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GUILHERME AMADO

O futuro do governo Lula nas mãos de três ministros

Fazer articulação política sob as regras atuais do jogo com o Congresso é tarefa inglória, tamanhas as amarras criadas pela distribuição das emendas parlamentar

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Guilherme Amado, com Bruna Lima, Claudia de Jesus, João Pedroso de Campos e Tatiana Farah 
 
O ministério de Lula tem desafios em diversas áreas, algumas maiores do que outras, mas poucos nomes têm mais urgência de melhorar suas performances à frente das pastas que lideram do que Rui Costa, Alexandre Padilha e Ricardo Lewandowski. E as entregas de cada um poderão ser determinantes para o sucesso ou o infortúnio de Lula (ou do escolhido para sucedê-lo) em 2026.
 
Dos três, o que menos responsabilidade tem pelas agruras de seu ministério é Alexandre Padilha. Fazer articulação política sob as regras atuais do jogo com o Congresso é tarefa inglória, tamanhas as amarras criadas pela distribuição das emendas parlamentares. Senadores e deputados na prática têm à sua disposição orçamentos superiores à maioria dos municípios brasileiros, o que tira as armas de que tradicionalmente o Executivo dispunha para convencê-los a votar com o governo.
 
Agora, sob Hugo Motta e Davi Alcolumbre, Padilha será de fato testado na articulação política, já que eram claras as tentativas de Arthur Lira de sabotá-lo – Lira chegou a pedir a Lula a cabeça do ministro. Se falhar em reduzir a hostilidade com o Congresso, Padilha poderá ser realocado para o Ministério da Saúde, hipótese que é defendida por partes do Centrão como algo a ser feito já na reforma ministerial de janeiro, mas vista como improvável pelo próprio Padilha e por outros ministros.
 

Perto dali, no vizinho Ministério da Justiça, a grande prioridade – e dificuldade – de Ricardo Lewandowski em 2025 será aprovar a PEC da Segurança Pública, que prevê o aumento de competências da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal e propõe a constitucionalização do Sistema Único de Segurança Pública.
 
 
O embate é sobre a autonomia dos estados, que o ministro garante que será mantida. Se aprovada, o que hoje é algo bem difícil de ocorrer, a proposta será um legado da gestão de Lewandowski. Mas se falhar…
 
Se falhar, Lewandowski dará razão a quem foi contra sua nomeação. Segurança pública é hoje um dos temas centrais da polarização, e o governo de Lula já chegou à metade sem ter trazido para o dia a dia do cidadão algo concretamente novo na área. O programa Celular Seguro, da gestão de Flávio Dino, foi deixado de lado ao longo do ano e ressuscitado aos 45 de 2024, mas é pouco frente ao oceano de insatisfação do brasileiro com a violência urbana. Se fracassar novamente em oferecer soluções, o governo levanta para a extrema direita cortar em 2026.
 
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Mas, dos três, o que mais urgentemente precisa dar um choque de gestão em seu território é Rui Costa. O ministro é um consenso negativo entre seus pares e no Congresso. Em resumo, falta a Lula um chefe da Casa Civil. Cabe a quem está no cargo dar aos diversos braços do governo um senso de grupo, coesão, fazê-los marchar numa única direção. Para isso, teria que ter uma noção de todo que, mesmo quem gosta de Rui admite, não é o caso.
 
Não bastassem as dificuldades de relacionamento com figuras centrais do governo, como Fernando Haddad, Rui parece, segundo quem lida no dia a dia com ele, ainda não ter desencarnado do cargo de governador. Fora a Bahia, ocupa-se principalmente do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que não tem a pujança que teve nos outros governos petistas nem entregas capazes de recuperar a importância política do passado.
 
Politicamente, o foco de Rui em 2025 será mais restrito: deve investir em sua candidatura ao Senado pela Bahia. O ministro quer que o PT concorra às duas vagas do estado, com o senador Jacques Wagner buscando a reeleição e ele tentando a outra vaga. Os petistas não se mostraram preocupados com a recente queda na aprovação do governador Jerônimo Rodrigues: segundo a pesquisa Quaest, a aprovação caiu de 63%, em julho, para 54%, em dezembro. Com a chave do PAC na mão, o ministro tem como turbinar essas candidaturas – e assim fará. Mas deveria ter como foco fazer o governo Lula dar uma guinada que melhorasse as chances de reeleição.
 
Amanhã: O 2025 de Tarcísio, Cláudio Castro e Zema.


Braga Netto, garoto-propaganda



O general Walter Braga Netto, atualmente preso por suspeita de obstrução às investigações que o apontam como um dos articuladores da tentativa de golpe de Estado em 2022, foi o garoto-propaganda de um livro editado pelo Exército sobre a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro em 2018, comandada por ele. Hagiográfico, o livro de 80 páginas e 74 fotografias omite o recorde de mortes provocadas por agentes do Estado naquele ano e o aumento de roubos.

Defesa para policiais



O Ministério da Justiça emitiu um parecer favorável, no dia 20 de dezembro, ao projeto de lei que tramita na Câmara para permitir que defensores públicos atuem em processos administrativos contra policiais. A pasta afirmou que o projeto garante acesso à Justiça a policiais que têm ações no âmbito funcional. A Corregedoria da PF também concordou com a proposta.

Bancos mal na fita



Os oito maiores bancos brasileiros levam uma surra nos índices de satisfação da plataforma Consumidor.gov.br, do Ministério da Justiça. Itaú, Banco do Brasil. Bradesco, Caixa, Santander, BTG Pactual, Sicredi e Safra, os oito maiores bancos, nessa ordem, estão mal na fita no sistema de atendimento a reclamações do consumidor. O mais bem posicionado no índice de satisfação do segmento que reúne bancos, financeiras e administradoras de cartão, é o Banco do Brasil, no nada confortável 55º lugar. Depois, vêm Caixa (56º), Sicredi (58º), Itaú (84º), Bradesco (91º), Santander (102º), Safra (105º) e, por último, BTG (107º).

Titãs al mare (só que não)



Sabe os shows em cruzeiros, moda inaugurada por Roberto Carlos e que em 2024 teve edições até com Marisa Monte (sim, Marisa Monte)? Agora alguns desses navios param em terra firme para fazer os shows, o que atrai cantores e bandas que jamais topariam cantar em alto-mar. Foi o caso em meados de dezembro do 89 Rock Boat, que reuniu diversos grupos de rock. Só assim os Titãs toparam. Tony Belotto & cia não aceitariam tocar em navios por terem claustrofobia – Branco Mello em especial. Mas, como o navio está em terra, a coisa acontece como se fosse numa casa de shows.



Os escravos e os incentivos



Em 2 de dezembro, semanas antes das denúncias por ter contrato com uma empresa que mantinha funcionários em situação análoga à escravidão, a BYD foi habilitada pelo governo federal para receber incentivos fiscais no Nordeste. Cerca de 163 trabalhadores chineses foram resgatados O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior permitiu que a BYD herdasse os benefícios fiscais da Ford. A chinesa comprou, no fim de 2023, a planta de Camaçari, que pertencia à montadora americana.

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