Estratégia política do PL pressupõe que Bolsonaro será condenado e preso
Partido organiza reação a denúncias contra ex-presidente nos mesmos moldes adotados por Lula quando estava na cadeia em Curitiba
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Siga noNa reação à denúncia apresentada pela PGR (Procuradoria Geral da República), o PL já considera que o ex-presidente Jair Bolsonaro será condenado e preso após um desgastante julgamento no STF (Supremo Tribunal Federal) exibido ao vivo pela TV Justiça. Toda a mobilização de defesa tem como objetivo manter com o PL os votos da direita bolsonarista. A orientação agora é executar uma estratégia política como o objetivo de chegar em 2026 com um candidato competitivo. “O Bolsonaro é o cara da direita raiz. Foi presidente e a pessoa que tem os votos. Mas falando sério, ele não disputa as eleições. Ele não vai aguentar”, disse um dirigente da legenda em conversa com o PlatôBR.
Nesta quarta-feira, 19, enquanto as cenas de apoio a Bolsonaro ocorriam no plenário da Câmara, esse deputado avaliava a situação, em reservado, no cafezinho anexo. “Não há saída política para isso. Eu não vejo e estou sendo sincero”. Mas a turma jovem do partido está com a função de continuar demonstrando que não abandonará Bolsonaro, mesmo diante de evidências de que ele não conseguirá escapar da prisão nem da inelegibilidade imposta pela Justiça Eleitoral.
Ao falar sobre a propagada da candidatura de Bolsonaro em 2026, o correligionário do ex-presidente considerou que é uma coisa fora da realidade, como um “elefante sobrevoando a câmara”. “Eu não acredito”, disse.
O dirigente tem ligação muito próxima com Valdemar da Costa Neto, presidente da legenda a quem classifica como “gênio” da política. Ele confia a Valdemar a missão de conduzir a estratégia eleitoral de modo a não perder os votos dos bolsonaristas e, ao mesmo tempo, contar com a “renovação política” da direita no Brasil. Essa renovação, para ele, é encarnada hoje pelo deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) e pelo influenciador Pablo Marçal, que disputou a Prefeitura de São Paulo pelo PRTB.
O deputado diz que o PL fará de tudo para demonstrar apoio a Bolsonaro e aos seus seguidores: “Não podemos ser ingratos com eles. Eles foram responsáveis pelo fato de o PL ter hoje o maior fundo partidário, de todos os partidos.” A legenda considera que Bolsonaro tem capacidade para transferir votos, mesmo preso, desde que o PL invista em um candidato novo que reverencie o bolsonarismo.
Na quarta-feira, 19, a denúncia divulgada na noite de terça fez com que deputados da parte bolsonarista do partido passassem o dia se dedicando a pequenos eventos com o objetivo de emplacar na redes sociais, principalmente, a versão de que o ex-presidente é um “perseguido político”, “vítima do sistema” e que, por isso, é necessária a aprovação de uma anistia para seus crimes. Se reivindicam anistia, claro, pressupõem a condenação.
Houve também manifesto lido no Salão Verde e jogral ensaiado por Nikolas Ferreira e outros bolsonaristas no plenário. Níkolas disse que a denúncia da PGR é um roteiro de Hollywood que previu 38 anos de prisão para Bolsonaro. “Tinha malas de dinheiro dentro da cueca?”, perguntava o deputado. Como resposta, os demais parlamentares soltaram um prolongado “não”. “Foi por corrupção?”. Mais uma resposta: “Não!”. E ele prosseguiu: “por tráfico?” “Homicídio?”.
No manifesto lido pelos bolsonaristas, eles apontaram ainda eventos que pretendem realizar pelo país em defesa do ex-presidente na tentativa de desqualificar a denúncia e a condução do julgamento pelo STF. Uma das manifestações está sendo chamada para o próximo dia 16 de março em todo país. Os defensores de Bolsonaro também vão divulgar nas próximas semanas um relatório que segundo eles foi produzido por uma associação de vítimas do 8 de janeiro, contento denúncias de tortura dos presos. “Esta semana, recebemos um relatório contundente da Associação dos Familiares das Vítimas do 8 de Janeiro, que reúne documentos e provas de todos os tipos de violações de direitos praticados nesses últimos anos. No momento oportuno, daremos a completa publicidade a esse material”, disse o líder da Oposição na Câmara, Coronel Zucco (PL-RS).
No contexto, esses movimentos indicam que os aliados de Bolsonaro já se preocupam com as condições da cadeia, mesmo antes de qualquer condenação do ex-presidente.