De acordo com a Sociedade Brasileira de Otologia (SOB), de cada mil crianças nascidas no Brasil, cerca de três a cinco já nascem com deficiência auditiva. Além disso, já são quase três milhões de brasileiros que têm surdez profunda. Por isso, neste dia 10 de novembro, o país chama a atenção para a importância das ações de combate e prevenção à surdez. Afinal, a audição é um dos sentidos mais importantes do ser humano. A deficiência, que pode ser congênita ou adquirida ao longo da vida, traz diversos danos à qualidade de vida das pessoas, impactando a comunicação e as relações interpessoais.
E um dos maiores desafios da comunidade surda é cuidar da saúde. Deixar de ir ao médico para consultas de rotina ou em caso de dor ou doença parece algo impensável, mas essa é a realidade de muitas pessoas surdas ou com deficiência auditiva severa. E por que isso? Pela dificuldade na comunicação. Ter que escrever ou depender de alguém que informe ao médico os sintomas que estão sentindo é, por vezes, um incômodo que muitos surdos preferem evitar.
Uma pesquisa realizada pela médica Alyne Pacífico com idosos surdos procurou saber qual seria a maior dificuldade enfrentada por eles. O resultado do levantamento, obtido quando ela cursava mestrado em gerontologia, foi unânime: o atendimento médico. Todas as pessoas consultadas disseram que o maior problema era nos cuidados com a saúde, porque na área da educação, por exemplo, já existem intérpretes e auxiliares, mas no setor de saúde elas dependiam totalmente de alguém da família ou da busca por um intérprete. Sendo assim, uma das principais demandas é o acesso a um serviço de saúde especializado, que favoreça a comunicação e respeite a identidade linguística dos surdos.
"Pesquisas mostram que a falta de um bom atendimento de saúde e de um atendimento psicológico adequado pode trazer consequências negativas para a saúde dos surdos, afetando inclusive o aspecto mental, trazendo ansiedade, depressão, baixa autoestima e isolamento social. Por isso, é fundamental que haja um serviço especializado que leve em conta as especificidades dos surdos, com o uso de linguagens de sinais, acessibilidade comunicacional e inclusão social", ressalta o defensor público federal André Naves, especialista em direitos humanos e inclusão social.
Ainda há, por exemplo, escassez de profissionais na área da saúde mental capacitados para atender essa população. Por isso, o defensor público reforça a necessidade de os surdos terem conhecimento de seus direitos e saibam onde buscar ajuda especializada quando precisarem. "Existem serviços especializados em saúde mental para surdos em várias cidades do país. Esses locais contam com psicólogos fluentes em linguagem de sinais e com experiência no atendimento à comunidade surda", explica.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que 5% da população brasileira apresentam alguma deficiência auditiva. Essa porcentagem significa que mais de 10 milhões de cidadãos têm alguma dificuldade para ouvir, sendo que 2,7 milhões têm surdez profunda, ou seja, não escutam nada, e se comunicam principalmente por meio da Língua Brasileira de Sinais (Libras), que é reconhecida como língua oficial do país desde 2002.