Em geral, as pessoas buscam o rastreio somente quando já percebem algum problema que atrapalhe a sua vida como, por exemplo, um esquecimento muito frequente -  (crédito: geralt/Pixabay)

Em geral, as pessoas buscam o rastreio somente quando já percebem algum problema que atrapalhe a sua vida como, por exemplo, um esquecimento muito frequente

crédito: geralt/Pixabay

 

O envelhecimento é um fenômeno relativamente recente na história da humanidade: se hoje em dia é comum vivermos além dos 80 anos, essa era uma realidade distante até há pouco tempo: em 1900, por exemplo, vivíamos, em média, 32 anos. E, durante cerca de 200 mil anos, a média de vida das pessoas esteve abaixo de 30 anos. Esse salto, que nos permitiu existir por muito mais tempo, também impõe desafios para a medicina: doenças relacionadas à idade, como Alzheimer, crescem exponencialmente: só no Brasil, a proporção de pessoas com a doença aumentou 127% em três décadas, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).

 

Mas é possível preveni-la? A ciência ainda busca respostas e soluções mais objetivas em relação à prevenção e cura, mas já é consenso entre os especialistas: o diagnóstico precoce e as mudanças no estilo de vida são fundamentais para evitar e/ou retardar o avanço da doença, melhorando a qualidade de vida dos pacientes. Realizar um checape global, que inclua um rastreio para avaliar as funções cognitivas é a melhor forma de antecipar cenários, diz a endocrinologista Alessandra Rascovski, diretora médica da Clínica Rascovski e idealizadora da iniciativa 'Cérebro em Ação', que alerta sobre os 12 fatores de risco mais associados ao desenvolvimento de demência no Brasil.

?“Em geral, as pessoas buscam esse rastreio somente quando já percebem algum problema que atrapalhe a sua vida. Pode ser, por exemplo, um esquecimento muito frequente, uma dificuldade de planejamento. E aí, vamos avaliar como está a saúde do cérebro naquele momento”, conta  Alessandra Rascovski. 

Leia: Sinal de demência pode ser detectado até nove anos antes de diagnóstico

E, segundo Alessandra Rascovski, nem sempre essa conclusão é necessariamente o diagnóstico de uma doença. “A gente, naturalmente, vai diminuindo nossas funcionalidades e habilidades conforme envelhece, o que não significa que se tornará um diagnóstico de demência ou de outra enfermidade. E, sabendo em quais circunstâncias estamos, podemos agir para mudar: desde quimicamente, com medicamentos, e também no estilo de vida, modificando hábitos”, explica.

Cérebro jovem mesmo na velhice 

E o que faz com que essas mudanças sejam possíveis é a neuroplasticidade, um fenômeno natural do cérebro, que tem o poder de se modificar a partir de diferentes tarefas e novos desafios, como explica a fonoaudióloga Ana Alvarez: “Não há uma idade determinada para se fazer um rastreio neurocognitivo, porque as habilidades sempre podem ser ampliadas, melhoradas”.

Leia: Alzheimer pode começar 20 anos antes dos primeiros sintomas

De uma forma geral, o rastreio cognitivo inclui análise multissensorial, da memória espacial, acuidade auditiva, atenção, velocidade, planejamento, inibição, memória e flexibilidade: “Fazemos isso por meio de um protocolo de procedimentos desenvolvido por nós em que usamos métodos de avaliação tradicionais somados a uma triagem multissensorial, de função auditiva central e realidade aumentada imersiva para chegar a uma conclusão”, explica.

Fatores que aumentam as chances de desenvolvimento do Alzheimer

1 - Hipertensão: Manter a pressão arterial controlada é fundamental e é considerado um dos mais importantes fatores para prevenir a doença, mas não só ela: diversas complicações cardíacas podem ser evitadas, além de casos de AVC. “O ideal é sempre ter uma pressão arterial de até 13 por 9”, explica a especialista. Quem já tem a doença, que também tem causas genéticas, deve usar medicação diária para controlar os índices. 

2 - Estilo de vida: Controlar o peso e manter um estilo de vida saudável, com a prática de exercícios físicos, sono adequado, controle do estresse, não fumar e consumir bebida de forma moderada, são fundamentais. Visto que a obesidade, o tabagismo, o alcoolismo e o sedentarismo também são causas importantes nas chances de desenvolver a doença. “A gente vê que são fatores ligados à saúde como um todo e faz sentido: o cérebro não está alheio à saúde do resto do corpo”, comenta Alessandra Rascovski.

3 - Isolamento social: Depressão e isolamento social são outras das possíveis causas para aumento nas chances de desenvolver a doença. “A gente sabe que a pandemia fez com que esses índices aumentassem muito por conta das medidas sanitárias. Mas é importante que as pessoas retomem seus contatos sociais, mesmo que aos poucos, e busquem acompanhamento psicológico e ajuda, caso tenham dificuldade. Somos seres sociais e precisamos estar em contato contínuo com outros para vivermos bem”, afirma a médica.

4 - Contexto socioeconômico e poluição: O nível de escolaridade é considerado o principal fator para a doença no Brasil. O estímulo ao cérebro e o aprendizado até principalmente os 12 anos de idade são ferramentas fundamentais para a saúde do órgão. Outro fator de contexto social é a poluição do ar, também apontada como de risco para o Alzheimer. “Países em desenvolvimento, como o Brasil, tem uma população mais vulnerável a esses fatores. A falta de equidade no acesso aos serviços com certeza atrapalha a saúde da população e é um fator que precisa de atenção dos governos”, ressalta.

5- Diabetes: Doença multifatorial das mais incidentes em todo o mundo, o diabetes também influencia o cérebro, inclusive nas chances de desenvolvimento do Alzheimer. Segundo a especialista, “aqui entra a fórmula de controle de peso, atividade física, alimentação saudável, sono e gerenciamento do estresse. Para quem já foi diagnosticado, o uso correto e controlado da medicação contribui para um melhor manejo da doença”.

6 - Perda auditiva: Nesse caso, além de sempre ir ao otorrinolaringologista para manter a saúde auditiva em dia, vale lembrar que no Brasil, existem mais de 15 milhões de pessoas com algum grau de deficiência auditiva, isso equivale a pouco mais de 7% da população total do país. Pessoas com alguma perda mesmo que leve, sem uso de aparelhos corretivos ou reabilitação, tem risco >42% de desenvolver demência.

7 - Outros fatores: A publicação da Lancet Commission também incluiu traumatismo craniano como fator que influencia para o desenvolvimento de Alzheimer. “O trauma normalmente ocorre por conta de acidentes, por isso a proteção com capacetes e atenção nos esportes com vulnerabilidade a lesões na cabeça, é essencial”, pontua a médica Alessandra Rascovski.