Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que mais de 5% da população mundial, ou 432 milhões de adultos e 34 milhões de crianças, necessitam de reabilitação para a perda auditiva incapacitante. Estima-se que até 2050 mais de 700 milhões de pessoas – ou um em cada 10 indivíduos – sofrerão com o problema e 2,5 bilhões conviverão com algum grau de perda auditiva. Pessoas acima de 60 anos são as mais afetadas e representam 25% dos casos.
O otorrinolaringologista do Hospital Semper, Lucas Rocha, explica que as razões para a perda auditiva são muitas e podem estar relacionadas a condições de trabalho e/ou ambientais, além de motivoscongênitos, entre outros fatores. A condição pode ser reversível ou definitiva, sendo solucionada com o uso de aparelhos auditivos ou exigindo outras abordagens.
“Entre os idosos, o principal problema relacionado a audição é a presbiacusia, definida como uma diminuição auditiva relacionada ao envelhecimento. Ela é causada por alterações degenerativas que se instalam, modificando elementos da cóclea, que nada mais é do que a porção anterior do labirinto, formada por aproximadamente 15 mil células. Localizada na região do ouvido interno, a cóclea tem aspecto similar à concha de um caracol, sendo responsável pela função auditiva”, explica.
Lucas acrescenta que a perda ocasionada pela presbiacusia ocorre de maneira lenta, gradual e contínua. “Conforme vai se agravando, a pessoa começa a ter maiores dificuldades de audição e compreensão da fala, o que gera necessidades básicas e pequenas, como aumentar o volume da TV, rádio ou até mesmo dificuldades para entender o que os outros falam”, enumera.
PROBLEMA AFETA OS MAIS NOVOS
Já no adulto jovem, a partir dos 30 anos de idade, uma enfermidade muito comum que, segundo Rocha, afeta o aparelho auditivo é a otosclerose, doença hereditária degenerativa do osso que forma o ouvido interno, levando à fixação de um ossículo do ouvido médio chamado estribo e dificultando assim a transmissão do som. “O estribo é originalmente móvel e o seu movimento transmite o som para o ouvido interno. Quando ele se fixa, há perda de audição”.
A doença se manifesta em duas fases: a primeira é chamada de Otospongiose (o osso está imaturo, não está fixado) e a segunda é a Otosclerose propriamente dita (o osso está maduro e já se fixou). “A doença pode também afetar isoladamente a cóclea. Nesse caso, é chamada de Otosclerose Coclear”.
Lucas Rocha destaca que tanto a otosclerose quanto a presbiacusia têm caráter hereditário e podem ser agravadas em decorrência de doenças crônicas pré-existentes, como as cardiovasculares e o diabetes. “Sendo assim, ao controlar essas comorbidades, teoricamente é possível diminuir a gravidade dos males causados ao aparelho auditivo”.
PREVENÇÃO
O otorrinolaringologista explica que, por não ser possível prevenir os problemas acima destacados, é importante pelo menos o rastreio precoce de perda auditiva na população adulta e nos idosos. “O ideal é fazer um acompanhamento regular anual, no otorrino, por meio de audiometria, exame cujo objetivo é avaliar a capacidade do paciente para ouvir e interpretar sons. Através dele detectam-se possíveis alterações auditivas capazes de determinar os tratamentos mais adequados para cada caso”.
Algumas situações, por exemplo, demandam o uso de aparelhos auditivos, dispositivos que captam o som do ambiente e o amplificam dentro do ouvido. “Além disso, eles contam com um método de diferenciação de vozes, o que facilita a compreensão na conversa com as pessoas.”
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Além dos cuidados individuais para a redução da perda auditiva, Lucas afirma ser necessário a implementação de campanhas de vacinação, contra doenças que podem causar sequelas auditivas; programas de detecção precoce de surdez, com a triagem auditiva; neonatal universal; programas de conscientização da população quanto à exposição a ruídos altos e a prevenção da exposição ao ruído ocupacional.
“A surdez relacionada à exposição a ruídos diretos, inclusive, principalmente nas pessoas que trabalham com máquinas, no trânsito e que não usam protetores auriculares, provavelmente, vai se tornar uma causa muito comum do problema em um futuro não muito distante”.