Foi a comunicação e é a comunicação

“O sucesso da economia precisa de ministros da Economia fortes. Já tivemos FHC, Henrique Meirelles, Paulo Guedes. Eles comandavam. Hoje existe uma dificuldade do ministro Haddad de comandar. Haddad não consegue se impor no governo....

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“O sucesso da economia precisa de ministros da Economia fortes. Já tivemos FHC, Henrique Meirelles, Paulo Guedes. Eles comandavam. Hoje existe uma dificuldade do ministro Haddad de comandar. Haddad não consegue se impor no governo. Um ministro da Economia fraco é sempre um péssimo indicativo.”

Essa declaração aí em cima bem poderia ser a de um ferrenho oposicionista. Mas não é. Quem faz essa dura crítica ao ministro encarregado de executar a política econômica é Gilberto Kassab, presidente do PSD, partido que ocupa três ministérios no governo Lula. Por uma dessas circunstâncias exclusivas da política brasileira, Kassab ocupa uma secretaria no governo paulista, comandado por Tarcísio de Freitas, que pode ser adversário de Lula na eleição do ano que vem.

Kassab fez essa declaração, publicada pouco depois das 11 horas da manhã de quarta-feira, 29, num evento com banqueiros em São Paulo. E foi além o presidente do PSD, se equilibrando com um pé no governo Lula e outro no governo paulista. Kassab, embora admita que o presidente da República é candidato forte à própria sucessão, diz que, se a eleição fosse hoje, Lula seria derrotado por causa dos erros na condução da economia.

A declaração da Kassab dá bem o tamanho da dificuldade de Lula em conseguir um mínimo de unidade que permita criar e executar uma política de comunicação que neutralize as críticas da oposição e reverta a percepção negativa do povo em relação ao que o governo tem feito para entregar o que ele prometeu na campanha.

E o que Lula prometeu está registrado numa fala dele e numa foto. A fala é aquela em que o presidente – então candidato – disse que, no governo dele, o povo voltaria a comer picanha.

A foto é aquele belo flagrante de Lula subindo a rampa acompanhado de representantes de toda a sociedade para receber a faixa presidencial das mãos de cidadãos comuns. Seria a materialização da promessa de levar o povo para dentro do orçamento da União.

Passados dois anos, Lula anda às voltas para explicar o preço da picanha, que alimenta mais os discursos da oposição do que os estômagos, e para reverter a desconfiança do povo. Fora isso, Lula precisa conseguir um mínimo de unidade num governo apoiado por mais de 10 partidos (a crítica de Kassab ao ministro Haddad deixa difícil o uso do verbo apoiar) e estabelecer relações saudáveis com um Congresso movido a emendas parlamentares.

O equilíbrio fiscal, tão buscado por Fernando Haddad como remédio essencial para os males do país, parece tão difícil de ser alcançado como é a busca por apoio a eles (o equilíbrio e o próprio Haddad) por parte de ministros e dos partidos.

E, daqui para a frente, a confusão tende a crescer. Enquanto o eleitorado se preocupa, com a compra no supermercado, hoje, os políticos – do governo inclusive, ou principalmente – trabalham de olho em outubro. Do ano que vem…

As pesquisas de opinião serão, de agora em diante, o farol a iluminar corações e mentes dos parlamentares e dos administradores. Lula precisa reverter a rejeição 49% registrado pela mais recente pesquisa Quaest.

Aí entra a sempre lembrada – especialmente em tempos de crise – comunicação. E o encarregado de criar a ponte entre o governo e a cidadania, o publicitário Sidônio Palmeira, precisa descobrir a fórmula mágica que unifique as vozes do governo. Afinar o discurso do Kassab, secretário do governador Tarcísio de Freitas e “dono” de três ministérios do governo Lula, com o do ministro Fernando Haddad, é um bom exemplo das dificuldades a serem enfrentadas por Sidônio (ou de quem assuma o posto dele…)

Haddad tem a missão de fazer a picanha chegar aos pratos do povo. Kassab só precisa manter seus correligionários isentos de culpa pelo preço dos alimentos e nem precisa desmentir notícias de que o governo taxaria o Pix para onerar os mais pobres. Isso é com o ministro da Fazenda…

No final, é sempre a comunicação. O governo vai bem? Claro, está se comunicando bem. Vai mal? Óbvio, não se comunica direito… Conseguirá Sidônio Palmeira fazer os integrantes do governo se comunicarem entre si e daí tirar uma estratégia de comunicação com o povo?

Fernando Guedes é jornalista e sócio da SHIS Comunicação, analista político, especializado em marketing político, administração de crise, análise de cenários, construção de imagem e produção de conteúdo. Trabalhou nos principais veículos de comunicação do país e assessorou ministros de Estado. Foi diretor da TV Câmara e da TV Justiça e secretário de Imprensa da Presidência da República

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