Acredite, o protetor solar faz tanto pela sua pele, que todas suas boas ações não cabem no rótulo. E é por isso que esses produtos são cercados de siglas, abreviações, apelos de marketing e informações que muitas vezes dificultam o entendimento para a compra do produto mais indicado para a pele. “O consumidor brasileiro não é acostumado a usar protetor solar diariamente, lembra dele mais no verão, mas em muitos casos nem imagina o que todas essas informações querem dizer. Não entender o rótulo de um protetor solar pode fazer com que um paciente compre um produto que não é indicado para sua pele, por exemplo, ou então não dar valor a um produto que oferece outras formas de proteção, principalmente contra o calor e luz visível. Muitas pessoas desconhecem a importância de várias dessas siglas e palavras, que precisam se tornar mais populares”, destaca a dermatologista Ana Maria Pellegrini, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia. Se você é ‘vítima’ de siglas como FPS, PPD, PA+, IR, abaixo, a médica explica tudo que você precisa saber para escolher o melhor produto para sua pele.



Entendo as siglas

O maior imbróglio está nas siglas. E não é por menos, já que muitas delas são abreviações do inglês. “Entender as siglas de um fotoprotetor é de tamanha importância, já que estamos falando de raios solares que podem causar envelhecimento, manchas e câncer de pele, e do que é usado para proteger desses raios”, explica Ana Maria Pellegrini. Vamos a elas:

UVA – É uma radiação emitida pelo sol e presente ao logo do dia, do nascer ao pôr do sol. “É capaz de atravessar nuvens, janelas e vidro dos carros. Sua incidência não muda com a época do ano nem com o clima”, destaca a médica. “Da mesma forma que atravessa janelas, esse tipo de radiação penetra profundamente na pele, por isso ela é considerada a principal responsável pelo envelhecimento precoce (manchas e rugas). Mas, diferente da UVB, ela é indolor, sua ação é na derme, sendo responsável por produzir os temidos radicais livres”, diz a médica. É uma radiação que aumenta o risco de câncer de pele.

UVB – É a outra radiação ultravioleta de maior importância para a pele. O UVB é capaz de deixar a pele avermelhada, com eritema, e por isso causa queimaduras e ardência. “Essa radiação está presente em maior porcentagem entre às 10 e 16h e está envolvida na síntese da vitamina D. No entanto, por reduzir as defesas primárias do corpo, presentes na superfície da pele, também aumenta o risco de cancerização”, diz a médica.

Leia: Protetor solar em cápsula funciona? Saiba quando e como usar essa proteção

FPS – A sigla FPS significa Fator de Proteção Solar e é um índice que determina o tempo em que uma pessoa pode estar exposta ao sol sem deixar a pele vermelha. "É o valor obtido pela razão entre a dose mínima de vermelhidão na pele protegida por um protetor solar e a dose mínima de vermelhidão na mesma pele quando desprotegida", explica. Essa proteção refere-se apenas aos raios UVB. Qual é o FPS ideal? "Se eu aplicar fator 30, ele absorve em média 96,7% da radiação solar. No caso do fator 50, ele está absorvendo 98% da radiação solar. Uma das estratégias recomendadas é o uso da "regra da colher de chá", na qual consideramos a aplicação de uma colher de chá no rosto e em cada um dos membros superiores e duas colheres de chá para tronco/dorso e para cada um dos membros inferiores", explica Ana Maria Pellegrini. "Como nenhum protetor solar pode filtrar 100% dos raios UV, as roupas de proteção (com FPS), chapéus e abrigo da sombra também são indicações importantes", completa a médica. Em miúdos, o objetivo do FPS é não deixar sua pele vermelha e com defesas enfraquecidas.

PPD / FP-UVA – PPD significa Persistant Pigment Darkening e indica o grau de proteção contra os raios UVA. Nos rótulos, o PPD pode aparecer como FP-UVA (Fator de Proteção UVA). "No estudo de UVB (FPS), medimos o quanto a pele demora para ficar vermelha quando exposta ao UVB. No caso do estudo UVA, mede-se o quanto a pele demora a apresentar pigmentação por melanina quando exposta ao UVA. Embora negligenciado na hora da escolha de um produto, o PPD é um índice importante. O ideal é que o rótulo tenha números a partir de 10 ou represente, no mínimo, um terço do FPS", diz a médica.

PA+ – Protetores solares importados podem contar com as siglas PA+, PA++, PA+++, PA++++. “O PA é uma escala PPD, ou seja, o grau de proteção UVA de um protetor solar: De acordo com a metodologia Measurement Standards for UVA Protection Efficacy, descrita pela Japan Cosmetic Industry Association, uma proteção entre 2 e 4 é apontada como PA+, entre 4 e 8 é PA++, entre 8 e 16 é PA+++ e maior que 16 é PA++++, sendo os dois últimos as melhores opções", explica a dermatologista.

IR – Sigla mais rara de ser encontrada, mas que precisa conhecer é IR, que significa Infrared ou infravermelho, uma radiação sentida na pele por meio do calor ou mormaço. "Esse é um comprimento de onda que atinge a derme mais profunda onde estão as fibras de ancoragem e sustentação da pele. E isso traz consequências à elasticidade da pele". Além disso, o infravermelho também está associado a piora de manchas pré-existentes, especialmente do melasma. A dermatologista explica que, nesses casos, é importante o uso proteção física e antioxidantes que diminuam o processo inflamatório causado pelo Infrared. Para esse tipo de proteção, os filtros físicos ou com cor são uma boa pedida. “Mais recentemente, temos visto produtos com moléculas específicas para atuar na proteção contra o calor”, diz Ana Maria Pellegrini.

Apelos de marketing: pode acreditar?

Apelos de marketing em protetores solares nem sempre querem dizer algo com o objetivo único de vender produto e enganar o consumidor. "Muitos apelos de marketing são altamente importantes para entender qual é o produto mais indicado para minha necessidade", diz a médica. Como exemplo, estão o “toque seco” e protetor “à prova d’água”:

À prova d’água – A informação parece óbvia, mas é bom entender que há um pouco de exagero nela. O mais correto é entender que alguns protetores solares são resistentes à água do mar e piscina, e também ao suor. "Quando um filtro solar é resistente à água, ele permanece eficaz por, em média, 40 minutos na pele molhada. Quando ele é muito resistente à água, o filtro solar permanece eficaz por 80 minutos na água. A versão muito resistente à água é mais indicada para crianças e esportistas. No entanto, sempre reiteramos a recomendação de reaplicar o filtro a cada duas horas e após os banhos de mar e piscina, uma vez que também tendemos a passar mais a mão no rosto ou no corpo, ajudando a retirar o filtro. Reaplicando, garantimos uma pele protegida", explica Ana Maria Pellegrini.

Leia: Pesquisadores criam filtro solar mais natural, eficaz e ecológico; conheça

Amplo espectro – Um filtro solar padrão deve proteger sua pele contra o UVA e UVB. Mas ele pode ir além disso: "Um filtro solar de amplo espectro protege a pele do envelhecimento (manchas, rugas e flacidez), de queimadura e ajuda a prevenir o câncer de pele, e também pode conter extratos e ativos antioxidantes e anti-inflamatórios, que ‘limpam’ parte da ‘sujeira’ deixada pela radiação que escapou do filtro solar. Esses ativos são importantes porque, como vimos, nenhum filtro confere 100% de proteção; e nem sempre aplicamos de maneira uniforme e na quantidade adequada. Eles também podem conferir efeito antipoluição”, destaca a dermatologista.

Antioxidantes – Essas moléculas tornaram-se muito famosas nos últimos anos. "Os antioxidantes minimizam a formação de radicais livres (e em alguns casos revertem os danos causados por eles). Eles são considerados excelentes aliados no dia-a-dia. Os radicais livres são átomos ou moléculas instáveis e altamente reativas que, em excesso, passam a atacar células sadias, como proteínas, lipídios e DNA. A radiação solar, o infravermelho e a luz visível são capazes de gerar radicais livres, que também danificam a membrana e a estrutura da célula, podendo, em casos extremos, levar à morte celular", diz a médica. Quando um protetor solar tem antioxidante, geralmente ele também é considerado de amplo espectro e oferece benefícios adicionais como ação: anti-inflamatória, reparadora e antipoluente. "Os antioxidantes mais famosos são as Vitaminas E, C e B3 (niacinamida), além do ácido ferúlico e do resveratrol", diz a médica.

Cor – Praticidade (por ajudar na make) ou proteção? Filtros com cor ajudam a uniformizar o tom da pele, mas não só isso: "Eles têm substâncias, normalmente o dióxido de titânio e óxido de zinco, que conferem proteção física à luz visível. São excelentes aliados principalmente para pacientes com melasma, já que as manchas podem piorar com a exposição prolongada à luz visível.

Filtros químicos e físicos – Divididos entre químicos e físicos, os filtros atuam de maneiras diferenciadas. "Existem dois tipos de ação para o filtro solar. Os filtros físicos (óxido de zinco e dióxido de titânio) refletem a luz solar. É como se fosse uma parede de tijolos em que a luz bate e volta. Já os filtros químicos absorvem a radiação UV, transformando-a em baixa energia, sem capacidade de causar prejuízos. A maioria dos produtos ofertados no mercado, sem cor, conta com a proteção química, já os produtos com cor oferecem ambos tipos de proteção. Os filtros puramente físicos costumam apresentar na embalagem a informação de que são "100% mineral" e são mais indicados para pessoas de pele sensível ou sensibilizada. Ou ainda para aquelas que possuem doenças fotossensíveis", diz a dermatologista.

Combate o fotoenvelhecimento/Anti-idade – Quando há a informação no rótulo do filtro de que protege contra o fotoenvelhecimento ou é anti-idade, ele está reforçando a ideia de que o protetor solar é a melhor arma de uso tópico contra o aparecimento das manchas e envelhecimento precoce, além de poder contar com moléculas que ajudam a tratar a pele.

Luz visível – A luz visível é emitida não só pelo sol como também por computadores, celulares, tablets e outras telas que você possa ter em casa. No entanto, a médica explica que os estudos mostram que é irrelevante o dano provocado pelas telas dos computadores. “A quantidade de energia emitida pelos aparelhos eletrônicos é muito baixa comparada à luz solar natural. Os últimos estudos mostram que devemos nos preocupar com a luz visível natural”, explica a médica.

Protetor solar com repelente – Cuidado! Pode parecer tentador ter tudo em um produto só, mas o problema dos multifuncionais é a quantidade que aplica e a frequência das reaplicações. O protetor solar deve ser aplicado de forma generosa; o repelente de insetos deve ser aplicado em fina camada e com menos frequência do que o protetor solar.

Toque seco – Muitas vezes a textura, ou melhor, o veículo do protetor solar também consta no rótulo. São eles: gel, creme, gel-creme, loção, spray, bastão. E também informações como "toque seco", "efeito matte" ou "hidratante". "Todos esses são veículos que carregam as partículas protetoras e devem ser considerados na hora da escolha de um fotoprotetor, pois uma textura adequada ao seu tipo de pele e rotina ajuda na adesão ao uso diário”, alerta Ana Maria Pellegrini.

compartilhe