Condenado no mensalão e “descondenado” na Lava Jato, o ex-ministro José Dirceu não aparentava seus 79 anos, nem de longe os quase três anos em que ficou preso. Diante de um painel no maior estilo de campanha eleitoral, posava sem preguiça para centenas de fotos com os convidados que iam chegando, de ministros e deputados a militantes com cargos menores no governo.
Foi assim que o petista marcou ontem sua reentrada oficial na política. Uma festa de aniversário em Brasília, com direito a parabéns e ao público gritando “Dirceu, guerreiro do povo brasileiro”, um refrão que o acompanha dos tempos de glória aos momentos mais críticos do mensalão e da Lava Jato.
A festa do petista, em que cada um pagava sua comanda, aconteceu em um bar de Brasília onde as filas para entrar e cumprimentá-lo se estendiam com uma espera de mais de meia hora. Mais de dez ministros participaram. De Haddad a Rui Costa. Ex-governadores, líderes, como o presidente da Câmara Hugo Motta, e ex-líderes do Congresso.
Ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann participou remotamente, por uma chamada de vídeo feita logo cedo por seu namorado, Lindbergh Farias. Estava todo mundo lá.
E, quando se fala todo mundo, estavam também os colegas que amargaram os tempos críticos do PT, como Delúbio Soares e o também ex-tesoureiro Paulo Ferreira, que chegou a ser preso em 2016, e que viajou de Porto Alegre a Brasília só para participar da festa.
Agora, Dirceu reunirá no final de semana, para o segundo round do aniversário, a turma dos petistas paulistas em torno de uma feijoada.
Festas de aniversário sempre foram usadas por políticos para alavancar suas campanhas. No caso de Dirceu, elas funcionaram também para testar a temperatura e ver se cabe ainda uma candidatura, no caso a de deputado federal.
Mas o que a festa mostra, para além de uma eleição pessoal, é o discurso que deve influenciar o palanque e os bastidores de 2026. Entre os recados, estão o perigo do contexto internacional e do bolsonarismo crescente, o cuidado com Tarcísio de Freitas e a união dos partidos de esquerda, mais que da frente ampla que inclui o Centrão.
O que mais agradou os ministros foi quando Dirceu disse que é preciso defender o governo Lula. É uma deixa para silenciar os companheiros críticos que têm provocado ruído na imprensa e nas redes sociais.