Ficou constatado que as mulheres conseguiam caçar com sucesso durante períodos prolongados de tempo -  (crédito:  Samantha Mash/Reprodução/Scientific American)

Ficou constatado que as mulheres conseguiam caçar com sucesso durante períodos prolongados de tempo

crédito: Samantha Mash/Reprodução/Scientific American

A ideia de que os homens pré-históricos eram os caçadores da sociedade enquanto as mulheres cuidavam das colheitas, coleta de alimentos e dos filhos está errado. A nova perspectiva da história social é apontada por um estudo liderado pela bióloga humana Cara Ocobock e Sarah Lacy, antropóloga biológica. Segundo a pesquisa, as concepções sobre as mulheres e os homens pré-históricos não foram eram muito precisas ao longo do tempo. O texto foi publicado na revista científica Scientific American (e pode ser lido na íntegra neste link).

Foram analisadas evidências fisiológicas e arqueológicas para determinar que não só as mulheres pré-históricas se dedicavam à prática da caça, como a sua anatomia e biologia as tinham tornado intrinsecamente mais adequadas para isso.


Análises levaram à várias evidências

Pela análise fisiológica ficou constatado que as mulheres conseguiam caçar com sucesso durante períodos prolongados de tempo e que eram capazes de realizar a árdua tarefa física de capturar presas.

Já no ponto de vista metodológico, o corpo feminino era mais adequado para atividades de resistência, “o que teria sido crítico no início da caça, porque eles teriam que atropelar os animais até a exaustão antes de realmente começarem a matá-los”, afirmou Ocobock na pesquisa.

Neste caso, os hormônios estrogênio e adiponectina eram os maiores contribuintes e desempenhavam a função de permitir que o corpo feminino module a glicose e a gordura o que auxilia no desempenho atlético.

Vale lembrar ainda que o estrogênio também protege as células do corpo contra danos durante a exposição ao calor devido à atividade física extrema. “O estrogênio é realmente o herói anônimo da vida, na minha opinião. É muito importante para a saúde cardiovascular e metabólica, o desenvolvimento do cérebro e a recuperação de lesões", ressaltou Ocobock.

Outra evidência encontrada que corrobora com a viabilidade das mulheres conseguirem caçar era a estrutura do corpo.

"Com a estrutura de quadril tipicamente mais larga das mulheres, elas são capazes de girar os quadris, alongando os passos. Quanto mais passos você puder dar, mais 'baratos' eles serão do ponto de vista metabólico. Quando você olha para a fisiologia humana dessa maneira, você pode pensar nas mulheres como corredores de maratona e nos homens como levantadores de peso", argumentou Ocobock.
Arqueologia

Em vários achados arqueológicos as pesquisadoras conseguiram encontrar evidências de que as mulheres pré-históricas tinham ferimentos causados pela caça de contato próximo.

“Encontramos padrões e taxas de desgaste igualmente em mulheres e homens então ambos estavam participando de caçadas de grande porte em estilo de emboscada", explica Ocobock.

Existem ainda evidências de mulheres no período Holoceno no Peru que foram enterradas com armas de caça. "Você não costuma ser enterrado com algo, a menos que seja importante para você ou algo que você usou com frequência em sua vida", ressalta a pesquisadora.

Além disso, não houve indicadores de que estas mulheres deixavam de caçar quando estavam grávidas, amamentando ou até mesmo enquanto carregavam crianças. "A caça pertencia a todos, não apenas aos homens", pontuou Ocobock.