Projeto verão: quem nunca ouviu falar dele? As academias no final do ano estão lotadas, os parques repletos de corredores e ciclistas. Parece que todo mundo saiu da toca”com um objetivo: ficar com um corpo mais bonito – seja lá o que isso signifique. “É comum que em períodos próximos ao calor, por conta das praias, piscinas e uso de roupas mais curtas, algumas pessoas queiram acelerar os resultados em emagrecimento ou hipertrofia. E, muitas vezes, isso pode ser feito com base em exageros que, além de minimizarem os resultados, podem trazer diversos problemas”, explica a médica nutróloga, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), Marcella Garcez.
Um dos efeitos colaterais mais comuns de exageros no projeto verão é a lesão muscular. “Lesão muscular é uma lesão que afeta o músculo basicamente através da ruptura ou dano às fibras musculares que o compõem. Ela pode ser causada por diferentes fatores, como esforço excessivo, traumas, fadiga, alongamento excessivo, falta de aquecimento e até por desidratação. E esses são fatores de maior risco agora com a proximidade do verão”, explica o ortopedista especialista em joelho e traumatologia esportiva, membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), Marcos Cortelazo.
De acordo com o médico, a dor muscular e o estiramento são os tipos de lesões mais comuns. “A dor muscular é mais frequente em atividades de esforços repetitivos e de força, como a musculação e o Crossfit. Já lesão, lacerações ou estiramentos vemos com mais frequência em atividades com futebol, vôlei e basquete, corrida, entre outros”, explica Marcos Cortelazo.
Muitas dessas lesões são resultados do overtraining, caracterizado por um estresse grande no corpo quando muitos exercícios físicos são feitos sem o descanso necessário, explica a endocrinologista, com pós-graduação em endocrinologia e metabologia pela Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro (SCMRJ), Deborah Beranger. “O overtraining leva à liberação exagerada de cortisol que favorece a lesão muscular e fadiga muscular intensa”, diz a endocrinologista. “Além disso, existem outros sintomas associados, como a perda considerável de rendimento, de forma que os resultados não aparecem, falta de energia já no início do treino, músculos muito doloridos devido ao treinamento anterior (lembrando que esse é um sintoma que não vale como regra para os iniciantes, quando é comum que as dores musculares apareçam nesse estágio), insônia e dificuldade de ter uma boa noite de descanso, dores de cabeça, perda de apetite, irritabilidade e alterações no humor, e ocorrência de lesões”, comenta a endocrinologista.
Outro problema recorrente de quem pisa no acelerador para ganhar mais resultados nessa época do ano, mas pisa no freio para se alimentar menos e emagrecer, é o distúrbio alimentar. “A restrição alimentar severa é um caminho perigoso. As dietas da moda que incentivam o controle de peso fazem muito sucesso porque prometem resultados rápidos. Essas dietas restritivas podem provocar sérios desequilíbrios no organismo, que vão desde os hormônios responsáveis pela regulação do balanço energético, associados a desordens emocionais e descontrole na ingestão alimentar. Se esses sintomas forem intensos e frequentes, aumenta o risco para o desenvolvimento de transtornos alimentares tipo bulimia, anorexia e compulsão alimentar periódica, relacionados às práticas restritivas de alimentos autoimpostas por preocupações exageradas com o peso corporal”, destaca Marcella Garcez.
Os médicos ressaltam que, para aperfeiçoar o corpo, emagrecendo ou ganhando mais músculos, o caminho é o da moderação e da paciência, com exercícios físicos feitos na medida certa e alimentação equilibrada, variada e o mais natural possível. “A reeducação alimentar é um passo importante para perda de peso e para o ganho de músculos, pois leva os indivíduos a mudarem hábitos e mantê-los ao longo da vida, baseadas na individualidade bioquímica, cultural e emocional de cada um”, explica Marcella.
E nada de abandonar os exercícios físicos. “A prevenção das lesões musculares guarda uma relação extremamente positiva com o fortalecimento, sendo assim a musculação é a principal atividade para prevenir lesões. Importante lembrar que os alongamentos também são tão importantes quanto o fortalecimento”, destaca Marcos Cortelazo. Claro, sem exageros. “Para evitar o overtraining, o mais importante é que a prática de atividade física seja feita sob orientação de um profissional. Além disso, é necessário respeitar a recuperação e os dias de descanso, mantendo também uma alimentação saudável e equilibrada, sem privação de nutrientes. É possível, também, diminuir a frequência, o que os especialistas chamam de “deload”, ou evitar treinar por algumas semanas, até que os sintomas tenham desaparecido. E, em seguida, voltar aos treinamentos de forma progressiva e com acompanhamento, respeitando os limites do corpo”, aponta Deborah.