O diabetes é uma doença caracterizada pela deficiência de insulina ou quando é utilizada de forma incorreta pelo organismo. Esse quadro, que pode ser congênito ou adquirido ao longo da vida, resulta em uma alta concentração de glicose no sangue, que pode impactar diretamente na saúde do diagnosticado. Ao todo, existem três tipos de classificações para a doença, que são as mais comuns: diabetes tipo 1, tipo 2 e gestacional.
De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil é o quinto país com maior incidência de diabetes no mundo, ficando atrás apenas da China, Índia, Estados Unidos e Paquistão. E crianças e adolescentes não ficam de fora. Em 2020, cerca de 1,1 milhão foram diagnosticados só com diabetes tipo 1.
Aproximadamente 20 de cada 100 mil crianças e adolescentes podem desenvolver a doença por ano e, normalmente, o seu pico de incidência ocorre entre 10 e 14 anos, o que o torna a doença crônica mais comum entre os pequenos.
"Esse tipo de diabetes ocorre devido a uma deficiência autoimune na produção de insulina, que regula a glicose no sangue e garante energia para o corpo humano. Ele é mais comum na infância", afirma a endocrinologista do AME Itu, administrado pelo Centro de Estudos e Pesquisas Dr. João Amorim (CEJAM) em parceria com a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, Verônica El Afiouni.
Recentemente, pesquisadores americanos apontaram um possível aumento nos casos de diabetes tipo 1 em crianças, ocasionado pela pandemia. O estudo, publicado pela revista Jama Network Open, mostra que, em 2020, os casos de incidência da doença foram 1,14 vezes maiores do que os casos registrados em 2019. A pesquisa analisou mais de 37 mil crianças norte-americanas, com idades entre zero e 18 anos.
“Não se sabe exatamente o motivo que leva algumas crianças a pararem de produzir insulina, mas sabe-se que há uma tendência hereditária associada a algum agravo ambiental como, por exemplo, uma infecção viral. Por isso, o diabetes tipo 1 surge, geralmente, na infância ou na adolescência. Infelizmente, esse é um problema que não pode ser prevenido, pois consiste numa condição do próprio organismo”, complementa a pediatra do Hospital Geral de Itapevi, também gerenciado pelo CEJAM, Layla Nagila Queiroz.
Ainda segundo a profissional, a doença não está relacionada ao estilo de vida ou à alimentação da criança, embora ambos sejam fatores de risco para complicações da doença. E o seu aparecimento na infância também não tem nenhuma correlação com uma possível diabetes gestacional por parte da mãe.
Mas, apesar de o tipo 1 ser o mais comum entre os mais jovens, também tem sido observado um aumento na diabetes tipo 2 nesse público. "Nessa categoria, o organismo produz insulina em quantidade inferior à necessária para manter os níveis normais de açúcar no sangue. Os casos em crianças vêm aumentando, particularmente devido à alimentação inadequada, sedentarismo e sobrepeso", explica Verônica.
Atualmente, o tipo 2 pode ser considerado o segundo mais frequente na faixa etária pediátrica, além de ser o único em que é possível trabalhar a prevenção desde o nascimento. E isso pode ser feito através da adoção de diferentes hábitos saudáveis de vida. "Para evitá-lo, o ideal é que os pais promovam o incentivo à prática regular de exercícios físicos para seus filhos desde cedo, limitem o tempo de tela diário e ofereçam uma alimentação variada e de qualidade, reduzindo a ingestão de alimentos ultraprocessados e fast food", reforça a médica.
Primeiros sinais
Geralmente, algumas características costumam indicar o aparecimento de ambas as classes da doença. Em crianças mais novas, observam-se mudanças de comportamento, como o excesso de fome, choro após a mamada, muita sede, que frequentemente resulta na tentativa de ingerir água durante o banho, trocas mais frequentes de fraldas, devido ao excesso de urina, perda de peso e crescimento insuficiente. Já em crianças mais velhas, o aumento da fome, sede e produção de urina, além do emagrecimento e redução da velocidade de crescimento, também são comuns.
"A gravidade do diabetes depende muito do dano à produção de insulina. No caso do tipo 1, costuma ser mais intensa, já que a destruição das células produtoras de insulina no pâncreas ocorre de forma súbita, levando a episódios agudos de hiperglicemia severa e quadros associados, como acidose e infecções secundárias por imunossupressão”, aponta Verônica.
Por essa razão, segundo ela, o diabetes tipo 1 tende a ser mais grave quando afeta crianças. “No diabetes tipo 2, a insuficiência de insulina se desenvolve de maneira mais gradual, resultando em quadros menos severos em crianças, mas que ainda requerem atenção e cuidados", destaca.
Embora desafiadores, os quadros de diabetes podem ser controlados por meio de uma abordagem multidisciplinar, que inclui alterações na dieta, prática regular de atividade física e, em alguns casos, o uso de medicamentos ou insulina. É essencial que os cuidados sejam personalizados e acompanhados por profissionais da saúde, levando em consideração fatores como idade, hábitos e gravidade da condição de cada paciente.