Cada vez mais, pacientes passam por procedimentos de lipoaspiração ou retiradas minimamente invasivas de gordura buscam reaproveitar a gordura com novos fins, que vão do rejuvenescimento facial e aumento de músculos ao tratamento de dores. “Como a gordura é do próprio paciente, a técnica é biocompatível e não há os riscos de rejeição”, afirma Paolo Rubez, cirurgião plástico formado pela Unifesp e membro da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (Isaps). “O primeiro passo é retirar a gordura de outra região, que pode ser dos culotes, partes internas ou externas das coxas, costas ou abdômen — sendo que esta última área é a mais comum. No geral, o procedimento é feito através de uma cânula que fará a lipoaspiração do material, levando-o para um recipiente separado. Nele, o médico eliminará partes desnecessárias para que a gordura fique limpa e pronta para ser enxertada no local desejado”, afirma o médico.
Abaixo, o cirurgião plástico explica como funcionam os tratamentos com enxerto de gordura:
Rejuvenescimento facial – Utilizar a gordura do próprio corpo para rejuvenescer a pele é uma tendência entre os procedimentos estéticos. “Mesmo sabendo que cerca de 50% do material enxertado pode ser absorvido pelo organismo, a quantidade restante é repleta de células-tronco capazes de melhorar a qualidade e o aspecto da pele”, afirma o cirurgião plástico.
Além do tratamento de lipoenxertia convencional, uma novidade é o procedimento minimamente invasivo Lipocube, que acaba de chegar ao Brasil e exclui a necessidade de lipoaspiração, segundo o dermatologista Renato Soriani, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). “Além de serem utilizadas em procedimentos de lipoenxertia para preenchimento facial, as células de gordura retiradas do organismo, agora, também são capazes de conferir efeito bioestimulador, biorregenerador e rejuvenescedor graças a um equipamento inovador conhecido como lipocube. Ele é um pequeno cubo que permite que a gordura, que é coletada no próprio consultório sob efeito de anestesia local, seja transformada em um material rico em células-tronco e fatores de crescimento com propriedades rejuvenescedoras e regeneradoras da pele e tecidos”, destaca o dermatologista. “Ele também nos permite realizar um rejuvenescimento global da face, tratando todos os fatores envolvidos no processo do envelhecimento do rosto, da reabsorção óssea e dos compartimentos de gordura até a perda da qualidade da pele”.
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Aumento de músculos – Nesse caso, o procedimento é chamado lipoaspiração UGraft e consegue melhorar a definição muscular do abdômen. “A transferência de gordura guiada por ultrassom (UGraft) é feita em conjunto com a lipoaspiração. Em suma, é um procedimento para retirada de gordura localizada de um local e a sua transferência para o tecido muscular. Com isso, há uma hipertrofia (aumento) natural desse músculo, redesenhando o abdômen para um porte mais atlético”, explica o cirurgião plástico Daniel Botelho, presidente da Associação Brasileira de Cirurgia Plástica (BAPS).
Segundo Daniel Botelho, o procedimento deve ser feito em ambiente hospitalar e, durante a cirurgia, no centro cirúrgico, um aparelho de ultrassom é usado para identificar o grupo muscular (normalmente no reto abdominal) que se quer realçar: “Depois da lipoaspiração, é realizado o enxerto de gordura, que é rica em células-tronco, de forma que conseguimos uma hipertrofia daquela região, transformando a gordura em músculo”, diz o presidente da associação. O procedimento também pode ser feito nos músculos deltoides (ombro), peitorais, bíceps e tríceps.
Enxaqueca – Vários benefícios dos tratamentos com enxerto de gordura já foram publicados – e muitos deles para a dor. “Muitos estudos respaldam que os sintomas da enxaqueca foram reduzidos com sucesso na maioria dos casos com injeção de gordura. Diferentes moléculas secretadas por células-tronco do tecido adiposo apresentam um efeito anti-inflamatório, melhorando a regeneração dos nervos, levando ao sucesso do resultado clínico. A dor foi melhorada em sete de nove pacientes no seguimento de três meses, segundo estudos”, diz Paolo Rubez.
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O cirurgião destaca que a lipoenxertia tem se mostrado minimamente invasiva com poucos riscos, de fácil execução, além de um procedimento seguro, tolerável e eficaz na redução ou eliminação completa da neuropatia persistente: “Esta técnica demonstrou melhora significativa de sintomas, permitindo uma melhora importante da qualidade de vida com menos efeitos colaterais de drogas”.
Dor neuropática – A dor neuropática (dor em nervos periféricos), juntamente com as dores de cabeça e enxaqueca, são alguns dos tipos mais graves de dor crônica. Com a epidemia do uso de analgésicos opióides (que podem causar vários efeitos colaterais) e a busca de formas de evitar narcóticos (medicamentos que adormecem ou eliminam a sensibilidade), os médicos estão buscando outras modalidades para o tratamento da dor neuropática, como a lipoenxertia (enxerto de gordura). De acordo com o médico Paolo Rubez, o mecanismo preciso do papel da lipoenxertia na modulação da dor neuropática ainda não está claro.
“A teoria mais aceita é de que há uma redução dos níveis de dor através dos efeitos anti-inflamatórios e de regeneração tecidual das células-tronco derivadas do tecido adiposo”, diz o médico. “O fator de crescimento das células adiposas e a secreção de mensageiros celulares por células-tronco derivadas do tecido adiposo promovem a angiogênese (formação de novos vasos) e isso melhora a inflamação, além de estimular o reparo de nervos danificados”, acrescenta Paolo.
Paolo Rubez destaca que a lipoenxertia tem se mostrado minimamente invasiva com poucos riscos, de fácil execução, além de um procedimento seguro, tolerável e eficaz no tratamento do envelhecimento da pele, da redução ou eliminação completa da neuropatia persistente e da enxaqueca: “Esta técnica demonstrou melhora significativa de sintomas, permitindo uma melhora importante da qualidade de vida com menos efeitos colaterais de drogas”, explica o médico. “Mas sempre procure um médico”, diz Paolo Rubez.