre o trabalho de gestão do estado em si.
Em janeiro, 34,2% das publicações de Zema traziam algum conteúdo político, a maior parte destas (93%) eram ataques ao PT, tema inflado pela insatisfação do governador com os vetos de Lula ao Programa de Pleno Pagamento das Dívidas dos Estados (Propag).
O percentual de conteúdo de crítica ao PT ou aceno ao bolsonarismo subiu para 38,46% das postagens de fevereiro; caiu para 33,3% em março e explodiu nos 10 primeiros dias de abril, atingindo 60% do total. Dos 15 posts deste mês, seis criticam o PT, cinco têm acenos ao bolsonarismo e três apresentam críticas à esquerda de uma forma geral.
Zema tem pretensões eleitorais além do território mineiro. Seja como cabeça de chapa, vice ou ainda como um cabo eleitoral para a disputa presidencial, sua atuação pode torná-lo o rosto do antipetismo no segundo maior colégio eleitoral do país e estado onde o primeiro lugar da corrida pelo Palácio do Planalto sempre conseguiu vitórias. Portanto, um apoio incontornável para qualquer nome da direita que almeja desbancar Lula do cargo em 2026.
Para trilhar este caminho, Zema aposta em ataques fortes ao petismo e abraça pautas bolsonaristas de grande apelo nas redes sociais. Sua publicação de maior sucesso no ano foi feita em parceria com os governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Ratinho Jr. (PSD-PR) e Ronaldo Caiado (União Brasil-GO). O post acumulava mais de 250 mil curtidas até a publicação desta matéria.
A publicação é uma selfie tirada por Zema com os quatro governadores em cima do trio elétrico comandado por Jair Bolsonaro e o pastor Silas Malafaia em 6 de abril, na Avenida Paulista, em São Paulo. “Unidos pela Anistia!” é a legenda do post.
Com 244,8 mil curtidas, a segunda publicação mais curtida é da mesma manifestação, mas dessa vez só Zema aparece na imagem usando um boné que traz a mensagem “o poder do perdão”. No terceiro post mais curtido, o governador diz que Lula está governando em modo avião.
O ranking segue com um vídeo em que Zema critica os pretensos privilégios que a gestão de Fernando Pimentel acumulava em Minas Gerais. O registro foi gravado no quintal da casa do governador, que considera uma mangueira no local como sua única regalia no cargo e ainda filma uma família de jacus que frequenta a casa e roubava as frutas da casa assim como os petistas faziam com o estado, segundo o governador.
Dos 15 posts mais curtidos de Zema, apenas um não conta com críticas ao PT ou faz aceno a alguma pauta cara ao ex-presidente Jair Messias Bolsonaro. As médias de curtidas das publicações do governador mineiro mostram que a estratégia tem funcionado.
Em média, as publicações do governador em 2025 têm 29,9 mil curtidas e os conteúdos postados no formato reels contam com 403,7 mil visualizações cada um. Quando Zema fala sobre temas relacionados à gestão do estado e à administração pública, a média de likes cai para 18,3 mil e as visualizações, para 294,6 mil.
Mas quando o governador ativa sua faceta antipetista, os likes e views praticamente dobram. As críticas abertas a membros do partido têm, em média, 54,9 mil curtidas e 769,7 mil visualizações. O aceno a pautas bolsonaristas é ainda mais bem-sucedido: a média de curtidas é 3,5 vezes maior que o padrão geral, com 105,9 mil interações do tipo por publicação.
Mais enfático do que outros governadores
Em contraste com outros governadores do campo conservador, como Tarcísio de Freitas (SP), Ronaldo Caiado (GO), Ratinho Jr. (PR) e Eduardo Leite (RS), Zema sobe o tom contra o governo federal em suas redes sociais e declarações públicas como estratégia para construir a sua imagem como antagonista à gestão federal.
Tarcísio, por sua vez, vem adotando até aqui uma postura mais contida. Em janeiro, enquanto Zema alimentava o antipetismo com críticas constantes ao Planalto, o governador paulista optava pelo silêncio em pautas sensíveis à base bolsonarista. Evitou se manifestar sobre os dois anos dos atos de 8 de janeiro e também ignorou a presença de uma representante do governo Lula na posse de Nicolás Maduro, na Venezuela, temas que movimentaram o bolsonarismo digital naquele mês.
Apesar da cautela, Tarcísio ainda deu sinais claros de alinhamento com a militância bolsonarista. Publicou uma imagem usando o boné “Make America Great Again”, de Donald Trump, acompanhada da legenda “Grande dia”, gesto carregado de significados para o público conservador e um dos bordões mais recorrentes entre apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Em fevereiro, seu posicionamento político se acentuou. Em meio à denúncia da Procuradoria-Geral da República contra Bolsonaro por suposta tentativa de golpe de Estado, Tarcísio saiu em defesa do aliado e usou as redes para reafirmar o vínculo político. “Jair Bolsonaro é a principal liderança política do Brasil. Este é um fato. Jair Bolsonaro jamais compactuou com qualquer movimento que visasse a desconstrução do estado democrático de direito”, disse o governador, à época.
No mês seguinte, a aproximação com o ex-presidente ficou ainda mais clara. Subiu em trio elétrico durante o ato de Copacabana pedindo anistia aos condenados pelo 8 de janeiro, posou ao lado de figuras como o deputado federal Nikolas Ferreira (PL) e o próprio Bolsonaro, e disparou críticas ao governo Lula. “Ninguém aguenta mais a inflação porque tem um governo irresponsável que gasta mais do que deve. Ninguém aguenta o arroz caro, o feijão caro, a gasolina cara, o ovo caro. Prometeram picanha e não tem nem ovo. Está tudo caro. Volta Bolsonaro!”, disse o governador de São Paulo, em trecho publicado nas redes sociais.
No fim do mês, publicou trechos de entrevistas em que afirmava que “quem fez o L está decepcionado” e reafirmava lealdade ao ex-presidente. Dois dias depois, Bolsonaro se tornou réu no STF, e Tarcísio reagiu novamente: “Sabemos que a verdade prevalecerá e sua inocência será comprovada”. Já em abril, o governador voltou a priorizar pautas institucionais, com publicações sobre infraestrutura e investimentos em São Paulo. A exceção foi a cobertura nas redes do ato da Paulista, no dia 6, quando fez ao menos seis postagens exaltando a mobilização.
Enquanto Tarcísio evita antecipar o tom do aceno ao eleitorado bolsonarista e Zema investe na constância da retórica antipetista, Ratinho Jr. adota uma estratégia ainda mais contida nas redes sociais. O governador do Paraná mantém um perfil predominantemente institucional, com postagens voltadas à divulgação de ações administrativas e, especialmente no início do ano, das agendas culturais do estado, além de publicações pessoais. Mesmo tendo marcado presença no ato de 6 de abril na Avenida Paulista, Ratinho manteve, ao longo dos quatro primeiros meses do ano, um distanciamento retórico em relação a Jair Bolsonaro.
Cautela e moderação
As primeiras críticas ao governo federal surgiram apenas em março, ainda de forma cautelosa. De modo geral, os apontamentos se concentraram na condução da política econômica e na situação das contas públicas, oscilando entre declarações veladas e críticas mais diretas. O tom, no entanto, segue abaixo do fervor ideológico de outros nomes da direita.
Nesse período, o governador também utilizou suas redes para afastar rumores sobre uma possível composição com Lula em 2026. Em duas publicações distintas, Ratinho negou interesse em ocupar a vice-presidência em eventual chapa com o petista e reiterou seu compromisso com uma agenda de mudanças estruturais. “Sou governador do Paraná, um estado que é referência para o país, e acredito que o Brasil precisa de um método eficiente para mudar, se modernizar”, escreveu, em mensagem que, embora ambígua, reforça sua tentativa de se manter como um nome viável dentro de um campo conservador.
Eduardo Leite, por sua vez, se posiciona como o nome mais distante do bolsonarismo entre os governadores especulados para a corrida presidencial de 2026. Com um discurso marcado pela moderação, Leite tem evitado a adesão a pautas polarizadoras e sustenta uma postura crítica pontual ao governo federal, limitada, até o momento, ao envio da representante do Brasil à posse de Nicolás Maduro.
No entanto, não ficando para trás, em março, o governador do Rio Grande do Sul ensaiou um movimento de caráter eleitoral ao divulgar um vídeo em que defende o fim da “polarização política” e aponta o PSDB como alternativa capaz de “recolocar o Brasil nos trilhos”. O conteúdo, embalado por uma estética profissional, sugere uma tentativa de resgatar o protagonismo tucano em meio à disputa pelo campo da centro-direita.
"Os últimos governos se preocuparam em atacar um ao outro e pouco cuidaram de defender o Brasil. Agora, o pior inimigo do povo, a inflação, está de volta. E a violência em muitas regiões está batendo na porta. Os brasileiros querem mais solução e menos briga política. O PSDB tem coragem e competência para colocar o país nos eixos. A gente já fez uma vez e vai fazer de novo. É hora de colocar o Brasil em primeiro lugar", afirmou.
Pré-candidato
Em contraste com nomes que buscam moderação ou distância do bolsonarismo, o governador Ronaldo Caiado adota uma postura mais assertiva e combativa. Já lançado como pré-candidato à Presidência da República, Caiado tem oscilado entre momentos de atrito e reaproximação com o ex-presidente Jair Bolsonaro. A participação no ato político na Avenida Paulista, em abril, sinalizou um gesto de reconciliação com a base bolsonarista.
Ao longo deste ano, Caiado tem intensificado suas críticas ao governo federal A segurança pública e a situação econômica do país têm sido dois dos principais pilares de sua retórica oposicionista. Em fevereiro o governador reagiu com ironia a uma declaração do presidente Lula sobre o consumo de alimentos caros0: “Se é para cortar o que está caro, vamos cortar o PT”, disparou.