À medida que o ano se aproxima do seu término, uma preocupação constante entre os psiquiatras é o aumento observado no número de pacientes que enfrentam crises de ansiedade e depressão. Essa tendência se estende não apenas aos que já são diagnosticados com esses transtornos, mas também àqueles que até então eram mentalmente saudáveis.
Esses casos atingem seu ponto crítico durante o período de Natal e o início de janeiro, o que levou muitos no meio médico a denominarem essa situação como a "Síndrome do Fim de Ano".
Vicente Beraldi Freitas, médico e consultor em saúde da Moema Assessoria em Medicina e Segurança do Trabalho, esclarece: "Conforme nos aproximamos do fim do ano, um período em que muitos refletem sobre suas realizações anuais e estabelecem novas metas, é natural que surjam sentimentos conflitantes. Enquanto alguns encontram felicidade e satisfação, outros podem sentir-se insatisfeitos, tanto pessoal quanto profissionalmente, o que pode desencadear problemas de saúde mental."
Diversos fatores contribuem para esses casos de depressão e ansiedade no fim do ano, incluindo rupturas pessoais, dificuldades financeiras, perda de entes queridos e frustrações no trabalho, entre outros.
Exposição das conquistas e felicidade nas redes sociais
Por outro lado, a exposição constante das conquistas e felicidade nas redes sociais cria uma ilusão de um mundo perfeito e inatingível para aqueles que já enfrentam dificuldades emocionais, tornando-se um terreno fértil para o agravamento desses problemas.
É essencial que as pessoas estejam atentas a esses sinais e ajam rapidamente para evitar que esses casos se aprofundem. Buscar tratamento adequado é crucial, e as empresas, por sua vez, devem estar preparadas para oferecer suporte.
Leia: Brasil, o país mais ansioso do mundo
Vicente Beraldi Freitas observa que, principalmente entre os jovens, tem havido um aumento alarmante de casos relacionados à ansiedade, que afetam diretamente suas vidas, relacionamentos e desempenho profissional. "Houve casos em que as pessoas não conseguiram continuar trabalhando e pediram demissão como resultado. Embora haja medidas para mitigar essa situação, os desafios estão se tornando cada vez mais complexos."
Esses transtornos mentais, incluindo ansiedade e depressão, são caracterizados por uma preocupação excessiva e constante com eventos negativos que podem ocorrer.
As crises de ansiedade frequentemente fazem com que as pessoas se desconectem do presente, resultando em sintomas físicos como falta de ar, sudorese e arritmia cardíaca. Vicente Beraldi Freitas destaca a complexidade dessas situações: "A ansiedade pode ser desencadeada por fatores internos e externos, e a pandemia, com todas as incertezas e desafios que trouxe, serviu como um gatilho para muitas pessoas, exacerbando também os casos de depressão."
O médico observa que algumas pessoas são mais propensas a esses problemas e têm dificuldade em lidar com eles: "Normalmente, pessoas mais flexíveis tendem a se adaptar melhor e sofrem menos de ansiedade".
Não é frescura
No entanto, mesmo antes dos eventos recentes, como a pandemia e as brigas políticas, já se observava um aumento nas taxas de ansiedade, especialmente entre as gerações mais jovens. Isso pode ser atribuído em parte ao estilo de vida moderno, no qual o uso constante de smartphones e computadores leva a uma desconexão das experiências do mundo real.
Leia: Depressão: sintomas cresceram 26% em adolescentes na pandemia, diz estudo
"Os jovens estão cada vez mais mergulhados no mundo virtual, e a sociedade muitas vezes perpetua a ideia de que o sucesso pessoal e profissional é facilmente alcançável. Essa discrepância entre a realidade e as expectativas pode levar à ansiedade", adverte Vicente Beraldi Freitas.
Para combater esses problemas, é fundamental que as pessoas reconheçam os sintomas, tanto em si mesmas quanto nos outros, e levem o assunto a sério, em vez de considerá-lo como frescura. O tratamento imediato é essencial, pois o tempo desempenha um papel fundamental na resolução desses problemas.
No trabalho
No contexto empresarial, a prevenção pode envolver a promoção do bem-estar por meio de iniciativas de medicina do trabalho. As empresas podem criar grupos de apoio e treinamento para ajudar os funcionários a lidar com situações e pessoas difíceis. Além disso, a capacitação das equipes de recursos humanos para lidar com essas questões é crucial.
Um exemplo de combate a esses problemas é a empresa Confirp Contabilidade. De acordo com Rose Damélio, gerente de RH, a empresa adota uma série de ações. "Nossa equipe de RH busca se aproximar cada vez mais dos colaboradores, fornecendo suporte desde o momento da contratação. Se identificarmos algo que possa indicar um problema, iniciamos ações mais aprofundadas".
Embora a complexidade dessas questões seja inegável, as empresas têm papel importante a desempenhar ao se aproximarem dos colaboradores que enfrentam desafios emocionais, resultando em maior produtividade, redução da rotatividade e um ambiente profissional mais saudável.