O papilomavírus humano (HPV) está cada vez mais relacionado ao desenvolvimento do câncer de cabeça e pescoço e apresenta uma tendência de crescimento no mundo. É o que apontam os dados preliminares do projeto STOP-HPV, liderado pelo Hospital Moinhos de Vento em parceria com o Ministério da Saúde via Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS (Proadi-SUS). De acordo com o estudo, pessoas com infecção por HPV oral apresentam uma chance 6,29 vezes maior de desenvolver câncer de cabeça e pescoço.
O objetivo do estudo, que envolveu 335 participantes, é avaliar a associação entre HPV e câncer de cabeça e pescoço em todas as regiões do país. Foram 150 pacientes com câncer de cabeça e pescoço, cujos resultados foram comparados a outros 185 indivíduos sem câncer, mas com características semelhantes em relação a hábitos de vida, sexo e faixa etária. O projeto envolveu 100 profissionais da saúde de 12 hospitais brasileiros.
“Se olharmos para os tipos de HPV de alto risco, observamos que a presença da infecção em pessoas com câncer chega quase a triplicar (12,6% contra 4,6%, no HPV oral). Nos casos de HPV de risco mais baixo, o percentual de HPV oral entre as pessoas com câncer é duas vezes maior do que entre as pessoas sem câncer. Foi possível comprovar que a infecção por HPV é um fator importante para o desenvolvimento do câncer de cabeça e pescoço”, destaca a médica epidemiologista do Hospital Moinhos de Vento e líder do projeto, Eliana Wendland.
Todos os participantes da pesquisa responderam a um questionário sobre aspectos relacionados ao câncer de orofaringe, como tabagismo, etilismo, uso de substâncias psicoativas, histórico familiar, higiene bucal, comportamento alimentar, além de questões sobre comportamento sexual, de forma a compreender a possível associação da doença ao vírus HPV. Os dados foram coletados entre junho de 2019 e novembro de 2023, com interrupção durante a pandemia.
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Usualmente associado ao tabagismo e ao consumo excessivo de álcool, o câncer de cabeça e pescoço ocupa a oitava posição entre os tipos de cânceres mais frequentes. Cerca de 21% dos casos e controles são fumantes ativos, não havendo diferenças entre os casos e controles. Com relação ao consumo de álcool, 14% dos participantes com câncer bebem quatro ou mais vezes por semana, comparado com 1,9% dos controles. “No entanto, quando avaliamos os fatores associados à presença de câncer, somente o HPV foi determinante, mesmo quando levado em consideração o fumo e o consumo de álcool”, alerta Eliana.
A partir dos resultados, destaca a pesquisadora, será possível compreender a magnitude do problema. “Os números servem como base para que o Ministério da Saúde possa aperfeiçoar as políticas públicas adequadas à demanda da população”, recomenda.
O evento de apresentação de dados foi realizado em Porto Alegre. Além do STOP-HPV, também foram conhecidos os resultados do projeto POP-Brasil 2, que avaliou a prevalência de HPV nacionalmente, monitorando o impacto da vacinação contra o HPV, e do SMESH, que analisou a prevalência de HPV em populações de alto risco, como profissionais do sexo e homens que fazem sexo com homens.