Estudos têm demonstrado efeitos benéficos em pessoas com doença de Parkinson treinadas com exergames (videogames que exigem esforço físico). No entanto, nenhum deles avaliou se esses efeitos são sustentados por alterações neurofuncionais.
Pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB), em parceria com a Universidade de Palermo, na Itália, buscaram avaliar os efeitos neurofuncionais desse treinamento, por meio de ressonância magnética funcional. Os participantes foram submetidos a uma avaliação incluindo desempenho cognitivo e ressonância magnética funcional antes e depois dos treinamentos com WiiTM ou controle.
Os treinamentos foram aplicados durante 10 dias, em duas semanas consecutivas. Os participantes que começaram com o treinamento WiiTM foram então transferidos para o treinamento de controle e vice-versa. Foi respeitado um período de 45 dias entre os treinamentos.
Resultados
Foi constatado que a memória, as funções executivas e visuoespaciais, e a atenção melhoraram significativamente em comparação com o valor basal (p < 0,05). Não foram observadas diferenças na cognição em comparação com o treinamento de controle.
Embora não sejam significativos, os resultados das análises de ressonância magnética funcional sugeriram que o treinamento com WiiTM poderia promover melhorias na conectividade funcional do cérebro, especialmente em áreas envolvidas na execução motora, planejamento, funções visuais, de memória e somatossensoriais.
A conclusão é que, em pessoas com doença de Parkinson, um treino intensivo com WiiTM melhorou o desempenho cognitivo que sublinhou alterações neurofuncionais em áreas envolvidas no processamento cognitivo.
Sobre o Parkinson
Segundo Simone de Paula Pessoa Lima, geriatra da Saúde no Lar, o Parkinson é uma doença neurodegenerativa crônica que afeta o sistema nervoso central, especialmente nas áreas do cérebro responsáveis pelo controle do movimento. “É causada pela degeneração de células nervosas no cérebro que produzem dopamina, um neurotransmissor essencial para o controle do movimento.”
Entre os principais sintomas a especialista cita a rigidez muscular, lentidão nos movimentos e os tremores que, em conjunto, geram instabilidade postural. “À medida que a doença progride, os pacientes podem enfrentar dificuldades crescentes na execução de tarefas motoras do dia a dia. Além deles, podem experimentar alterações no humor, distúrbios do sono e dificuldades cognitivas, esta última já em fases mais avançadas.
A causa exata dessa degeneração ainda não é totalmente compreendida e, portanto, não há cura para a doença. No entanto, existem tratamentos que visam aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes, incluindo medicamentos, fisioterapia e, em alguns casos específicos, cirurgia. O tratamento varia de acordo com a gravidade dos sintomas e a resposta individual do paciente.
Para Simone, estudos como o mencionado, que investigam os benefícios do uso de videogames na reabilitação de pessoas com Parkinson, são interessantes por diversas razões, tais como poder introduzir novas abordagens e tecnologias, oferecendo alternativas para complementar ou aprimorar os métodos convencionais.
“Elas contribuem para a base de evidências científicas, auxiliam na formulação de protocolos de tratamento mais eficazes e estimulam a realização de mais pesquisas clínicas em áreas relacionadas à reabilitação desses pacientes.”