Uma série de estudos conduzidos por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) ao longo dos últimos quatro anos buscou entender quais são os efeitos do tabagismo no sistema musculoesquelético e nos ossos. Segundo as pesquisas, o cigarro modifica o metabolismo das células ósseas e a exposição ao fumo acelera a morte das células responsáveis pela produção da matriz - rica em colágeno do tipo 1 e responsável por dar resistência aos ossos.


O estudo foi inicialmente realizado em camundongos e posteriormente confirmada em estudo clínico com pacientes submetidos à cirurgia de quadril. Nela ficou claro que o cigarro ativa os osteoclastos, células responsáveis pela desintegração do tecido ósseo, enquanto as células produtoras de colágeno tipo 1 tornam-se menos ativas.



Ainda, de acordo com o documento, o processo inflamatório causado pela exposição à fumaça do cigarro também contribui para as mudanças estruturais em seu tecido ósseo e, mesmo em ex-fumantes, parte dos danos permanece. Sendo que há uma recuperação do volume do osso, mas com qualidade inferior. Além disso, estudos em andamento indicam que o tabagismo também causa danos às cartilagens das articulações, aumentando a morte das células responsáveis pelo colágeno tipo 2.


Segundo o ortopedista especialista em coluna vertebral e diretor do Núcleo de Ortopedia e Traumatologia (NOT), Daniel Oliveira, estudos como esse ajudam a compreender melhor como o tabagismo afeta a saúde em níveis mais profundos, indo além dos efeitos já conhecidos.


“Isso é crucial para conscientizar o público sobre os riscos associados a esse comportamento, que vai muito além do pulmão, bem como ajudar no desenvolvimento de intervenções e tratamentos mais eficazes, seja através de estratégias preventivas ou o estudo de novas terapias específicas para mitigar os danos causados pelo cigarro.”


Além disso, Daniel afirma que estudos como esse contribuem para a base de conhecimento científico, abrindo caminho para pesquisas futuras. “Novas perguntas e hipóteses podem surgir a partir dessas descobertas, levando a avanços contínuos na compreensão da relação entre o tabagismo e a saúde óssea”, comenta.

Ossos e cigarro

O cigarro é conhecido por causar uma série de danos à saúde. Em relação aos ossos, os prejuízos se dão devido à diminuição da densidade mineral óssea, aumentando assim o risco de osteoporose; à cicatrização mais lenta de fraturas ósseas, já que o tabaco compromete o suprimento sanguíneo para os tecidos; bem como ao aumento do risco de artrite, uma inflamação crônica associada que danifica as articulações e, indiretamente, impacta a saúde óssea.


“Ele interfere nos níveis hormonais, incluindo a diminuição de estrogênio em mulheres. Isso é relevante, pois esse hormônio desempenha um papel importante na manutenção da saúde óssea.”

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Outro ponto destacado pelo ortopedista é que o tabaco faz com que pacientes possam ter uma taxa mais alta de complicações após cirurgias, já que a cicatrização e a resposta inflamatória podem estar alteradas devido a esse hábito. Além disso, o hábito pode aumentar o risco e agravar sintomas associados à hérnia de disco, o qual ocorre quando o material gelatinoso dentro do disco intervertebral se projeta para fora, pressionando os nervos espinhais e causando dor.


“Vale ressaltar que a relação entre o cigarro e a hérnia de disco é complexa, já que outros fatores, como genética, idade, atividade física e postura, também desempenham um papel significativo no desenvolvimento dessa condição. Parar de fumar pode trazer benefícios para a saúde em geral, incluindo a redução do risco de problemas na coluna vertebral. Caso o paciente esteja lidando com qualquer tipo de dor nas costas, é aconselhável consultar um profissional especialista na área para uma avaliação adequada.”

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