O último mês do ano marca o início da campanha Dezembro Vermelho, dedicada a sensibilizar a sociedade sobre a importância da prevenção das Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), com ênfase especial naquelas causadas pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). Este vírus compromete o sistema imunológico, responsável pela defesa do organismo, resultando na síndrome da imunodeficiência humana, mais conhecida como AIDS.
Em 2022, conforme dados do Departamento de HIV/AIDS, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis (DATHI) do Ministério da Saúde, foram registradas 1.034 gestantes infectadas pelo HIV. Além disso, 4.873 crianças foram expostas ao vírus, sendo que 4.554 delas tinham menos de sete dias de vida, o que representa 93,8% do total de notificações.
A luta contra o HIV vai além das estatísticas. Organizações, como o Projeto Criança Aids (PCA), desempenham um papel vital no apoio a famílias que vivenciam o impacto do HIV/Aids, especialmente aquelas em situação de vulnerabilidade social. A presidente, Adriana Galvão Ferrazini, enfatiza a persistência dos desafios globais relacionados ao HIV/AIDS.
"A nossa ONG conta com uma equipe interdisciplinar dedicada, composta por assistentes sociais, psicólogos, pedagogos, psicopedagogos, uma farmacêutica e estagiários. Nossa casa é um espaço de pertencimento para essas pessoas, que enfrentam não apenas os desafios da doença, mas também a carga adicional do estigma. Nosso time acolhe, oferece suporte e acompanha o desenvolvimento dessas crianças e suas famílias. Não apenas na adesão ao tratamento com antirretrovirais, mas também no apoio e aceitação do diagnóstico, além de enfrentar a culpa que algumas mães carregam pela transmissão vertical da infecção aos filhos. Nosso compromisso vai além, ajudando, quando solicitado, na delicada revelação do diagnóstico para essas crianças e adolescentes", destaca Ferrazini.
Sinais de alerta para crianças
Infecto pediatra e médica colaboradora do PCA, Daniela Vinhas Bertolini destaca que a infecção pelo HIV pode ser assintomática ou apresentar manifestações inespecíficas, como perda de peso, dificuldade de ganhar peso, baixa estatura, infecções de repetição como sinusites, amigdalites, otites, pneumonias e diarreia. Outras possibilidades incluem aumento de gânglios, do fígado, baço, "sapinho" ou monilíase oral, febre sem motivo aparente, entre outras.
Transmissão pela amamentação
A transmissão do HIV pela amamentação é uma das formas de transmissão vertical. “A transmissão vertical pode acontecer em qualquer fase do aleitamento materno, no começo, no meio ou no fim, e em aleitamentos que são de curta ou de longa duração", diz Daniela. Mulheres com HIV recebem a orientação médica de que a amamentação pode acabar infectando o bebê, porém ainda há alguns casos de mulheres que acabam amamentando e transmitindo o vírus para a criança.
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Outro caso bem comum é o de mulheres que são infectadas durante o período em que estão amamentando, momento em que não são testadas e, assim, transmitem o vírus para seus filhos. “A mulher fica com a carga viral muito alta e a chance de transmissão pelo leite materno pode chegar até 40%”, pontua a infectopediatra. “Para essa prevenção, o ideal é que a mulher faça testes de rotina e saiba da sua situação de infecção antes mesmo de engravidar, podendo dessa forma ser tratada e engravidar bem estável do HIV. Se isso não for feito, ela deve fazer exames logo no início da gestação. Tendo esse diagnóstico de HIV, ela será tratada com antirretrovirais, ficará indetectável e somando a isso a não amamentação, a criança tem toda chance de nascer sem o vírus”, alerta Daniela.
Além disso, para evitar infecção por via sexual, especialmente entre adolescentes, há a estratégia de prevenção com medicação (chamadas PEP e Prep) que reduz a possibilidade de se tornar infectado a quase zero, devendo essa ser orientada em conjunto com o uso de preservativos e testagem regular. Investir em educação, em todos os níveis, incluindo temas de saúde sexual e reprodutiva e HIV, é sempre uma estratégia de prevenção.
Tratamento
“Toda pessoa que vive com HIV, crianças e adultos, é tratada com antirretrovirais o quanto antes possível após termos o diagnóstico. Temos opções de medicações antirretrovirais, nem todas possíveis para crianças, devendo ser usadas apenas aquelas liberadas por estudos científicos para as devidas faixas etárias. Além disso, alguns medicamentos existem em solução líquida, outros em grânulos para serem dissolvidos e outros apenas em comprimidos. Essa apresentação também deve ser ajustada à capacidade da criança de deglutir cada uma delas, o que é relacionado à idade. O médico infectopediatra é a melhor pessoa para definir qual esquema é o ideal para cada criança”, recomenda a infectologista.