No final de semana, a modelo Yasmin Brunet, participante de atual edição do Big Brother Brasil, afirmou durante uma conversa com os brothers da casa que tem lipedema e precisará fazer cirurgia. E a influenciadora não está sozinha: apesar de ainda ser pouco conhecido, o lipedema afeta aproximadamente 10% da população feminina. Segundo a cirurgiã vascular, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, Aline Lamaita, essa é uma condição caracterizada pelo acúmulo de tecido gorduroso com aumento desproporcional no tamanho dos membros, principalmente em áreas como coxas, culotes e quadris e pernas.
“Apesar de ter sido padronizado como doença em 2022, o lipedema, ainda hoje, é um problema pouco conhecido pela população e até mesmo pelos médicos, o que atrapalha o diagnóstico e tratamento. Frequentemente, a paciente com lipedema passa a vida como uma falsa magra, isto é, magra da cintura para cima, mas com pernas grossas. Muitas vezes, acredita que esse é o padrão de corpo familiar, já que o lipedema realmente pode afetar várias mulheres da família, então não pensa que pode ser um problema. E, como até pouco tempo o lipedema não era considerado uma doença, a literatura científica sobre seus mecanismos ainda é muita escassa. Dessa forma, a própria comunidade médica ainda está tomando consciência sobre a doença e se capacitando para o tratamento”, explica a médica. Essa falta de conscientização sobre a doença e a confusão com outros problemas, como a obesidade e a celulite, atrasa o diagnóstico e o tratamento com consequente evolução no quadro. Mas alguns sinais podem ajudar e identificar a presença de lipedema, como:
Acúmulo de gordura desproporcional: o lipedema é uma doença caracterizada pelo acúmulo de tecido gorduroso com aumento desproporcional no tamanho dos membros. “A doença afeta principalmente áreas como coxas, culotes, quadris e pernas, mas, eventualmente, pode atingir também os braços, porém, com menos frequência. Além disso, o lipedema é sempre simétrico”, diz a médica, que ressalta que pessoas com sobrepeso devem ficar especialmente atentas ao lipedema, visto que pode ser difícil notar o aumento do tamanho dos membros inferiores.
Gordura difícil de ser eliminada: é muito comum que o lipedema seja confundido com a obesidade, o que causa frustração nas pacientes quando as estratégias comumente empregadas nesses casos não funcionam. “O grande problema é que a gordura do lipedema é doente, e frequentemente, não reduz somente com hábitos básicos como dietas e prática de atividade física. Esse deve ser outro sinal de alerta para buscar ajuda profissional”, aconselha.
Dor ao toque: a dor ao toque é um dos principais sinais do lipedema. “Não é incomum que a portadora de lipedema estranhe ao se submeter a uma drenagem linfática ou massagem relaxante, já que experiência, que deveria ser agradável, geralmente é acompanhada de dor e sensibilidade ao toque”, afirma a especialista, que ainda destaca aumento da frequência de hematomas espontâneos e maior tendência ao acúmulo de líquido como outros sintomas da doença.
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Presença de nódulos: o lipedema pode causar nódulos visíveis na pele, conferindo à região afetada um aspecto semelhante à celulite. “Fique atenta também à evolução desses nódulos: se eles crescerem, o tamanho das pernas aumentar e a pele começar a dobrar, como se fosse flácida, provavelmente trata-se de lipedema”, detalha a especialista.
Fatores de risco: caso você apresente algum dos fatores de risco da doença, é importante redobrar a atenção aos sinais do lipedema. “O lipedema é um problema que afeta essencialmente o público feminino. Estima-se que 10% das mulheres sofra com o problema. Além disso, é uma doença genética e comumente atinge várias pessoas da mesma família”, diz a médica, que ainda afirma que existe uma forte correlação entre distúrbios hormonais e o avanço da doença. “Por isso, observamos picos de piora e manifestação da doença em períodos hormonais: puberdade, uso de anticoncepcionais, gestação e menopausa.”
Ao notar esses sinais, o mais importante é buscar auxílio médico, pois, apesar de ser uma doença crônica, isto é, sem cura, o lipedema pode ser controlado quando devidamente abordado. Mas, ao contrário do que muitos pensam, o tratamento do lipedema não se restringe a realização da cirurgia de lipoaspiração.
“A imagem da lipoaspiração como grande solução para o lipedema é uma ideia simplista. Não basta apenas retirar essa gordura, pois não se trata simplesmente de um acúmulo de gordura qualquer. O lipedema é uma doença sistêmica, então somente fazer uma lipoaspiração não resolve”, diz Aline, que explica que a lipoaspiração realmente faz parte dos pilares de tratamento contra o lipedema, mas não é necessária e nem indicada em todos os casos e sempre deve ser acompanhada do tratamento clínico.
“Em casos mais iniciais, somente o tratamento clínico pode ser suficiente para controlar a doença. Quando isso não acontece, a lipoaspiração pode ser indicada, assim como nos casos mais graves da doença, em que há limitação do movimento”, diz a médica, que afirma que, caso a lipoaspiração seja indicada incorretamente e não seja associada, antes e depois, ao tratamento clínico, a gordura retornará após algum tempo.
Aline destaca que um bom tratamento de lipedema começa pelo cirurgião vascular, mas o acompanhamento com endocrinologista, nutricionista, fisioterapeuta e, eventualmente, ortopedistas e cirurgiões plásticos também é fundamental. “Mudanças no estilo de vida com adoção de uma alimentação anti-inflamatória e prática regular de atividade física são estratégias importantes para controlar a evolução do lipedema. Mas outras medidas devem ser adotadas, como uso de meias de compressão e medicamentos e realização de sessões de fisioterapias, tratamentos vasculares e até lipoaspiração para retirada do tecido doente."