O livro não se propõe a ser um manual de como auxiliar familiares com dependência química, mas levantar a discussão e romper o silêncio que envolve as drogas -  (crédito: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)

O livro não se propõe a ser um manual de como auxiliar familiares com dependência química, mas levantar a discussão e romper o silêncio que envolve as drogas

crédito: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press

Quando Tita Caldas percebeu que o filho adolescente utilizava drogas, ela não sabia o que fazer ou a quem recorrer para afastá-lo do vício. Nos anos 1980, as informações sobre o assunto eram escassas, e uma família do interior de Santa Catarina tinha ainda mais dificuldades de descobrir como auxiliar um jovem com dependência química. Mesmo assim, a mãe buscou tudo que estava a seu alcance para auxiliar o menino e, quatro décadas depois do início desta jornada, decidiu compartilhar as experiências vividas no livro Drogas - O diário de uma mãe.

A obra, escrita a punho na época, chega às estantes em um momento em que Tita se sente mais preparada para falar sobre o assunto. Tudo por uma causa nobre: acolher pessoas em situações semelhantes. Com este objetivo, expõe sentimentos íntimos para mostrar que as famílias não estão sozinhas nesta luta e, como muitos, enfrentou sentimentos de dor, culpa, raiva e frustração.

O texto reconstrói dolorosos e reais acontecimentos, diálogos, pensamentos e cartas, sem a tentativa de amenizar os traumas. Neste formato confessional, a escritora explicita características comuns de pessoas com vício e que estavam presentes nos hábitos do filho Daniel. As mentiras, as fugas de casa, os ciclos de melhoria e recaída, além do comportamento difícil, são alguns dos episódios relatados.

Só quem já passou pelo que nós passamos pode avaliar o que foi esse tempo em nossa vida. Se tocávamos no assunto, sofríamos; se não tocávamos, sofríamos ainda mais. Sentíamos remorso, porque não estávamos fazendo nada, mas nos sentíamos impotentes. Já estávamos tão sofridos e decepcionados que, às vezes, eu comentava com Paulo que estávamos mesmo era adormecidos, petrificados e, quem sabe, acostumados com o sofrimento [...] (Drogas – O diário de uma mãe, pg. 116)

Apesar disso, Drogas – O diário de uma mãe não se propõe a ser um manual de como auxiliar familiares com dependência química, mas levanta a discussão e rompe o silêncio que envolve as drogas. Com este lançamento, que faz um recorte de uma década na vida do jovem, desde a adolescência até o início da vida adulta, a autora também eterniza as lembranças do filho. Para além das dificuldades, retrata o carisma, a bondade e o respeito à família que eram intrínsecos da personalidade de Daniel, uma vítima do vício.

Tita Caldas se coloca aberta a críticas, para que os leitores possam aprender com os acertos e erros dela. Em várias partes da narrativa, faz uma autoanálise e pondera o que deveria ter feito diferente. Ela explica: “espero que as pessoas reflitam e julguem. Quero que elas aprendam com os meus erros e que entendam a importância de lutar por um mundo melhor, sem que nunca percam a capacidade de amar”.

FICHA TÉCNICA

Título: Drogas – O diário de uma mãe
Autora: Tita Caldas
Páginas: 312
Preço: R$ 56,50 (físico) R$ 24,90 (e-book)
Onde comprar: Amazon | Clube de Autores

Sobre a autora: Nascida em Içara e moradora de Criciúma, em Santa Catarina, Tita Caldas é pedagoga e pós-graduada em Fundamentos da Educação. Com foco em Educação Especial na área de Deficiência Visual, trabalhou em escolas particulares e públicas como professora, coordenadora e diretora. Nascida em 1947, é esposa de Auro Caldas, com quem tem 4 filhos, 11 netos e 4 bisnetos.