No próximo dia 4 de fevereiro, data dedicada à luta mundial contra o câncer, um importante alerta: o número de casos da doença entre pessoas com menos de 50 anos aumentou 79% nas últimas três décadas. Isso é o que revela um estudo publicado na revista científica "BMJ Oncology". O trabalho, executado por pesquisadores da Universidade de Edimburgo, no Reino Unido, e da Universidade de Zhejiang, na China, analisou dados de 29 tipos de tumores em 204 países e regiões, incluindo o Brasil. De acordo com as informações, em 2019 foram registrados um total de 3,26 milhões de novos diagnósticos em pessoas com menos de 50 anos. Já em 1990, essa taxa estava próxima de 1,8 milhão de casos. E as mortes também aumentaram. Mais de 1 milhão de óbitos em 2019, um crescimento de quase 28% em relação a 1990.
Para o oncologista clínico Charles Pádua, vários fatores podem explicar esse aumento, entre eles o fato de o câncer ser causado por várias condições externas e também questões hereditárias. “O mundo mudou muito nas últimas três décadas, em especial com avanços em tecnologia, o que nos permite diagnósticos precoces e tratamentos modernos. Por outro lado, vimos também um crescente uso de substâncias de toda natureza, como conservantes e fertilizantes, mudanças de hábitos alimentares, com o alto consumo de alimentos industrializados, além dos fast-foods. Isso sem falar do aumento dos índices de obesidade e sedentarismo nas populações, que predispõe as pessoas a doenças neoplásicas”.
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Ainda segundo Pádua, que pertence à equipe médica da Cetus Oncologia, clínica especializada em tratamentos oncológicos com unidades em Belo Horizonte, Betim e Contagem, os gargalos dos serviços públicos de saúde no que se refere à oferta de prevenção e diagnóstico precoce dos mais variados tipos de tumor, pode ser outro fator relacionado ao aumento da mortalidade, principalmente no Brasil. “Dados de atendimento dos Serviços de Oncologia de todo o país demonstram que a assistência oncológica pode variar muito, apresentando demora para início de tratamento em alguns estados do Nordeste, o que influencia no prognóstico do paciente”, pontua acrescentando que a existência de cânceres mais agressivos e raros, difíceis de apresentarem tratamentos efetivos, ainda são um desafio para a comunidade médica. “Porém, o maior entrave continua sendo os diagnósticos de casos avançados, pois na maioria das vezes a cura fica limitada”, completa.
Recados importantes
Diante de um cenário de aumento dos casos de câncer, o oncologista da Cetus afirma ser fundamental que governos e instituições públicas e privadas estimulem a prevenção primária, que, segundo ele, perpassa necessariamente por bons hábitos de vida. “Prática de atividade física, alimentação saudável, não fumar e não ingerir bebidas alcoólicas em excesso são boas condutas que nos protegem não só dos tumores malignos como também de várias outras doenças. Além disso, é importante conhecermos o nosso corpo e assim termos condições de buscar informações que ajudem a esclarecer possíveis neoplasias”, reforça.
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Quanto aos exames rastreadores, o médico ressalta que nem todos os cânceres podem ser identificados através desses métodos. “Sabemos, por exemplo, que a mamografia é uma avaliação já consolidada e que ajuda no diagnóstico precoce de nódulos na mama, mas o mesmo não se aplica a outras neoplasias. Caminhamos com muita pesquisa neste campo e buscando, cada vez mais, exames que possam nos ajudar a melhorar a detecção precoce”.