O tempo excessivo de tela impacta níveis de cognição em todas as idades, principalmente a atenção sustentada, que é a capacidade de manter o foco em um estímulo constante por um período prolongado. Estudo recente publicado na revista científica Neuropsychology Review, analisando 34 pesquisas anteriores sobre vários usos de telas, revela que o desempenho cognitivo de indivíduos com uso desordenado de tela é consistentemente inferior, abrangendo áreas como atenção, memória e controle de impulsos.

Os pesquisadores alertam que a população deve ser cautelosa ao defender mais tempo de tela, pois isso pode afetar diversas capacidades cognitivas. Não houve diferença significativa nos resultados entre diferentes faixas etárias, e o tipo de atividade na tela não influenciou as conclusões. Entre as consequências listadas, os estudiosos incluem dificuldades em ambientes menos estimulantes, como locais de trabalho ou salas de aula, e a possibilidade de comportamentos problemáticos relacionados à tela.



Segundo o médico neurocirurgião membro da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, Felipe Mendes, já é sabido que o uso excessivo de telas pode afetar a saúde mental e o desempenho cognitivo das pessoas e, quanto mais investigações sobre esse tema, maiores as possibilidades de encontrar dados que auxiliam na prevenção, reduzindo esses malefícios.

“Isso é essencial, especialmente em uma época em que a tecnologia faz parte da vida cotidiana. Por meio dos estudos, é possível obter orientações para práticas saudáveis em relação ao uso de dispositivos eletrônicos e ter mais consciência sobre os riscos potenciais associados ao uso desordenado de telas, permitindo a tomada de decisões bem informadas sobre o tempo de exposição.”

Além disso, o neurocirurgião conta que compreender os impactos do tempo de tela é vital para que pais e educadores possam implementar estratégias adequadas para limitar o tempo de tela em crianças e jovens, promovendo um ambiente mais saudável para o desenvolvimento cognitivo.

“As pesquisas fornecem também dados valiosos para que políticas públicas criem diretrizes e regulamentações que protejam a saúde mental da população, especialmente de grupos mais vulneráveis.” Reverter completamente os efeitos negativos do tempo excessivo da tela na cognição pode ser desafiador, mas, de acordo com o médico, existem estratégias que podem ajudar a minimizar esses impactos e promover uma melhoria gradual.

Como forma de prevenção, ele fala sobre a adoção de algumas estratégias, tais como definição de limites claros para o tempo de tela diário (entre uma a duas horas por dia), especialmente para crianças e adolescentes, evitar o uso durante o período noturno, ativar o modo de filtro de luz azul e desativar notificações de aplicativos, monitoramento de perto dos pais, promoção de atividades off-line, buscar estabelecer rotina saudável de sono e de atividades físicas ao longo do dia, bem como se certificar de que o conteúdo consumido nas telas seja educativo, enriquecedor e adequado para a faixa etária.

“A mesma regra se aplica a outras idades. O equilíbrio no uso de telas também é importante para manter uma boa saúde cognitiva e bem-estar geral, lembrando que a interação social é fundamental para isso, bem como estar atento para entender se o uso de telas está impactando negativamente a qualidade de vida. O usuário deve usar a tecnologia com moderação e estar consciente do conteúdo consumido, evitando informações falsas e prejudiciais, procurando sempre por aqueles conteúdos que sejam informativos e positivos.”

No lugar das telas, vale, de acordo com Felipe, introduzir atividades cognitivas desafiadoras, como quebra-cabeças, jogos de tabuleiro, palavras cruzadas ou aprendizado de novas habilidades como um novo idioma, por exemplo. “Essas atividades estimulam o cérebro de maneiras diferentes. O aprendizado ativo, seja por meio de cursos online, workshops ou participação em grupos de estudo, também é importante para manter a mente engajada e trabalhando o tempo todo”, aponta.

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