Minas Gerais tem previsão de 78.100 novos casos da doença entre 2023 e 2025, o que representa mais de 234 mil ocorrências até 2025. A informação faz parte do estudo Estimativa 2023 – Incidência de Câncer no Brasil, do Instituto Nacional do Câncer (Inca). Nas mulheres, o tumor de mama deve ser o mais incidente, com 7.670 casos estimados de novos diagnósticos por ano, no estado, enquanto o câncer de próstata, nos homens, ficará em 7.970. Em todo o país, há uma estimativa de 704 mil detecções, anualmente, no triênio.



Para a oncologista clínica Nara Andrade, o que explica a alta incidência das duas neoplasias é o fato delas acometerem, principalmente, pacientes acima dos 50 anos. “Todos os homens de 100 anos que, por exemplo, se submeterem à biópsia terão câncer de próstata confirmado. Porém se a doença irá ou não se manifestar, é outra questão. Isso significa dizer que a enfermidade estará presente apenas por conta da idade, o que é um fator de risco impossível de ser modificado”, explica.

Esse cenário, conforme a médica, tende a se agravar, principalmente pelo fato de que nos próximos anos a população brasileira será majoritariamente idosa, o que aumenta o risco para a prevalência de neoplasias malignas. Prova disso é que o Censo 2022, divulgado recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontou que o número de pessoas 65+ no país alcançou a marca de 31,2 milhões, o que corresponde a 14,7% dos brasileiros. O aumento foi de 39,8% no período de 2012 a 2021.

Ainda de acordo com a especialista, que faz parte da equipe da Cetus Oncologia, clínica especializada em tratamentos oncológicos com unidades em Belo Horizonte e região metropolitana, quando se fala em cânceres de modo geral, não há uma conduta de prevenção universal. “Cada um demandará um tipo de cuidado diferente. Ao analisarmos os mais comuns, como o de pele, é importante citar como formas de prevenção a diminuição da exposição solar e uso de protetor. Já o tabagismo está atrelado aos cânceres de pulmão, estômago e próstata.” Outro fator a ser levado em conta, conforme Nara, é a questão familiar/hereditária, presente no aumento da incidência dos tumores.

Ela também destaca as constantes novidades descobertas pela ciência que sempre demandam atenção. “Estudo apresentado no final de outubro, no congresso da ESMO (European Society for Medical Oncology), em Madri, na Espanha, do qual tive a oportunidade de participar, aponta que a poluição do ar pode aumentar o risco de câncer de mama”. Segundo a pesquisa, a mulher que passa o dia a dia em ambientes com mais de 10 microgramas de partículas finas de material sólido ou até mesmo líquido, por metro cúbico de ar, corre um risco 28% maior de ter um tumor maligno na região do que aquela que vive em locais com metade dessa concentração na atmosfera ou até menos. “Essa é a primeira vez que a poluição, antes associada ao aumento dos casos de tumores nos pulmões, passa a ser uma possível causa da doença nas mamas”, pontua Nara.

Evolução dos tratamentos e desafios

Nara Andrade destaca que, de maneira geral, os tratamentos para os tumores de próstata, mama e pulmões, muito recorrentes na população, têm evoluído bastante. “O câncer de pulmão é, de longe, o que mais evoluiu. Atualmente é possível extirpar uma lesão no órgão capaz de sofrer mutações que venham causar a doença. Além disso temos medicações capazes de tratar essas mutações, o que até então não existia.”

Andrade também enfatiza que recentemente foram descobertas novas formas de tratamento com quimioterapia que consistem em conjugados anticorpo-droga (ADCs), capazes de combinarem proteínas protetoras à uma droga que mata o câncer. Desenvolvidas por cientistas do Instituto Hebert Wertheim UF Scripps para a Inovação e Tecnologia Biomédica, nos Estados Unidos, a nova e potente terapia é direcionada para vários tipos de câncer, em especial, o de mama. “Essa quimioterapia funciona como um Cavalo de Troia, carrega o medicamento e o entrega diretamente na célula cancerosa, ou seja, no alvo a ser tratado. Estamos diante de uma mudança considerável em relação aos cenários antigos, em que a medicação é injetada na veia e atinge todos os lugares do corpo”.

Entretanto, segundo a oncologista clínica da Cetus, um dos maiores desafios é viabilizar os tratamentos modernos àqueles que dependem do serviço público de saúde. “Todas as novidades descobertas hoje pela ciência, infelizmente demoram anos para chegar ao SUS, o que poderia impactar na preservação de muitas vidas. Nesse sentido ainda é tarefa árdua colocar os pacientes da esfera pública em condições de igualdade com quem pode usufruir de sistemas particulares”, desabafa.

Outro entrave, conforme a profissional, é fazer com que as informações sobre a doença cheguem a todas as pessoas. “Muitas estão imersas em um sistema no qual sequer sabem o básico acerca da enfermidade. Logo como saberão sobre o que é atual ou o que melhorou em termos de tratamentos?”, indaga. Essa dificuldade ou negligência quanto ao acesso à informação, de acordo com Nara, ainda perpassa pelo estigma sobre à doença. “Grande parte da população ainda associa o câncer a uma sentença de morte. Esse preconceito e omissão dificulta até mesmo a prevenção e diagnóstico precoce”.

Por fim, a médica destaca a importância de as pessoas inserirem o rastreamento nas rotinas de exames, pois, segundo ela, quanto mais cedo a descoberta de um tumor, maiores são as chances de cura. “Ainda temos muito o que aprender sobre o câncer, uma doença que, apesar de todos os avanços da ciência, continua surpreendendo a comunidade médica. Mas o melhor caminho continua sendo a prevenção. É preciso eliminar o medo de ir ao médico e acabar com a cultura de ‘não vou procurar doença senão acabo encontrando’. O ideal é investigar sempre, com frequência e buscar ajuda especializada antes dos sintomas aparecerem. Caso o paciente tenha histórico familiar da neoplasia, essa busca deve ser ainda mais precoce.”

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