Não tem combate a crime que dê certo com essas polícias estaduais, diz delegado da PF
Delegado aposentado da PF, Jorge Pontes defende que, para qualquer projeto de segurança pública funcionar, polícias civis e militares devem ser reestruturadas
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Siga noO delegado aposentado da Polícia Federal Jorge Pontes, que integrou o Ministério da Justiça de Sergio Moro, afirmou, em entrevista à coluna, que não há chance de sucesso de um projeto de combate ao crime organizado no Brasil com a situação atual das polícias Civil e Militar. Pontes acredita que, para um projeto como a PEC da Segurança dar certo, é necessário, primeiro, um enfrentamento do crime dentro da polícia com uma política de resolução de assuntos internos.
Pontes, que, atualmente, trabalha com consultoria em Segurança Pública, afirmou também que hoje o Brasil vive um momento de “epidemia de criminalidade”, em que organizações criminosas estão presentes em três esferas da sociedade, são eles: crime de rua, o crime organizado de facções e o crime institucionalizado dentro do poder público.
O delegado acredita que a PEC da Segurança Pública, apresentada pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, no final de 2024, é uma proposta necessária para o combate ao crime organizado no Brasil devido à sua atuação e presença em diversos estados. Pontes, no entanto, insiste em que, para qualquer projeto de segurança dar certo no Brasil, é necessário “eliminar a banda podre das polícias, especialmente na Polícia Militar”. Ele afirmou que a falta de mecanismos internos de controle efetivo permite que policiais corruptos protejam facções e atuem como facilitadores de crimes, como o de Marielle Franco e do delator do PCC, Antônio Vinícius Gritzbach.
Para Pontes, a Segurança Pública no Brasil chegou ao “fundo do poço” em 2024 devido ao crescimento da atuação do crime organizado na política e em setores, como por exemplo o de combustíveis. Um estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostrou que o crime organizado lucra mais com combustível e bebidas do que com tráfico de cocaína. O delegado apontou que esse feito do crime organizado é uma brecha nas instituições, como a desregulamentação desses setores.
Para Pontes, o foco do combate às facções deve ser no dinheiro. Ele defendeu maior investimento em tecnologia para monitoramento e criticou operações policiais que focam apenas na apreensão de drogas em favelas sem atingir as lideranças do crime. “Apenas prender pequenos traficantes e apreender drogas não resolve o problema estrutural. Precisamos seguir o dinheiro e desarticular a base financeira do crime”, afirmou.
Assista à entrevista completa abaixo.