Doenças como a esclerose lateral amiotrófica (ELA) e alguns tipos de acidente vascular cerebral causam a síndrome de encarceramento e reduzem ou eliminam a capacidade das pessoas de se comunicar verbalmente, afetando, de forma substancial, sua qualidade de vida. A ELA, por exemplo, pode comprometer totalmente as funções motoras enquanto preserva as funções cognitivas.

Algumas tecnologias assistidas por computador podem trazer de volta a qualidade de vida, mas ainda estão em uma fase inicial, frequentemente limitadas por processamento lento e ineficiências. Pensando nisso, neurocientistas, neurocirurgiões e engenheiros da Universidade Duke, nos Estados Unidos, desenvolveram uma prótese cerebral, feita com um pequeno plástico flexível de uso médico, na qual estão, de forma integrada, 256 sensores cerebrais microscópicos capazes de traduzir os sinais cerebrais de uma pessoa quando ela está tentando conversar.

Segundo o estudo, o desenvolvimento de gravações neurais de alta resolução permitiria a decodificação precisa das características da linguagem, o que é fundamental para uma prótese de fala neural bem-sucedida, mais rápida e confiável.



Até então, as ferramentas que existem para esse tipo de comunicação são lentas e complexas e a grande maioria dos implantes ou eletrodos cerebrais profundos utilizados comercialmente são destinados ao diagnóstico e tratamento de doenças como epilepsias refratárias.

A expectativa no médio prazo é que esses novos modelos de eletrodos não sejam somente destinados aos casos de epilepsia, mas que também comecem a ter indicação e aplicação em sistemas que possam traduzir sinais elétricos do cérebro em formas compreensíveis de linguagem.

De acordo com o médico neurocirurgião Felipe Mendes, membro da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, dessa forma seria possível contornar problemas pelos quais pessoas com doenças como ELA ou AVCs passam.

“Elas possuem um nível de consciência preservado, as funções cognitivas estão presentes, mas sem a capacidade, do ponto de vista motor, de expressar seus pensamentos por meio da fala. Quanto mais essas técnicas e dispositivos forem sofisticados e conseguirem fazer a interpretação daquilo que é mapeado por esses eletrodos, melhor será.”

Felipe conta que, hoje, a grande esperança é que, com a ajuda de AI, os resultados das pesquisas sejam mais promissores e mais rápidos. “A expectativa é que, no futuro próximo, seja possível ter um equipamento menos invasivo, sem a necessidade de que esses eletrodos sejam implantados dentro do cérebro. Talvez eles consigam captar isso de forma externa, através do couro cabeludo, e sejam eficazes em conseguir produzir a mensagem daquelas pessoas que, infelizmente, por vias naturais, não conseguem se expressar”, aponta.

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