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O que deputados do Republicanos dizem sobre o futuro do comando do partido

Renovação da direção da legenda só ocorrerá em 2027. Igreja não tem mais o controle e mudanças agora são descartas por parlamentares

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O Republicanos, partido político ligado desde sua fundação à Igreja Universal do Reino de Deus, cresceu, se fortaleceu, tornou-se uma das principais legendas políticas do país e não tem mais como ser comandado unicamente pela instituição religiosa liderada pelo bispo Edir Macedo.

É o que garantiu ao PlatôBR um político de destaque no partido, ao falar reservadamente sobre as tentativas de integrantes da cúpula da igreja de tentar retomar o controle da legenda.

O Republicanos (ex-PRB), fundado em 2003 para abrigar bispos, pastores e obreiros da Universal que se candidatavam a cargos políticos, foi, aos poucos, se afastando da igreja. Passou a abrigar também, desde 2016, políticos de fora, como uma estratégia para crescer.

Na última eleição municipal, acirraram-se os conflitos entre líderes do partido e da igreja. Vários bispos e pastores da Universal acabaram concorrendo às eleições também por outras legendas, como aconteceu no Rio de Janeiro.

Lá, a Universal apoiou o prefeito reeleito Eduardo Paes (PSD), aliado do presidente Lula, enquanto o Republicanos se aliou a Alexandre Ramagem (PL), que tinha o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro. O Republicanos é presidido desde 2012 pelo bispo da Universal e deputado federal Marcos Pereira (SP), que, agora, está com o posto ameaçado.

Os bispos Renato Cardoso, genro de Edir Macedo (fundador da igreja) e hoje o número dois na hierarquia da instituição, e Honorilton Gonçalves, ex-vice-presidente da Rede Record e atual responsável pela igreja no estado do Rio de Janeiro, estão tentando remover o deputado Marcos Pereira de seu cargo.

Péssimo estrategista
Parlamentares do Republicanos consideram esse desejo dos bispos Cardoso e Gonçalves “quase impossível”, primeiro pelo fato de só haver previsão de eleição para o comando do partido em 2027. Também garantem que a maior parte dos religiosos deputados federais do partido – 13 deles são bispos, pastores ou obreiros da igreja, além de mais quatro radialistas da Rede Record, pertencente ao bispo Edir Macedo – estão hoje ao lado de Marcos Pereira.

Um dos parlamentares ouvido pelo PlatôBR diz que o bispo Gonçalves foi o responsável pelos atritos entre a igreja e o partido no Rio de Janeiro e seria “um péssimo estrategista político”, pois teria incentivado a candidatura de membros do grupo Arimatéia, criado pela Universal para cuidar de sua área de formação política, “mas não conseguiu eleger ninguém”.

Esses candidatos do grupo Arimatéia concorreram às eleições, no Rio de Janeiro e em outros estados, em parte pelo próprio Republicanos e, também, por outros partidos, entre eles o PSD, presidido pelo ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab. No Rio, o coordenador do grupo Arimateia, o pastor Deangeles Percy, por exemplo, disputou a eleição pelo PSD, partido do prefeito reeleito Eduardo Paes, mas não conseguiu se eleger.

Gonçalves teria sido o responsável por essa articulação fracassada, juntamente com o ex-bispo da Universal e ex-deputado Carlos Rodrigues, que durante anos foi o coordenador político da igreja. Rodrigues foi “reabilitado” na Universal recentemente e voltou a opinar em decisões políticas na igreja, após ter sido afastado da instituição e renunciado ao seu mandato de deputado federal, por envolvimento em escândalos de corrupção. O ex-bispo e ex-deputado foi denunciado e preso duas vezes nos casos do mensalão e da máfia de venda das ambulâncias, em 2005 e 2006, respectivamente.

Comando polêmico no Rio
No Rio de Janeiro, o Republicanos hoje não é mais controlado pela Universal. Está nas mãos de três figuras consideradas polêmicas: i) o atual prefeito de Belford Roxo, Wagner dos Santos Carneiro, o Waguinho (que administrou a cidade por dois mandatos e não elegeu o seu seu sucessor) é o presidente estadual da legenda; ii) o ex-deputado emedebista e ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, ligado à igreja Assembleia de Deus; e iii) o deputado federal Chiquinho Brazão, que ocupou a Secretaria Especial de Ação Comunitária de Eduardo Paes, entre outubro de 2023 e abril deste ano e estava no comando da legenda até ser preso sob a acusação de ser um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes.

Nos bastidores da Igreja Universal se diz que o bispo Honorilton Gonçalves, o atual líder no Rio, é quem teria convencido o genro e herdeiro de Edir Macedo, Renato Cardoso, a tentar afastar Marcos Pereira do partido. O bispo e deputado Pereira tornou-se uma figura poderosa, após anos no comando do partido. E, hoje, mantém boas relações com o presidente Lula. Seu nome estaria sendo cogitado, inclusive, para algum ministério.

Pereira foi pré-candidato à presidência da Câmara. Era um dos três nomes mais fortes na disputa. Ele desistiu, mas patrocinou a candidatura de um deputado do partido, Hugo Motta, favorito na eleição que ocorrerá em fevereiro, na abertura dos trabalhos legislativos.

Hoje o Republicanos tem dois governadores (Tarcísio de Freitas, de São Paulo, e Wanderlei Barbosa, de Tocantins); um prefeito de Capital (Lorenzo Pazolini, de Vitória); quatro senadores, 44 deputados federais, 75 deputados estaduais, 433 prefeitos e 4.372 vereadores no país. Na última eleição municipal, o partido mais do que dobrou o seu número de prefeitos no país: de 216 para 433.

Quando Pereira assumiu a presidência do então PRB, a legenda tinha apenas oito deputados federais. O deputado foi também vice-presidente da Rede Record, entre 2006 e 2011, e ajudou a emissora a alcançar a vice-liderança no Ibope nesse período. Na igreja, porém, o poder acumulado por Pereira passou a gerar ciúmes e inveja, de acordo com religiosos da instituição. O genro de Edir Macedo, Renato Cardoso, também teria se incomodado com o acúmulo de prestígio, considerado excessivo.

Cardoso começou a afastar de funções importantes os bispos mais antigos e influentes da igreja, substituindo-os por religiosos mais novos e de sua confiança. Marcos Pereira, detendo esse posto cobiçado, seria um dos poucos nomes ainda intocáveis e o herdeiro de Macedo não conseguiu removê-lo, conforme desejava.

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