Há pouco mais de um ano e três meses, o aposentado Nívio Rodrigues, de 57 anos, natural de Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), começou a sentir dores na cabeça que atrapalhavam na hora de dormir e durante o trabalho. Logo em seguida, veio a perda dos movimentos dos dois lados do corpo. Depois de várias consultas e medicamentos que não resolveram o problema, uma ressonância magnética deu o diagnóstico: glioblastoma multiforme, um tipo agressivo de tumor cerebral. O choque da notícia veio acompanhado da expectativa de vida que ele poderia ter dali para frente, que ia de três meses a um ano.

 


Com a investigação concluída, Nívio chegou à Santa Casa BH, referência em Minas Gerais no tratamento de todos os tipos de câncer adulto e pediátrico. A instituição conduz, desde janeiro de 2022, uma pesquisa que busca desenvolver uma nova opção de tratamento para os casos novos de glioblastoma multiforme. O estudo é conduzido pelo Departamento de Neurocirurgia da Santa Casa BH Hospital de Alta Complexidade 100% SUS e pelo Laboratório de Biologia Molecular e Biomarcadores da Faculdade de Saúde Santa Casa BH, com o apoio do Ministério da Saúde - no âmbito do Programa Nacional de Apoio à Atenção Oncológica (PRONON) - e da Prefeitura de Belo Horizonte (Secretaria Municipal de Saúde).

Como atendeu aos critérios de participação, Nívio se tornou voluntário da pesquisa e passou pelas duas etapas do tratamento. A primeira delas consiste na cirurgia de retirada do glioblastoma, que utiliza um microscópio de alta tecnologia e um composto orgânico, como explica um dos coordenadores do estudo, o neurocirurgião da Santa Casa BH, Marcos Dellaretti: “Aplicamos uma substância chamada fluoresceína, no momento da indução anestésica, e isso gera o mesmo efeito de contraste dos exames de ressonância magnética. O tumor fica amarelo, enquanto o cérebro se mantém branco. Dessa forma, conseguimos distinguir as áreas normais das regiões afetadas, podendo assim aumentar a extensão da remoção, melhorando os índices de retirada tumoral. A tecnologia também utiliza realidade aumentada”.

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Nívio passou por dois procedimentos com a fluoresceína, ambos bem sucedidos. Com isso, pouco tempo depois, já apresentou evolução. “Logo depois da primeira cirurgia, vi que estava melhor, fiquei animado e queria que as enfermeiras e os médicos vissem que eu me sentia bem. Me levantei do leito e tentei andar. Hoje, estou me sentindo bem, graças a Deus, e foi devido ao tratamento da Santa Casa BH. Também não estou fazendo mais quimioterapia. É uma nova vida com certeza!”, relata.

Controle da doença e acompanhamento

Com o sucesso do tratamento do glioblastoma multiforme, os três meses de expectativa de vida que foram dados a Nívio ficaram para trás. No entanto, como explica Dellaretti, não é possível, ainda, falar em cura, mas em controle, “isso significa que pode haver a recidiva do tumor, ou seja, ele pode voltar, o que é bem comum nos casos de glioblastoma”, pontua o neurocirurgião da Santa Casa BH.

E é aí que entra a segunda etapa da pesquisa: o monitoramento da recidiva tumoral nos pacientes operados, por meio da biópsia líquida. Com essa técnica molecular, é possível identificar o reaparecimento do glioblastoma antes mesmo que ele seja detectável nos exames de imagem.

As coordenadoras dessa frente do estudo são as docentes e pesquisadoras Cristina Moraes Junta, bióloga molecular e geneticista, e Renata Simões, biomédica e patologista molecular, ambas da Faculdade de Saúde Santa Casa BH. Cristina pontua que “a biópsia líquida é um exame com baixa invasibilidade, já que depende somente da coleta do sangue do paciente. O exame detecta alterações no DNA tumoral circulante presente no plasma sanguíneo, devido ao desprendimento dessas moléculas do tumor sólido”.

Já Renata completa que, “com a detecção precoce da volta da atividade tumoral proporcionada pela biópsia líquida, que é um método com maior sensibilidade, é possível, por exemplo, adequar a conduta terapêutica do oncologista”.

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O Nívio se encontra nessa fase. Seu material genético está sendo monitorado periodicamente e, de três em três meses, comparece à Santa Casa BH para ser avaliado. Porém, para ele, a sensação já é de vitória. “Quando cheguei em casa depois desse susto todo, a primeira coisa que fiz foi abraçar minhas duas filhas, que são o presente que Deus meu deu”, relatou emocionado.

Novos pacientes voluntários

A pesquisa desenvolvida pela Santa Casa BH ainda está recebendo voluntários. Eles devem ter mais de 18 anos, com diagnóstico de glioblastoma multiforme e indicação da retirada do tumor. Todos os voluntários serão avaliados pela equipe da pesquisa. Os interessados em participar devem entrar em contato pelo WhatsApp (31) 99581-6309

 

 

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