No Brasil, o mês de novembro ganha a cor azul para que a população volte os olhos à saúde masculina, especialmente para a prevenção e tratamento do câncer de próstata, a segunda neoplasia que mais mata homens no país. O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima 71.730 novos casos, por ano, no período de 2023 a 2025, totalizando 215 mil. Paralelamente às campanhas de conscientização, a ciência busca alternativas de tratamentos mais eficientes. O esforço dos pesquisadores é desenvolver mecanismos com menos efeitos colaterais e possibilidades de que esse tipo de tumor não atinja outros órgãos.
Cientistas do centro Cedars-Sinai Cancer, nos Estados Unidos, identificaram duas novas abordagens promissoras contra o câncer de próstata com recidiva. Os resultados dos estudos revelam que as terapêuticas reduziram o risco de metástase ou morte em até 58%.
A pesquisa, publicada na revista New England Journal of Medicine, concentrou-se em evitar que os resquícios de testosterona deixados pelo tratamento padrão, a terapia de privação androgênica (ADT) — que visa diminuir a produção do hormônio —, alimentem o tumor.
Verificação in loco
No ensaio, um terço do grupo de 1.068 pacientes, de 17 países, foi submetido à ADT e ao medicamento chamado enzalutamida, que bloqueia completamente os efeitos da testosterona. Os demais foram divididos em dois grupos: um que recebeu somente a droga e outro que fez o tratamento padrão. Ao observar os resultados, os cientistas verificaram que a combinação de terapia de privação androgênica somada ao enzalutamida reduziu o risco de metástase ou morte em 58% em comparação com a ADT sozinha. O remédio isolado também foi eficaz, mostrando uma diminuição de 37% do risco de morte ou da doença se espalhar.
Para os pesquisadores, os dados são uma nova esperança contra a patologia. Stephen Freedland, autor sênior do estudo e pesquisador do centro, conta que não demora para as abordagens serem usadas amplamente.
"Será necessário obter a aprovação dos órgãos regulatórios. Após isso, as empresas de seguro de saúde precisarão concordar em cobrir os custos. Concluídas essas etapas, a enzalutamida poderá ser utilizada por esses homens para atrasar a progressão da doença, preservando a qualidade de vida", diz Freedland.
Expectativas
Para Mariane Dias, oncologista clínica e membro do Comitê de Tumores Geniturinários da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), a droga testada não é nova no cenário brasileiro, o que poderia facilitar seu uso para essa finalidade.
"Ela já está aprovada em diversas indicações. A novidade é que a gente está trazendo essa droga para um cenário mais precoce", observa a médica. "É um tratamento mais intenso e mais eficaz, mostrando desfechos oncológicos positivos", analisa.
Um artigo publicado na revista Journal of Clinical Oncology mostra a relação entre a calvície masculina e o risco de câncer de próstata agressivo. O estudo menciona que cerca de 40% dos voluntários que perderam cabelo, na região próxima à testa, tinham mais chances de desenvolver o tumor.
Porém, 50% dos homens sofrem de calvície, tornando preciso investigar e verificar se a perda de pelos está no quadro de normalidade "É um processo que precisa de cuidados, principalmente quando é observado que a quantidade de fios que cai por dia ultrapassa os 100 a 150, no caso a queda é maior do que o normal. Nesse momento, é hora de procurar um especialista", diz a tricologista Viviane Coutinho, membro docente da Academia Brasileira de Tricologia (ABT).
Impactos
A radioterapia em alguns pacientes com câncer de próstata causa efeitos colaterais, como problemas para urinar, mesmo após o fim da terapêutica. Uma equipe do Corewell Health, nos Estados Unidos, descobriu que uma simples ressonância magnética (MRI) serve para identificar quais homens sofrerão com esses problemas. Os resultados, descritos recentemente na revista Academic Radiology, mostram que aqueles com uretras prostáticas — parte do canal que passa pela próstata — mais longas têm risco cerca de duas vezes maior de dificuldade na micção.
No trabalho, foram avaliados MRI de 361 homens tratados com radioterapia. Os cientistas mediram várias partes anatômicas, incluindo o comprimento da uretra prostática, o tamanho da próstata e alterações na bexiga. "Também registramos fatores desses pacientes que poderiam colocá-los em risco aumentado, como sintomas urinários anteriores, histórico de diabetes, idade, entre outros", observou Kiran Nandalur, autor principal e pesquisador do centro.
Conforme os resultados, para cada aumento de 1 cm na uretra prostática, a chance de enfrentar problemas de urgência para urinar e a necessidade de fazer xixi com mais frequência subiam em 60%. Homens com essa parte do canal de tamanho superior a 4,6cm tiveram quase duas vezes mais risco de apresentar os sintomas. "MRI é uma ferramenta poderosa para avaliar a extensão do câncer de próstata de um paciente, mas também o potencial risco de desenvolver efeitos colaterais após a terapia", destacou Nandalaur.
Conhecimento
O tratamento padrão quando a doença está restrita à próstata envolve três abordagens: cirurgia, radioterapia ou observação vigilante. Rafael Amaral, oncologista clínico e membro da SBOC, reforça que é importante conhecer os efeitos adversos. "A próstata fica anatomicamente próxima à bexiga e ao reto. Logo, o raio passa por esses órgãos vizinhos. Os efeitos colaterais mais comuns são inflações, levando a retite (inflamação do reto) e cistite (inflamação ou infecção da bexiga)", diz o médico.
Em seguida, o oncologista acrescenta: "Além de dificuldades no controle da evacuação e micção, essas sequelas podem ser permanentes e levam ao prejuízo enorme na qualidade de vida dos homens. Muitos ainda com vida sexual ativa".
Duas perguntas para / Moacir Rafael Radaelli, urologista e vice-presidente da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA)
Quais mudanças na ciência nos últimos anos têm mostrado impacto na prática clínica?
Nas últimas décadas, houve avanços notáveis no diagnóstico do câncer de próstata, que oferecem uma série de técnicas mais precisas, como a técnica de análise de biomarcadores e testes de sangue mais avançados. Exames, como o antígeno prostático específico (PSA), foram aprimorados, além do teste de urina, que permitem uma avaliação precisa do risco do câncer sem a necessidade do exame de toque.
As novidades chegam até a maioria dos pacientes?
É preciso compreender que nem todos os pacientes se beneficiam dessas inovações da maneira ideal. A conscientização quanto aos riscos do tumor deve ser feita durante todo o ano. É alarmante o que ocorre. É preciso ter atenção especial a esses homens a partir dos 40 anos.
Esperança real
Cientistas paquistaneses e chineses investigaram como um pequeno fragmento de material genético, chamado miR-18a-5p, promove o crescimento de lesões ósseas causadas pela metástase do câncer de próstata. Durante a pesquisa, detalhada, recentemente, na revista Genes & Diseases, os pesquisadores verificaram que o microRNA estava mais ativo em pacientes diagnosticados com o tumor. Os pesquisadores observaram que esse material genético era transferido das células do tumor prostático para as estruturas ósseas.
Segundo os estudiosos, o miR-18a-5p influenciou genes específicos, levando a um aumento na formação de feridas nos ossos. Buscando uma alternativa para reverter o quadro, a equipe testou um tratamento que reduz a ação do microRNA em camundongos e notou melhorias significativas nos animais.
"Com avanços em terapias direcionadas e métodos de entrega de medicamentos, essa pesquisa pode levar a tratamentos aprimorados para a metástase óssea do câncer de próstata, trazendo esperança para pacientes, familiares e profissionais de saúde na luta contra o câncer de próstata e suas complicações", relataram os estudiosos em nota.
Fabio Schutz, oncologista da Beneficência Portuguesa de São Paulo, destacou a relevância da pesquisa, mas defende mais investigações. A pesquisa é preliminar e foi realizada com camundongos. "Entretanto, sem dúvida é bastante interessante. A metástase óssea no câncer de próstata é um problema grande, visto que provavelmente mais de 90% dos pacientes que evoluem com doença metastática vão acabar desenvolvendo-a nos ossos."
Essa é apenas uma alternativa dentre diversas que estão sendo desenvolvidas na busca pela melhoria da qualidade de vida de pacientes. Um estudo da Universidade de Uppsala, na Suécia, publicado na revista Jama, mostra que a implementação de novas terapias ajudaram a aumentar a sobrevida dos diagnosticados ao longo dos anos.
O ensaio revela que o tratamento duplo — quando há terapia hormonal padrão e quimioterapia ou bloqueadores de receptores de andrógenos — pode ter sido responsável por elevar as taxas de sobrevivida de homens com tumor geniturinário no país.
Os resultados mostram que a terapia dupla foi administrada a apenas 1% dos pacientes, em 2016, e a 40%, em 2020. A média de sobrevivência aumentou seis meses nesse intervalo. "Encontramos uma clara associação temporal entre a introdução do tratamento duplo e a melhoria das taxas de sobrevivência", disse, em nota, Marcus Westerberg, da Universidade de Uppsala e coautor do artigo.