Para psicóloga, etarismo não existe - é preciso viver cada fase com intensidade -  (crédito: Freepik)

Para psicóloga, etarismo não existe - é preciso viver cada fase com intensidade

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Você tem medo de envelhecer? Se a resposta é sim, você faz parte dos 90% da população brasileira que também apresenta este estado emocional, como aponta um estudo encomendado pela Pfizer. Batizado de gerascofobia, o quadro evidencia sinais e sintomas de um transtorno de ansiedade extrema.

Pode-se compreender que o jovem passou a ser enaltecido no fim do século 18, com a Revolução Industrial, em um momento em que os corpos velhos eram descartados por não terem tanta agilidade e maior capacidade de produção. A partir daí, o medo de envelhecer e não ser mais útil se tornou real e foi potencializado com o surgimento das redes sociais. O belo está relacionado ao novo e todo mundo quer parecer bonito nas fotos. Não à toa, a dependência dos filtros que melhoram a pele e a aparência atinge cerca de 84% dos usuários, de acordo com levantamento feito pela empresa Edelman Data & Intelligence, em 2020.

Nadando contra a maré, a psicóloga Neide Magalhães, de 79 anos, resolveu colocar no papel seu estudo sobre longevidade. Dedicou anos de pesquisas na área de psicologia do desenvolvimento humano e envelhecimento saudável, até chegar à conclusão de que é preciso viver a velhice.

“Eu sempre fui fora do meu tempo e acreditei que temos que ser livres, responsáveis por nós mesmos. Não temos que ter preconceito, ideias formadas sobre alguma coisa. Para mim, etarismo não existe, pois temos que ser nossa melhor versão sempre e viver cada fase com intensidade. Vamos viver a velhice, ela é linda e libertadora. Envelhecer é ter gratidão pela vida”, comenta a psicóloga, que lança o livro O fascínio da longevidade, ainda em janeiro.

Foi no início do século 21 que o aumento da expectativa de vida despontou como um dos maiores desafios do terceiro milênio para o mundo. Em decorrência do declínio acentuado e sistemático da fecundidade, as famílias extensas começaram a dar lugar aos pequenos núcleos familiares, ao mesmo tempo em que aumentava a longevidade.

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“Eu queria entender como as mudanças ocorridas nas últimas décadas do século 20 foram fundamentais para o aumento da expectativa de vida no mundo inteiro e seus reflexos já alcançavam o Brasil, principalmente entre aqueles que viviam no espaço urbano. Por meio da minha paixão pelo ensino e pesquisa conheci outros longevos. Vivi entre eles, fui professora de psicologia e trabalhei no programa de educação continuada da Universidade Federal de Juiz de Fora. Aprendi com muitos deles que existiam outras visões de mundo, muito diferentes daquelas de nossos avós”, comenta.

Envelhecer não é uma experiência igual para todos. A longevidade tem como referência processos biológicos que são universais, além de questões que, nas sociedades atuais, passaram a ser pensadas como problemas sociais. Ela é marcada por características bem diversas.

“Para muitos da geração de cabelos brancos, da qual faço parte, o envelhecimento passou a ser um período de realizações individuais e sociais. À medida em que envelhecemos, desconhecemos nossos limites e potencialidades, e acabamos criando o mito de que velho é sempre o outro, passando a ser algo que não se realiza para a maioria das pessoas. Desse modo, sem assumirmos nossa senectude, não podemos pensá-la. Nem sequer representá-la em sua totalidade”, esclarece a especialista.

Neide Magalhães pontua cinco aspectos essenciais da longevidade:

Seja positivo: é preciso encarar a vida com bom humor e trazer sempre alguma coisa que seja positiva.

Encontre um propósito: traçar metas, se envolver em projetos, ter algum propósito para seguir - isso nos mantém ativos.

Preste atenção na saúde mental: você cuida da sua mente? Uma simples conversa pode ajudar a dar sentido para a sua vida. Uma dica é continuar socializando com gente da sua idade e de outras gerações. Se preciso, procure grupos de apoio. “A conversa é o que dá sentido à existência”, pontua Neide Magalhães.

Mantenha-se em movimento: faça atividades que você goste, seja ativo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda 150 minutos de atividade física moderada por semana para adultos. Portanto, mexa-se.

Tenha hábitos saudáveis: além de manter o corpo e a mente em movimento, não podemos esquecer de outros fatores essenciais para a nossa existência, como uma alimentação balanceada e ter o sono em dia.