Guilherme Amado, com Bruna Lima, Claudia de Jesus, João Pedroso de Campos e Tatiana Farah
Lula e Jair Bolsonaro celebrarão idades redondas em 2025. O atual presidente fará 80 anos em outubro. Bolsonaro faz aniversário antes, em março, quando completa 70. Os dois terão em 2025, por razões diferentes, um ano com potencial de definir como serão as últimas etapas de suas tão distintas vidas públicas.
O torneiro mecânico eleito presidente por três ocasiões viverá o ano do vai-ou-racha de seu emperrado terceiro governo, com talvez a última chance de se capitalizar para um quarto e último mandato. Já o capitão reformado, amante da ditadura, será julgado por crimes diversos. O desfecho pode resultar em mais de uma década preso.
Para Lula, o principal desafio político em 2025 será consolidar sua agenda de governo diante de um Congresso Nacional fragmentado e frequentemente hostil. A dupla Hugo Motta e Davi Alcolumbre, prováveis novos presidentes da Câmara e do Senado, trarão uma dinâmica diferente para essa relação, mas não necessariamente melhor.
A estreia de Motta na grande cena da política nacional é uma incógnita. O apetite de Alcolumbre, uma certeza. Mas, sem a equação das emendas ser resolvida, em essência, nada mudará.
Lula enfrenta pressões não apenas da oposição conservadora, mas principalmente do Centrão, que vende caro os temas com os quais naturalmente já teria concordância, e nem promete entregar uma agenda mais próxima do cardápio progressista da base original do presidente.
Lula também precisará saber aproveitar a vitrine da COP30, a primeira na Amazônia, e que pode simbolizar o fracasso de sua tentativa de avançar globalmente no combate às mudanças climáticas ou ser um marco de avanço.
Na economia, há bons sinais no desemprego baixo, e no crescimento, mas a inflação crescente e a péssima relação com o mercado financeiro ofuscam as conquistas. O dia a dia com o Banco Central comandado por Gabriel Galípolo será objeto de atenção (e talvez tensão) permanente. Os juros altos dificultarão o crescimento que era esperado para o terceiro e quarto anos de governo e que seriam motrizes para robustecer suas chances de reeleição.
Por fim, o governo precisa deslanchar. Falar isso no terceiro ano é estranho, mas, em muitos setores, a sensação é que o governo até hoje não aconteceu. Há críticas aqui e ali à Comunicação, à Saúde, à articulação política, mas poucos falam da falta de gestão de que padece o Palácio do Planalto. A Casa Civil de Rui Costa claramente precisa se apossar do governo e fazer uma coordenação geral que hoje inexiste. Fazer isso em 2025 com vistas à eleição de 2026 será difícil, mas ainda é possível.
O ano de Bolsonaro será mais dramático. O calendário que o espera é de uma denúncia em fevereiro pelos crimes de falsificação de carteira de vacina, roubos das joias que ganhou enquanto presidente e – o mais importante de todos – a tentativa de golpe de Estado, em 2022. Ainda no primeiro semestre, o STF tornaria o ex-presidente réu e, ao fim de 2025, ele e as dezenas de outros acusados seriam julgados. Uma eventual prisão aconteceria entre o final do ano e os primeiros meses de 2026. Ninguém na Procuradoria-Geral da República ou no Supremo avalia haver chances de o ex-presidente ser inocentado.
Fora isso, Bolsonaro terá que lutar para preservar seu protagonismo nas articulações da direita. Por isso, insiste tanto em dizer a todo tempo que ele é o candidato A, B e C de 2026. Faz isso para manter as rédeas das negociações, pois já percebeu que o fato de ser o favorito de seu eleitorado não significa que terá de fato o poder de decidir sobre quem disputará no campo da direita.
Existe a ameaça concreta de Pablo Marçal, nome que, caso saia para o Planalto em 2026, poderia esvaziar uma candidatura da direita avalizada por Bolsonaro. Por isso, cresce a pressão para que o ex-presidente registre uma chapa tendo um de seus filhos como vice para que, uma vez negado o registro pelo Tribunal Superior Eleitoral, alguém com o sobrenome da família assuma a chapa. Embora tudo isso só vá acontecer em 2026, será em 2025 que as peças desse xadrez serão movimentadas — à espera do xeque-mate que Alexandre de Moraes prepara para seu maior detrator.
* Amanhã: O 2025 de Haddad, Tebet e Galípolo
Coisa antiga
O decreto sobre o uso da força de armas de fogo apenas como último recurso na ação policial, assinado por Lula na segunda-feira, começou a ser preparado pelo governo no primeiro semestre. O texto passou por diversas secretarias e por outros ministérios, entre eles o dos Direitos Humanos e o da Igualdade Racial. Ricardo Lewandowski estava com a proposta em sua mesa há pelo menos um mês.
A mágoa de Haddad
Por falar em Haddad, dos três votos petistas que votaram contra o pacote de ajuste fiscal do governo, o que mais chateou o ministro foi o do ex-presidente do PT Rui Falcão (SP). Haddad não foi avisado do voto dissonante de Falcão, com quem mantém relação mais próxima nem imaginava que o tiro chegaria de um aliado com quem dividiu campanhas eleitorais. Em entrevistas, Rui Falcão afirmou que não tem “relação de vassalagem” com Lula e que votou contra o pacote porque ele afeta direitos como o aumento do salário mínimo e o abono salarial.
Dúvida na Petrobras
O Conselho de Administração da Petrobras decidirá no começo de 2025 o novo diretor de Governança e Conformidade. O favorito é Edson Teles, atual diretor de Responsabilidade Disciplinar, indicado para o cargo por Jean Paul Prates, e oriundo da Comissão de Ética da Presidência. Teles assumiu a presidência da comissão em 2021, rompendo a tradição de antiguidade, por meio de um acordo com os outros conselheiros e em grande parte devido a sua ligação, na época, com o general Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria-Geral e da Casa Civil de Jair Bolsonaro.
Chica, por Mary Del Priore
A historiadora Mary Del Priore lança em 2025 “Meu nome é Francisca”, biografia que pretende desmistificar Chica da Silva (1732-1796), a escravizada parda, posteriormente alforriada, que viveu no Arraial do Tijuco, atual Diamantina (MG).
O trabalho reconstitui a união com o contratador de diamantes João Fernandes de Oliveira (que a comprou e depois alforriou), os 13 filhos que teve com ele, o destaque social que obteve. À coluna, a historiadora disse que Chica pertenceu à classe de “pretas empreendedoras” que existia em Minas Gerais, Bahia e Rio na época. O livro sai pela editora José Olympio.